quinta-feira, 4 de abril de 2024

SEU GALDINO EMPREGA-SE NO INPM – INSTITUTO NACIONAL DE PESOS E MEDIDAS

Por José Mendes Pereira

No ano de 1961 o governo brasileiro fundou o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), e implantou a Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade, os atuais IPEM, e instituiu o Sistema Internacional de Unidades (S.I.) em todo o território nacional. Mas também era necessário acompanhar o desenvolvimento no mundo na tecnológica, e, principalmente, no atendimento às exigências do consumidor.

E em 1973, surgiu o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, o Inmetro, que no âmbito de sua ampla missão institucional, objetiva fortalecer as empresas nacionais, aumentando a sua produtividade por meio da adoção de mecanismos destinados à melhoria da qualidade de produtos e serviços.

Seu Galdino andava meio sem rendas, porque a sua propriedade estava de mal a pior. A ausência das chuvas fez com que o seu rebanho necessitasse de rações e, ou ele procurava um quebra galho para ganhar um dinheirinho e comprar alimentos, e tentar salvar, pelo menos uma boa parte do seu gado, ou iria vendendo um para com o dinheiro comprar rações e dar de comer os outros. Aquela velha história de fazendeiro, uns comendo os outros, e isso ele não iria fazer.

E sabendo que o novo órgão criado pelo governo federal  estava chamando pessoas para trabalharem como fiscal, foi até lá, e não foi nada difícil para ocupar uma função, agora seu Galdino fazia parte do quadro de funcionalismo da união.

Nesse dia, seu Galdino recebeu do novo órgão “Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM)”, aulas preparativas para o trabalho, pastas, lápis, canetas, talões para extrair notas de multas, farda com as quatro letras estampadas ao bolso da camisa, e tudo que um justiceiro federal (fiscal) possa levar consigo para o seu trabalho.

Apesar de não ter experiência no ramo de multar infratores que sonegam impostos ao governo e alteram o bom e justo funcionamento das suas balanças, com intenções de ludibriar os seus clientes, com muita certeza, seu Galdino jamais iria comer bola, como diz o velho ditado, quando o funcionário de governos se vende em troca de algo, e geralmente, é dinheiro vivo, cédula corrente no país.

Infeliz daquele comerciante que foi o primeiro a ser visitado pelo seu Galdino, porque ele jamais aceitaria propina para mudar o rumo das suas fiscalizações ou investigações, e que estava ali para ser um bom cobrador de impostos e aferidor de balanças, e não um sujeito qualquer comedor de bola. De forma alguma, aquele seu trabalho era para ser feito com seriedade, com honestidade, e jamais abriria o seu bolso para o fiscalizado colocar dinheiro desonesto.

Chegou a um comércio de gente grande, e mesmo não sendo um bom bebedor de conhaque Alcatrão de São João da Barra, pediu uma dose. A finalidade da dose era ficar ali, cubando o movimento dos fregueses e do comerciante, quem sabe, uma reclamação de algum cliente sobre o volume de um cereal, possivelmente com peso menores do que o normal.

Ali, seu Galdino ficou sentado vendo o vai e vem dos compradores, e o dono do comércio corria para ali, para acolá, mais alegre do que pinto em beira de cerca, e devido o seu bom humor, não lhe faltavam fregueses. E durante o tempo em que ali esteve, ninguém chamou a atenção do dono do comércio.

Com o passar do tempo, foi ficando restrita aquela visita de fregueses. E o comerciante resolveu sentar-se ao lado do homem que lhe pediu uma dose de conhaque para dar um dedinho de conversa. E para falar a verdade, ele não tinha a mínima ideia o que significava aquelas quatro letras (INPM) impressas no bolso da camisa daquele visitante. Ele nem sonhava o que aquele homem procurava por ali. E querendo saber da sua vida, como é costume de muitos, perguntou-lhe:

- O senhor é mossoroense?

- Sou, sim senhor!

- O que faz por aqui?

- Eu trabalho para o INPM.

- E o que é INPM?

- É um órgão que surgiu recentemente em todo o Brasil...

O comerciante mudou de assunto. Aquilo não lhe interessava nem um pouco. Quatro letras que para ele não representavam nada mais do que besteira.

Olhando para o comerciante, seu Galdino disse-lhe:

- Parece que o senhor vende muito bem aqui, é? – Dizia seu Galdino se fazendo de homem simples.

- Vendo sim senhor! Mas se eu não usar as minhas artimanhas não consigo lucros bons. Tenho que sempre estar usando a desonestidade, isto é, a cachaça eu ponho água para aumentar o lucro, e não me importa se vai ou não dar cirrose em quem a bebe. O feijão eu cato pedrinhas miúdas lá na minha fazenda, e as misturo para aumentar o peso por quilo. A balança, todo dia ela me deixa um bom lucro, porque, embaixo do prato que eu ponho a carne, feijão, farinha, arroz etc, tem um peso de 200 gramas amarrado por baixo, e ao pesar a carne, o feijão..., só vão 800 gramas. E assim eu tenho um bom lucro.

- O senhor é muito inteligente, muito. Mas o senhor tem ideia o que quer dizer INPM, estas quatro letras que estão no bolso da minha camisa?

- Não senhor! Eu não faço a mínima ideia.

- Quer dizer Instituto Nacional de Pesos e Medidas. Eu sou fiscal de consumo, de balanças... O senhor acabou entregando-se ao fiscal de balanças que sou. O que irá acontecer, é que vai ter que pagar uma multa enorme pelos seus desrespeitos com os seus fregueses. Isso é roubo, senhor comerciante!

- Mas o que é que é isso, senhor? – Perguntou o comerciante espantado.

- Não há como se salvar desta. – Dizia seu Galdino.

O comerciante ficou ali, parado, imaginando como sairia desta, e olhando para seu Galdino, disse-lhe:

- Mas o senhor sabe quem sou eu?

- O que eu estou vendo é que o senhor é um comerciante desonesto.

- Eu sou o homem mais mentiroso do mundo. Nada disso eu faço, é que eu converso muito, por isso errei em lhe dizer que faço.

- Tenha vergonha disso, seu malandro! Tomando dos outros, e talvez pensa que está certo, fazendo uma malandragem dessa!

O seu Galdino fez uma multa enorme e deu prazo para o comerciante pagar, do contrário seria preso.

Já o comerciante ficou sem saber o que fazer. E em seguida, olhando para um lado e para o outro, abriu a boca dizendo:

- O Deus dá a farinha e o diabo vem carrega  o saco, mas agora foi ao contrário. Deus me deu o saco para eu ensacar a farinha, e o diabo veio e levou a farinha. Agora vou devolver o que roubei dos meus inocentes fregueses com multas e mais multas. Louco é o homem que usa desonestidade, pensando que nunca pagará. Engana-se por completo! Um dia a casa cai. O que tomei dos outros agora tenho que devolver.

http://blogodmendesemendes.blogspot.com

















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