segunda-feira, 17 de junho de 2019

PETRÓLEO EM ABUNDÂNCIA NO QUINTAL DA MINHA CASINHOLA

Por José Mendes Pereira

Se for ser humano com certeza sonhará quando está dormindo. E dizem que até os animais sonham. E eu acho que é mais do que verdade, porque eu já vi cachorros dormindo, e enquanto dormiam, ficavam grunhindo  como se eles estivessem sonhando que estavam participando de uma grande farra de cachorrada.

Quando nós sonhamos com fatos tristes fazemos de tudo para acordarmos, mas quando nós sonhamos com fatos bons, é uma maravilha sonhar e não importa a hora que iremos acordar, e queremos que os fatos do sonho sejam de verdade mesmo. 

Eu tive um sonho que me deixou bastante feliz durante o tempo que eu sonhava, só em saber que no sonho as minhas dificuldades financeiras iriam embora de uma vez por toda, e nunca mais eu passaria por dificuldades.

Aqui em Mossoró, nas terras de Santa Luzia no Estado do  Rio Grande do Norte, petróleo é o verdadeiro "ouro negro", e quem tem em sua propriedade um poço produtor deste precioso líquido, vive muito bem. Imagina você, quem tem dois poços, três, quatro ou até mesmo vinte ou mais, como têm muitos proprietários de terras aqui que enricaram mais ainda, depois que as suas terras deram início a uma espécie de vômito petrolífera em abundância.

Não faz muitos anos que isso aconteceu comigo porque na casa em que resido hoje, apenas se passaram 15 anos que eu trouxe os meus poucos pertences para nela guardá-los, mas no bairro Costa e Silva, na comunidade "Teimosos", no grande Alto de São Manoel em Mossoró, estou há mais de 30 anos, desde quando eu me estabeleci com uma serralharia. Mas antes eu morava em frente à Cohab. 

Alguns meses depois de residir aqui aconteceu um fato interessante, e que este muito me deixou feliz, e ponha felicidade nisso, porque fui premiado com petróleo no meu quintal.

Nessa noite, enquanto  eu dormia sonhei que eu tinha sido premiado com uma enxurrada de petróleo em meu quintal, e o certo foi que, no sonho eu vi tudo isso acontecendo. De repente, surgiu um som barulhento como se fosse pressionado por uma força que vinha do subsolo, e na verdade, era mesmo, um lençol do "ouro negro" tomou de conta de uma boa parte do terreno do meu quintal. O petróleo jorrava com muita força, e isto sem intervalo. Agora sim, eu podia dizer que, uma boa quantia em royalties pago pela petrobras eu iria receber mensalmente daquele poço, que acabara de nascer no pequeno terreno da minha casinhola.

Não sei quanto tempo durou o meu sonho e posteriormente  acordei por um som de verdade, algo derramando no quintal. Assustado e acreditando que o sonho tinha se tornado realidade levantei-me da rede e fui até a uma janela que fica para o quintal onde acontecia o exagero do "ouro negro", e, mesmo na escuridão da noite, percebi que o chão do ambiente  estava coberto por um material preto, e uma fumaça saía do meio daquilo  que cobria o terreno. Vi que aquela fumaça nada mais era do que a alta temperatura do dito "ouro negro".

No momento eu não fui até ao quintal porque não tinha como passar. A janela era protegida por um pega-ladrão, e mesmo assim, eu não podia passar para a rua, ainda era muito cedo da madrugada, e não era aconselhável eu abrir o portão da garagem. Quem sabe, se eu tivesse aberto o portão e de repente um ou dois bandidos aparecesse na minha frente?  Ali, fiquei aguardando que o dia clareasse para ver o que eu tinha ganhado naquela madrugada em meu quintal.

Durante toda minha vida eu nunca sonhei ter boas condições um dia, porque venho de família que, se um tirar uma muda de roupa o outro logo veste, porque é naquela velha história: Se Chico tirar uma muda de roupa do corpo, Mané veste. Mas nesta madrugada, mesmo acordado, eu via o que iria comprar com os meus royalties pago pela petrobras. 
Trocar o meu fusquinha 77, terminar a construção da minha casinhola, comprar roupas e calçados novos para eu me apresentar às minhas turmas estudantis. Pagar o que tivesse atrasado, apesar que eu não sou muito de me endividar, mas todos nós temos luz, água, emplacamento de carro... para pagarmos.

