Por José Mendes Pereira
Ninguém fica imune de um pilantra. Ele acompanha todos os passos de um sujeito. Geralmente, só anda bem vestido, de boa dicção, mas existe também o que não fala interessante e nem se veste bem. Todo ladrão é pilantra, mas nem todo pilantra é ladrão. O pilantra é esperto, malandro no modo de dizer, astucioso, sem vergonha e usa a sua esperteza para se sair bem. Geralmente o pilantra não rouba nada de ninguém. Não é agressivo. Aceita qualquer reclamação com um simples gesto e com risos sarcásticos. Pelo o seu jeito de falar impressiona qualquer indivíduo, principalmente aquele que não gosta de diminuir as pessoas. Gargalha com facilidade e não duvida do que o sujeito diz. Este falcatrueiro o que quer é conhecer de perto o comportamento do indivíduo para ludibriá-lo com facilidade e levar sem roubar. O indivíduo entrega com as suas próprias mãos.
Já se passaram muitos e muitos anos que isso aconteceu comigo. Nesse tempo eu era um jovem boboca (ou continuo sendo) que havia saído da "Casa de Menores Mário Negócio". Eu era funcionário da Editora Comercial S. A. que publicava livros de escritores, orçamentos das prefeituras, notas fiscais, recibos etc). Eu entrei nela através do gráfico Manoel Flor que já era funcionários há alguns anos e que também era interno da mesma instituição. Nesse período do meu primeiro emprego ru tinha apenas 16 anos de idade.
O pilantra que eu vou o chamar de José dos Alagadiços por não mais saber o seu nome devido os longos anos que já se passaram era um bom violonista, e este residia em outra rua próxima a Almirante Barroso a que nós morávamos. Como o Raimundo Feliciano (todos o conheceram nas minhas histórias da "Casa de Menores", e que infelizmente em fevereiro deste ano de 2019, ele faleceu aos 68 anos de idade) era proprietário de um violão, e sempre nos finais de semanas, à noite, na calçada da instituição, na Almirante Barroso, nos Pereiros, Raimundo Feliciano, outros tantos e eu, ficávamos ali arranhando algumas músicas da época. Com exceção do pilantra os que ali estavam, quem mais sabia tocar violão era o Raimundo. Eu já sabia, mas nem tanto, e continuo sendo um péssimo violonista.
Como o José dos Alagadiços morava perto da instituição sempre vinha à calçada onde nós da instituição ficávamos. Lá, ele era a grande estrela, por ser o melhor violista presente. Tocava com muita facilidade e com competência "Gotas de Lágrimas" e outras músicas do Dilermando Reis. Quem é tocador de violão assim como o Ruy Lima que faz parte do nosso grupo e outros e outros conhecem muito bem músicas do Dilermando Reis, que foi um dos maiores violonistas do Brasil.
Nesse dia era um sábado, final de dezembro, e acho que o ano era 1970, e já eram mais de 12 horas quando eu saí da Editora levando comigo o meu 13º. salário, além do soldo da semana, porque a empresa nos pagávamos semanalmente.
Dinheiro no bolso saí a pé da rua Alfredo Fernandes (rua da Editora) e pequei a Rua Tiradentes que faz cruzamento com a Alfredo. Segui para o Sindicato da Lavoura onde eu estava morando. Assim que entrei na Tiradentes tirei o pacote, valor do 13º. e de cabisbaixa, mesmo caminhando, fui conferindo nota por nota.
Pela foto abaixo dá para você saber o meu trajeto até chegar em casa. Subi a calçada e continuei andando e conferindo o dinheiro, e logo fui interrompido pelo José (violonista) que acredito que ao longe, naquele momento me observava contando o dinheiro. Na minha visão, mesmo de cabisbaixa eu vi um sujeito à frente, mas como antigamente ser roubado no meio da rua e principalmente de dia era muito difícil, não liguei muito para a pessoa que me observava. Só levantei a cabeça quando ouvi a voz me dizendo:
- Contando um dinheirinho, né Mendes? -Disse-me ele de olhos arregalados ao pacote.
- É isso aí, José. - Respondi. Hoje a Editora nos pagou o 13º. salário.