Lá pelas tantas o sol deu sinal que já estava chegando para vitaminar todos os viventes do planeta. Aos poucos, de fininho e lentamente os raios solares foram clareando tudo. Já que o sol  estava chegando abri o portão da frente da área, e apoderei-me da chave do portão da garagem e saí à rua. Em seguida, abri-o e aos poucos, mesmo ainda um pouco escuto, porque um poste que clareia a frente da minha cara estava com a luz queimada, fui pisando no lamaçal quente que havia coberto todo chão. 

Ali, não senti nenhum cheiro diferente, apenas eu sentia o calor do líquido em meus pés, e a fumaça tomava de conta de todo o solo. E assim que os raios do sol vieram pra mais perto da terra percebi que não se tratava de petróleo, e sim, uma porção de água misturada com pó de carvão dava impressão que era o "ouro negro. Confirmado o meu engano a minha mente caiu de vez, porque eu já havia planejado tudo, com a boa quantia  de dinheiro que a petrobras iria me pagar pela produção daquele inexistente poço de "ouro negro". Se ela paga aos outros, porque não iria pagar a mim?

Quando eu fiz a laje da minha casinhola fui informado que eu deveria colocar entre a placa e o concreto uma porção de carvão para isolar ecos na parte térreo. E assim eu fiz. Comprei 100 sacos de pó de carvão. Mas como eu não havia usado todos findei espalhando no meu quintal os que sobraram, e posteriormente mandei aterrar, porque o chão era acidentado. 

O certo foi que uma canalização não aguentou a elevada temperatura da água (em Mossoró a água que vem do subsolo para servir à população é quentíssima, chegando a fumaçar mesmo) findou estourando e passou uma boa parte da noite derramando água e fofando o terreno. Dessa forma, o pó do carvão que estava em baixo e bastante leve foi subindo e se misturando com a água formando um líquido preto. A água misturada com pó de carvão, e no meio da noite, quem via, com certeza iria dizer que era petróleo. 

Infelizmente, mais uma vez fui enganado, e desta vez enganado pela a água e pelo o carvão, que mesmo não tendo vidas, enganaram-me sem receio. 

Quem muito gostou disso que não deu certo foi o meu amado fusquinha 77 que não saiu do meu poder.


“Para você saber mais um pouco sobre a descoberta de petróleo em Mossoró escrito pelo jornalista e historiador Geraldo Maia clique neste link: - http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2012/01/o-ouro-negro-de-mossoro-16-de-janeiro.html

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segunda-feira, 10 de junho de 2019

UM DOS PRIMEIROS PARCEIROS DE LAMPIÃO

A efêmera vida de Meia-noite

Por Joel Reis


Antônio Augusto (Feitosa ou Correia)[1], conhecido como Bagaço, natural de Olho d’Água, município de Piranhas – AL (atual Olho d’Água do Casado – AL)[2], era filho de Zé Bagaço, no qual herdou o apelido.

Quando tinha de 11 para 12 anos de idade, sua mãe, já viúva, pediu-lhe que fosse buscar legumes na roça. No caminho de volta, um rapaz o perguntou:

- Donde tu vem fedelho?

O menino se zangou com tratamento e respondeu:

- O qui você qué sabê? É da sua conta?

O rapaz também se irritou e lhe deu umas tapas. Antônio Bagaço jurou vingança:

- Isso num vai ficá assim, você vai me pagá.

Ao chegar em casa se armou com uma espingarda lazarina e disse:

- Mãe, vô ali.

Saiu a procura do Rapaz, mas só o achou por volta das 19h em uma fazenda. Estava chovendo muito, aproximou-se sorrateiramente e atirou no rapaz. Certo que o tinha matado, fugiu e foi dormir em uma casa de farinha na Fazenda Olho d’Água, do coronel Zé Rodrigues. Pela manhã um vaqueiro o encontra deitado e todo molhado, o acorda e faz diversas perguntas, o menino acaba falando do ocorrido. O vaqueiro o leva até o Coronel e conta a história.

- Menino, vou te dar uma pisa.

Aperreado, o menino revidou:

- Coroné, pelo leite que o sinhô mamou, não dê n’eu. É mió me matá qui estou satisfeito.

Então, o coronel para saber se de fato ele tinha coragem, mandou o vaqueiro pegar uma enxada e uma pá, entregou os instrumentos para o menino:

- Toma, cave sua cova.

Quando o menino já havia cavado uns seis palmos de fundura:

- Está bom, agora se prepare prá morrer.
- Tô pronto prá morrê, coroné! Agora peço que diga a minha mãe que morri como um homi e não como covarde!
- Olha que infeliz, não vou te matar, não. Mas na próxima te mato.

Ao chegar em casa, avisou à sua mãe que ia embora para não ser preso. Sem demora, saiu pelo mundo... acabou chegando em Espírito Santo – PE (atual Inajá – PE)[3], onde foi acolhido pelo velho Terto Cordeiro (Tertulino Cordeiro - da família Marcos)[4]. Por volta de 1921, surgiram questões de intriga entre os Marcos e os Quirinos. Em vista disso, já com dezoito para dezenove anos de idade, os filhos de Antônio Quirino tentaram espancá-lo, na luta saiu ferido na cabeça. Depois disso, chegou em casa, disse ao velho Terto:


- Tio! (Não era, mas assim o chamava), vô m’imbora procurar os cangaceiros.


 Antônio Augusto vulgo 'Meia-Noite'

A princípio, Bagaço entrou no grupo de Antônio Porcino. Logo, conquistou notoriedade. Posteriormente, integrou-se ao grupo de Lampião, no qual foi denominado de Meia-Noite por ser de cor parda. O chefe cangaceiro nutria verdadeira admiração, em virtude que, Meia-Noite possuía extrema coragem, tendo triunfado ao seu lado em diversas ações[5].

Em agosto de 1924, Meia-Noite discutiu de maneira severa com os irmãos de Lampião; Vassoura (Livino) e Esperança (Antônio). Foram acusados de terem roubado seus Rs. 9:000$000 (9 contos de réis = 9.000 mil-réis)[6]. Lampião interveio na discussão, indenizando o valor que ele alegava ter sido subtraído por seus irmãos quando estava dormindo. Questão resolvida, o chefe cangaceiro o expulsa do bando e exige a entrega do armamento. Sem demora, Meia-Noite responde:

- Si no meio desta cabroêra tem homi, venha tomá.

Os cangaceiros presentes preferiram não tentar. Sem demora, Meia-Noite foi andando para trás com os olhos fixos nos velhos companheiros, em pouco tempo desaparece na caatinga.

No dia 18 de agosto de 1924[7], poucos dias do ocorrido, Meia-Noite foi visto atravessando o sítio Bandeira em direção ao sítio Tataíra[8], na companhia apenas de uma mulher[9]. Um olheiro avisou o coronel Zé Pereira (José Pereira Lima) que o famanaz cangaceiro se encontrava no sítio Tataíra. Com o comunicado, tratou imediatamente de organizar uma diligência, a fim de apanhar o bandoleiro.

Por volta das 21 horas, foi formado um grupo em Princesa – PB (atual Princesa Isabel – PB)[10], composto de quatro soldados da Força Pública e oito civis, marcharam 4 horas até o sítio Tataíra. Já era madrugada quando o cerco começa em duas casas, mas não o encontraram, batem na porta da terceira casa[11] (o bandoleiro estava em plena lua de mel):

- Quem é?
- É os meninos do coroné...
- Ah!... Eu não abro a minha porta prá descunhecidos... Zulmira não qué qui eu abra a porta. Ela tem medo...
- Venha dar um bocado d’água a gente...
- Num tem água, não.
- Que diabo de véia da fala fina...

Proferidas essas palavras, atento a conversa e com intuito de ganhar tempo para se equipar, o sicário enfurecido vocifera:

- Qui desaforo de seu Zé Pereira, mandá incomodá os homi essa hora, apôis vocês tão pegado cum Meia-Noite, nêgo nascido em meio de desgraça.