- Há quanto tempo que eu não pego em um monte dinheiro assim. - Disse-me ele rindo e apresentando a falta de dentes em sua boca, porque ele era quase banguelo e ainda não tinha adquirido os outros com o protético.
E olhando em direção à praça que existe lá, isto é, em frente a este prédio da foto, lá estava uma carroça com um animal sob uma árvore, mas do outro lado da praça. E sem demora me disse:
- Mendes, Você está vendo aquela carroça? - Dizia ele apontando-a com o indicador.
- Estou.
(Os valores eu vou os criar, porque devido o tempo eu não sei mais. Só sei que era cruzeiro e não me recordo se era novo ou velho. Mas eu vou os usar como sejam reais).
- O homem está me vendendo por mil reais, só que eu não tenho o dinheiro completo. Fiz o negócio com ele, mas nesta condição, até 3 hora da tarde. Se eu não arranjar vou perder a carroça. Daria para você me emprestar 500,00 reais? Hoje à tarde vou receber 500,00 Reais dos serviços que prestei a J. P. Sousa. (J. P. Sousa era pai do Paulinho da Honda localizado à Rua José de Alencar, mas no centro da cidade. Mas aquilo era meio de me ludibriar). Assim que eu receber - continuava ele - vou deixar lá no sindicato o valor que me emprestar.
De bobo, separei a quantia e o entreguei.
- Satisfeito com a besteira do bobo, disse-me:
- Só você Mendes, poderia fazer isso por mim. Muito obrigado, cara!
Disse-me isto e não mais se demorou. Saiu às pressas afirmando que iria pagar o valor da carroça ao homem.
À tardinha aguardei a sua chegada para me pagar, mas não me apareceu. Lá para seis horas da tarde eu fui à rua Cunha da Mota nos alagadiços e igapós do bairro Pereiros onde ele morava. Mas não o vi. No dia seguinte, logo após às nove horas fui lá novamente. Mas fui informado que o José havia se separado da mulher e deu no pé. Para onde ninguém sabia.
Perdi por completo e mais um bobo nascera nos alagadiços do bairros Pereiros.
Para Cleonice Castro, Clécida Castro, Ruy Lima, Mazé Rodrigues, Analucia Gomes, Lindomar Silvsa, Danielle Hours, Edna Bezerra, Jose G Diniz, Voltaseca Volta, Solange Sol, Erineide Vieira, Janio Oliveira, Alzimar Pereira, Marcia Filardi Neliton Silva, Verluce Ferraz, Valceli Veresconde, José João Souza, Luiz Serra, Chagas Nascimento, Darlan Deily João Fernandes, José Augusto Sousa, Taisa Bezerra, Alberto Salgado Bandeira Filho, Allison Flor Lalinho, Williams Santos, Antônio Eustáquio, Eraldo Xaxa, Assis Nascimento Nascimento, Antonio Dos Santos Lima, Francisco Pereira Lima, Francisco Davi Lima, Renilson Soares, Jorge Braz, Joao Augusto Braz, Maria Da Graça Rosado de Araujo, Veridiano Dias Clemente, Ana Maria Tresse, Antonio Jose, Aretuza Simonetta de Oliveira, Margarida Santana Lopes Nascimento, Thais Fidelis, Benedito Vasconcelos Mendes, Aluísio Barros Oliveira, Susana Goretti, Agripina Silva, Lirete Rocha, Laete Vidal de Amorim, Deocele Lucena, Juh Gurgel.
Foto 1: Funcionava a Rádio Difusora, Cine Caiçara e Editora Comercial. No começo da direita da foto você ver uma parte do nome Editora. Este prédio fica, aliás uma parte porque a outra já foi substituída por prédio, de frente para o Norte.
1 - Na foto dá para você ver da direita para à esquerda o meu trajeto em direção onde eu morava. A foto é antiga, mas não me recordo se estas árvores são daquele tempo. Mas acho que não. Saindo do Caiçara pega-se a Tiradentes que fica do Norte para o Sul, mas ele é de frente para leste
2 - Quando eu saí desta rua Alfredo Fernandes entrei após o carrinho do Raimundo Confeiteiro e tomei a Tiradentes.
3 - carroça.
Imagens do google. Se eu colocar as fontes das fotos não consigo publicar este. Dá problema. e não posto.
4 - José Pereira de Souza, Lindinalva Paula e Javan Pereira.
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