Sem demora, inicia o fogo contra a tropa... após uma hora de tiroteio e ofensas de ambas as partes, o cangaceiro brada:

- Canaias, o qui vocês quére, chega já. Cabra de barro num aguenta tempo.
- Vem aqui fóra, nêgo ladrão!
- Ladrão, é vocês, qui quére robá a roupa de minha muié, magote de peste!

Depois de algum tempo, o cangaceiro pede para o grupo cessar-fogo e que permitisse a saída de Zulmira, sua mulher, mas o pedido foi ignorado e o tiroteio se intensificou até amanhecer, apesar disso, o bandido volta a zombar:

- Rapaziada, vocês são de barro? Esse mangote de peste tá cum fome... Entre, venha tomá um cafezinho cum queijo de mantêga...
- O café qui nós qué é ti passá nas corda.

Em seguida, ouve-se uma voz cantada de dentro da casa sitiada:
"Si quizé sabê meu nome
Faça favô preguntá
Eu me chamo é Meia-Noite
Canário de bom lugá
Eu sou um carnêro fino
Do colo de minha Iaiá!
É Lampe, é Lampe, é Lampe
O Virgolino é Lampeão
É o dedo amolegando
Embolano pelo chão!”

No alvorecer, próximo ao local do tiroteio, as Forças comandadas pelo Tenente Manoel Benício, Tenente Francisco de Oliveira e o Sargento Clementino Furtado (Quelé) foram alertadas. Logo, reuniram o efetivo de 84 homens e rumaram para o campo de luta. Ao ouvir o clangor da corneta, berra furioso:

- Sustenta a ispingarda, canaias pôde, qui nêgo vai simbora.

Debaixo de uma saraivada de balas feriu alguns homens e também foi ferido[12], ainda assim, conseguiu escapar. A Força seguiu o rastro de sangue, porém o perdeu de vista.

Passaram-se seis dias, o Comissário de Polícia de Patos, Manoel Lopes Diniz e quatro companheiros encontraram Meia-Noite gravemente ferido. Mesmo assim, resistiu à prisão, disparando dois tiros de parabellum contra o grupo que, rapidamente revidou, e acabou matando o temido bandoleiro no auge dos seus 22 anos.


NOTAS:

[1] Nomes - Antônio Augusto Feitosa (ALMEIDA, 1926); Antônio Augusto Correia (MELLO, 2013); José Tiago (LIRA, 1990).
[2] Olho d’Água - povoado, subordinado ao município de Piranhas, posteriormente Distrito de Olho d’Água do Casado, pela Lei Estadual nº 1473, de 17 de setembro de 1949.
[3] Espírito Santo - atual Inajá – PE.
[4] Terto Cordeiro - Tertulino Cordeiro era da família Marcos.
[5] Diversas ações - As mais importantes foram: O assalto a residência de Joana Vieira de Siqueira Torres, a Baronesa de Água Branca (26.06.1922) e  o ataque à cidade de Sousa - PB (27.07.1924).
[6] Rs 9:000$000 (9 contos de réis ou 9.000 mil-réis) = 9.000.000 (9 milhões de réis) - Conversão para Real = R$ 250.000 (Duzentos e cinquenta mil reais).
[7] Érico Almeida (1926), afirma que foi no final do mês de setembro de 1924.
[8] Sítio Tataíra - nos limites do município de Princesa – PB com o de Triunfo – PE. (ALMEIDA, 1926).
[9] Mulher -  Alexandrina Vieira (Zumira). (DANTAS, 2018).
[10] Princesa – PB - atual Princesa Isabel - PB.
[11] Casa - Alguns autores/pesquisadores afirmam que era uma casa de farinha, outros que era uma casa velha.
[12] Ferido - em uma das pernas.

FONTES:

ALMEIDA, Érico de. Lampião: sua história. João Pessoa: Editora Universitária, 1996. [Fac-similar à edição de1926].

DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. Lampião na Paraíba: notas para a história. Natal – RN: Polyprint, 2018.

LIRA, João Gomes de. Lampião: memórias de um soldado de volante. Recife: FUNDARPE, 1990.

MACIEL, Frederico Bezerra. Lampião, seu tempo e seu reinado: II. A guerra de gerrilhas (fase de vinditas). Petrópolis - RJ: Vozes, 1985.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do Sol: violência e banditismo no nordeste do Brasil. 5. ed. São Paulo: A Girafa. 2011. 


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terça-feira, 4 de junho de 2019

O BOBOCA E O PILANTRA

Por José Mendes Pereira
Ninguém fica imune de um pilantra. Ele acompanha todos os passos de um sujeito. Geralmente, só anda bem vestido, de boa dicção, mas existe também o que não fala interessante e nem se veste bem. Todo ladrão é pilantra, mas nem todo pilantra é ladrão. O pilantra é esperto, malandro no modo de dizer, astucioso, sem vergonha e usa a sua esperteza para se sair bem. Geralmente o pilantra não rouba nada de ninguém. Não é agressivo. Aceita qualquer reclamação com um simples gesto e com risos sarcásticos. Pelo o seu jeito de falar impressiona qualquer indivíduo, principalmente aquele que não gosta de diminuir as pessoas. Gargalha com facilidade e não duvida do que o sujeito diz. Este falcatrueiro o que quer é conhecer de perto o comportamento do indivíduo para ludibriá-lo com facilidade e levar sem roubar. O indivíduo entrega com as suas próprias mãos.
Já se passaram muitos e muitos anos que isso aconteceu comigo. Nesse tempo eu era um jovem boboca (ou continuo sendo) que havia saído da "Casa de Menores Mário Negócio". Eu era funcionário da Editora Comercial S. A. que publicava livros de escritores, orçamentos das prefeituras, notas fiscais, recibos etc). Eu entrei nela através do gráfico Manoel Flor que já era funcionários há alguns anos e que também era interno da mesma instituição. Nesse período do meu primeiro emprego ru tinha apenas 16 anos de idade.
O pilantra que eu vou o chamar de José dos Alagadiços por não mais saber o seu nome devido os longos anos que já se passaram era um bom violonista, e este residia em outra rua próxima a Almirante Barroso a que nós morávamos. Como o Raimundo Feliciano (todos o conheceram nas minhas histórias da "Casa de Menores", e que infelizmente em fevereiro deste ano de 2019, ele faleceu aos 68 anos de idade) era proprietário de um violão, e sempre nos finais de semanas, à noite, na calçada da instituição, na Almirante Barroso, nos Pereiros, Raimundo Feliciano, outros tantos e eu, ficávamos ali arranhando algumas músicas da época. Com exceção do pilantra os que ali estavam, quem mais sabia tocar violão era o Raimundo. Eu já sabia, mas nem tanto, e continuo sendo um péssimo violonista.
Como o José dos Alagadiços morava perto da instituição sempre vinha à calçada onde nós da instituição ficávamos. Lá, ele era a grande estrela, por ser o melhor violista presente. Tocava com muita facilidade e com competência "Gotas de Lágrimas" e outras músicas do Dilermando Reis. Quem é tocador de violão assim como o Ruy Lima que faz parte do nosso grupo e outros e outros conhecem muito bem músicas do Dilermando Reis, que foi um dos maiores violonistas do Brasil.
Nesse dia era um sábado, final de dezembro, e acho que o ano era 1970, e já eram mais de 12 horas quando eu saí da Editora levando comigo o meu 13º. salário, além do soldo da semana, porque a empresa nos pagávamos semanalmente.
Dinheiro no bolso saí a pé da rua Alfredo Fernandes (rua da Editora) e pequei a Rua Tiradentes que faz cruzamento com a Alfredo. Segui para o Sindicato da Lavoura onde eu estava morando. Assim que entrei na Tiradentes tirei o pacote, valor do 13º. e de cabisbaixa, mesmo caminhando, fui conferindo nota por nota.
Pela foto abaixo dá para você saber o meu trajeto até chegar em casa. Subi a calçada e continuei andando e conferindo o dinheiro, e logo fui interrompido pelo José (violonista) que acredito que ao longe, naquele momento me observava contando o dinheiro. Na minha visão, mesmo de cabisbaixa eu vi um sujeito à frente, mas como antigamente ser roubado no meio da rua e principalmente de dia era muito difícil, não liguei muito para a pessoa que me observava. Só levantei a cabeça quando ouvi a voz me dizendo:
- Contando um dinheirinho, né Mendes? -Disse-me ele de olhos arregalados ao pacote.
- É isso aí, José. - Respondi. Hoje a Editora nos pagou o 13º. salário.
- Há quanto tempo que eu não pego em um monte dinheiro assim. - Disse-me ele rindo e apresentando a falta de dentes em sua boca, porque ele era quase banguelo e ainda não tinha adquirido os outros com o protético.
E olhando em direção à praça que existe lá, isto é, em frente a este prédio da foto, lá estava uma carroça com um animal sob uma árvore, mas do outro lado da praça. E sem demora me disse:
- Mendes, Você está vendo aquela carroça? - Dizia ele apontando-a com o indicador.
- Estou.
(Os valores eu vou os criar, porque devido o tempo eu não sei mais. Só sei que era cruzeiro e não me recordo se era novo ou velho. Mas eu vou os usar como sejam reais).
- O homem está me vendendo por mil reais, só que eu não tenho o dinheiro completo. Fiz o negócio com ele, mas nesta condição, até 3 hora da tarde. Se eu não arranjar vou perder a carroça. Daria para você me emprestar 500,00 reais? Hoje à tarde vou receber 500,00 Reais dos serviços que prestei a J. P. Sousa. (J. P. Sousa era pai do Paulinho da Honda localizado à Rua José de Alencar, mas no centro da cidade. Mas aquilo era meio de me ludibriar). Assim que eu receber - continuava ele - vou deixar lá no sindicato o valor que me emprestar.
De bobo, separei a quantia e o entreguei.
- Satisfeito com a besteira do bobo, disse-me:
- Só você Mendes, poderia fazer isso por mim. Muito obrigado, cara!
Disse-me isto e não mais se demorou. Saiu às pressas afirmando que iria pagar o valor da carroça ao homem.
À tardinha aguardei a sua chegada para me pagar, mas não me apareceu. Lá para seis horas da tarde eu fui à rua Cunha da Mota nos alagadiços e igapós do bairro Pereiros onde ele morava. Mas não o vi. No dia seguinte, logo após às nove horas fui lá novamente. Mas fui informado que o José havia se separado da mulher e deu no pé. Para onde ninguém sabia.
Perdi por completo e mais um bobo nascera nos alagadiços do bairros Pereiros.
Para Cleonice CastroClécida CastroRuy LimaMazé RodriguesAnalucia GomesLindomar SilvsaDanielle HoursEdna BezerraJose G DinizVoltaseca VoltaSolange SolErineide VieiraJanio OliveiraAlzimar PereiraMarcia Filardi Neliton SilvaVerluce FerrazValceli VerescondeJosé João SouzaLuiz SerraChagas NascimentoDarlan Deily João FernandesJosé Augusto SousaTaisa BezerraAlberto Salgado Bandeira FilhoAllison Flor LalinhoWilliams SantosAntônio EustáquioEraldo XaxaAssis Nascimento NascimentoAntonio Dos Santos LimaFrancisco Pereira LimaFrancisco Davi LimaRenilson SoaresJorge BrazJoao Augusto BrazMaria Da Graça Rosado de AraujoVeridiano Dias ClementeAna Maria TresseAntonio JoseAretuza Simonetta de OliveiraMargarida Santana Lopes NascimentoThais FidelisBenedito Vasconcelos MendesAluísio Barros OliveiraSusana GorettiAgripina SilvaLirete RochaLaete Vidal de AmorimDeocele LucenaJuh Gurgel.
Foto 1: Funcionava a Rádio Difusora, Cine Caiçara e Editora Comercial. No começo da direita da foto você ver uma parte do nome Editora. Este prédio fica, aliás uma parte porque a outra já foi substituída por prédio, de frente para o Norte.
1 - Na foto dá para você ver da direita para à esquerda o meu trajeto em direção onde eu morava. A foto é antiga, mas não me recordo se estas árvores são daquele tempo. Mas acho que não. Saindo do Caiçara pega-se a Tiradentes que fica do Norte para o Sul, mas ele é de frente para leste
2 - Quando eu saí desta rua Alfredo Fernandes entrei após o carrinho do Raimundo Confeiteiro e tomei a Tiradentes.
3 - carroça.

Imagens do google. Se eu colocar as fontes das fotos não consigo publicar este. Dá problema. e não posto.
4 - José Pereira de Souza, Lindinalva Paula e Javan Pereira.

UMA TRAIÇÃO SEM LIMITE

Por José Mendes Pereira


Talvez você leitor, irá pensar que isto que segue é fictício, mas não o é, foi real. Só em ler quem conheceu a família sabe muito bem os nomes destes personagens. Vou usar nomes criados para preservar os dos infelizes que participam da história, e principalmente o nome da empresa. 

Mauro Gurgel era empregado à noite ocupando a função vigilante na empresa “Dorabela” vendedora de móveis de todos os modelos. Durante o dia fazia bicos na oficina do seu sogro Manoel Tomás ocupando a função de marceneiro, e o velho sogro o tinha como um filho. Vivia uma vida de pobre, mas era muito organizado, e tudo fazia para não deixar os seus dois filhos com menos de 4 anos fora dos padrões como pai.

A esposa Maria das Neves não era muito filé assim como costumam dizer, quando uma dona de casa não mantém o respeito na sua própria vida feminina. Vez por outra, à noite, Maria das Neves dava uma saidinha ou uma puladinha de cerca para qualquer lugar, isto sem destino, e não queria nem saber que os seus filhos pequenos ficassem sozinhos em casa. O seu maior desejo era satisfazer as suas vontades sexuais com qualquer desocupado que o encontrava por aí, bebendo, fumando e participando de forrós, onde a sanfona abria o seu fole.


O Mauro Gurgel nunca sonhou que tinha em casa uma traidora porque ele levava a vida no trabalho, principalmente à noite, e confiava bastante nela, e assim nesse modo de confiar ela o fazia de gato e sapato. Como não tinha nada a ver com isso a vizinhança nunca dissera ao Mauro Gurgel que a sua companheira o traía, e geralmente, altas horas da madrugada, quando os filhos acordavam, ficavam ali, chorando até o dia amanhecer, porque estavam sem a mãe.

Certo noite, por não andar muito sadio o Mauro Gurgel recebeu a autorização do chefe da empresa “Dorabela” para ir repousar em casa, já que se encontrava meio doente, e ao chegar, seus dois filhos estavam em soluços, porque a mãe havia saído de casa muito cedo. 

Pela manhã quando o relógio já marcava 9:00 horas do dia ela chegou em casa. O Mauro quis saber por onde andava e ela deu desculpa esfarrapada, que tinha ido à mercearia próxima de sua casa, e um sujeito a ofereceu Coca-Cola, bebeu, e ao sair de lá, não soube mais de nada. 

O Mauro acreditou desacreditando. Mas dias depois, isto foi repetido por ela, e nesse dia, assim que ele chegou pela madrugada do serviço e viu as crianças sozinhas, foi direto ao sogro, e participou do que estava acontecendo no seu casamento. 

Manoel Tomás seu sogro era um homem que gostava bastante do genro por ele não botar dificuldade em nada que o velho queria fazer ou precisava. Era como se fosse um filho que não nascera em sua casa. 

Ao saber, revoltou-se com o pouco respeito da filha com o Mauro. E sem muito pensar, foi curto e grosso, dizendo-lhe que se algum dia isto tivesse acontecido com a sua mulher e  assim que ela chegasse em casa, ele a mataria.

O Mauro Gurgel apenas ouviu o que dissera o seu sogro e no momento não lhe veio nenhum mal pensamento que um dia pudesse fazer contra a sua esposa, afinal, mesmo mantendo-se no erro, adulterando, talvez, porque ele nada sabia, apenas ela saía de sua casa para se divertir, ela era a mãe dos seus dois filhos, e não a trocaria por mulher nenhuma, o mais importante era cuidar dos filhos e fazê-los felizes, muito embora, vivendo na companhia de uma mãe que nada valia.

E aconteceu que outra noite, ao chegar, encontrou os filhos sozinhos, porque a Maria das Neves andava de bobeira pelo mundo afora. O Mauro não quis mais aguentar aquela atitude da Maria. Ficou aguardando a sua chegada. Ela nem imaginava que ele já estava em casa.  E assim que meteu a chave na porta, abriu-a, e ao entrar, foi surpreendida  por uma paulada na cabeça, caindo já pronta. 

O Mauro não esperou mais por nada. Puxou-a para livrar da porta, em seguida, fechou-a, cobriu  o corpo com um pedaço de lona para os filhos não perceberem, e cuidou de acordá-los para fugir com eles, enquanto a vizinhança não percebesse a morte que ele acabara de fazer naquele momento. E assim que preparou tudo, fechou a porta e foi-se embora, levando consigo os dois filhos. 

Dois dias se passaram e ninguém tinha notícia daquela família, principalmente das crianças que de momento a momento estavam fora da casa, brincando com bolinhas de gude em barrocas improvisadas,  e também a Maria das Neves que misteriosamente desaparecera da vizinhança.

No terceiro dia a vizinhança estava preocupada, e alguns aproximaram-se da porta da casa. E ao chegarem, perceberam que o cheiro era insuportável, e tinham plena certeza que algum vivente morrera lá dentro. E toda vizinhança se responsabilizou pelo que iria fazer. Arrombar a porta da casa para certificar o que lá dentro morrera. Aberta a porta, e ao levantarem a lona que estava sobre, viram que era o corpo da Maria das Neves. 


Feito o enterro e depois as investigações e o sumiço do esposo com os filhos, os peritos chegaram à conclusão quem havia matado a Maria das Neves. Fora morta pelo  seu próprio marido Mauro Gurgel. Depois de alguns meses ninguém sabia para onde o Mauro Gurgel tinha fugido com os seus dois filhos. 


Com o passar dos tempos o Manoel Tomás estava totalmente desorientado com a morte da filha, a ausência dos netos que nunca mais vira, e a perda da amizade do genro, porque ele era como um filho.  


Tendo conhecimento o lugar e a fazenda onde morava o genro Mauro, o assassino da sua filha, Manoel Tomás resolveu fazer uma visita aos netos, e quem sabe, ao próprio assassino da sua filha. Mas esta visita seria sem vingança, porque a única culpada do que acontecera tinha sido a sua filha a Maria das Neves. Sem ninguém saber, marcou o dia e se mandou em busca de lá.


Já eram 4 horas da tarde quando o Manoel Tomás chegou à fazenda. O Mauro estava nas obrigações de curral, porque havia perdido o emprego, e por onde andou só conseguiu ser operário de fazendas. Ali, ele estava mungindo uma faca parida de poucos dias, e ao ver o ex-sogro aproximando-se tentou correr, pensando numa possível vingança. Mas o Manoel Tomás disse-lhe:


 - Fique aí! Nada tenho para fazer contra você. O que passou, passou.  Nem arma tenho. - Dizia ele levantando a camisa. Vim apenas para rever os meus netos e mais nada. A saudade deles é grande.


Mesmo cismado o Mauro concordou no que garantira o ex-sogro, e logo o levou para casa. Os netos gêmeos já se  aproximavam dos 10 anos de idade, e lá, aconteceu o grande abraço entre netos  e avô.


Os filhos ainda não tinham conhecimento que a mãe fora assassinada. Imagina quando eles souberam que quem matou sua mãe foi o seu próprio pai.


Durante toda a noite o Manoel Tomás dormiu sob o alpendre da casa da fazenda. No dia seguinte, ambos foram ao curral para fazerem algumas obrigações. 


O Manoel Tomás pôs-se a pensar: ali, misturado com um homem que findara a vida da sua filha, e por último, ele sendo companheiro do  assassino de quem cuidou com carinho quando era pequena. Mas, imaginou que seria uma covardia vingar a morte de quem não quis ter responsabilidade, fazendo todo tipo de traições com o seu cônjuge, um grande homem e trabalhador. 


E no vai-e-vem do seu pensamento, resolveu vingar o feito. E aproximando do Mauro com um pedaço de pau derreou sobre o crânio do ex-genro, deixando-o cair sobre uma cocheira. Como ficou sozinho  no curral, fugiu às pressas levando consigo apenas a saudade dos netos, e adeus, Mauro!







  







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