sexta-feira, 29 de junho de 2018

MARLENE MENDONÇA IRMÃ DO SEU GALDINO PÕE O PAI NO CATECISMO

Por José Mendes Pereira
A doença de mal de "Alzheimer" é a forma mais comum de demência. Não existe cura para a doença, a qual se agrava progressivamente até levar à morte. Foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra e neuropatologista alemão "Alois Alzheimer", de quem recebeu o nome, ao ao fazer uma autópsia, descobriu no cérebro do morto, lesões que ninguém nunca tinha visto antes.
Por último, um grande problema vinha acontecendo com Galdino Borba Gato Mendonça de mais de 90 anos, (pai biológico do caçador de onças seu Galdino, o velho amigo do seu Leodoro Gusmão), que infelizmente, o ancião fora premiado com a doença mal de "Alzheimer", conhecida por todos nós como sendo caduquice. Mesmo que o mal de "Alzheimer" já tinha sido descoberto pelo "Alemão Alois Alzheimer" mas continuavam ainda chamando de caduquice quem tinha este tipo de doença. O certo é que, as palavras existem, mas centenas delas estão adormecidas nos dicionários, e um dia elas serão usadas novamente como qualquer outra.
Sendo portador desta incurável doença o ancião Galdino dizia coisa com coisa, algumas vezes, conhecia os filhos, em outros momento, não. Ali, sentado sobre um banco velho de aroeira fincado sob o seu desmoronado alpendre ele conversava sozinho, chamava pela velha esposa que já fazia mais de 10 anos que falecera. Aboiava sem ver nenhum animal por perto, gritava, queria café, queria almoço fora do horário costumeiro, pedia água e quando a recebia das mãos da fiha, ele a derramava, pedia marca de fumo, e a filha Marlene enganava-o dando um "bom bom", e ao colocar na boca, a filha lhe perguntava:
- Esta masca de fumo é boa, papai?
E ele lhe respondia como se fosse fumo de verdade:
- Ótima, minha filha! Ótima! Nunca vi um fumo tão bom quanto este que você me deu agora!
O velho Galdino agora desejava entrar num catecismo, que uma religiosa ensinava às crianças do pequeno lugar. E ali, ficava em gritos, dizendo que a filha Marlene o matriculasse no catecismo. Ela com paciência dizia que, a fase de catecismo é apenas para crianças, e não para pessoas adultas, assim como ele que já passava dos 90 anos. Mas o velho não desistia da sua ideia de participar do catecismo do lugar.
Sem outra solução, Marlene resolveu participar à religiosa do desejo do velho seupai, que por último queria porque queria participar do catecismo que ela administrava.
A religiosa fez-lhe a seguinte proposta: Comprasse um caderno, um lápis, uma pasta, e quando estivesse com tudo em mãos, nos dias de catecismo, levasse-o para participar dos estudos religiosos. E assim foi feito.
Nesse dia, a Marlene arrumou o velho pai e foi deixá-lo na aula religiosa. Ele estava além de feliz, mas vez por outra perguntava à filha para onde eles estavam indo. E ela o respondia que caminhava para o catecismo. E assim, ele recordava o seu desejo.
Mesmo ele esquecendo de algumas coisas e como era perto de casa, não foi mais preciso a Marlene ir deixá-lo até a porta da escola religiosa.
E certo dia, ao retornar, encontrou uma bolsa cheia de dinheiro. Querendo saber o que tinha dentro, viu logo que se tratava de dinheiro. Ao chegar em casa entregou-a a Marlene, que ao ver aquele monte de dinheiro dentro da bolsa, cuidou com urgência de esconder, temendo que alguém visse. Do velho nem fazia medo, porque ele tinha o mal de "Alzheimer", jamais lembraria do que havia lhe entregado.
Acontece que quando o ancião apanhou a bolsa uma senhora viu, mas não sabia de que se tratava. E como não tinha nada a ver, deixou que ele levasse consigo aquele objeto que achara.
Mas não demorou muito para aparecer o dono da bolsa, um vendedor ambulante, e saiu perguntando a quem encontrava pelas ruas, se não sabia que alguém tinha achado uma bolsa assim, assim, assado. E por sorte dele, perguntou a dita mulher que presenciara quando o velho ancião encontrou a bolsa:
- A senhora sabe me informar se alguém achou uma bolsa assim, assim...?
- Senhor, eu não tenho certeza se era uma bolsa, mas um velho que mora ali - dizia ela pontando com o dedo indicador a casa - naquela casa de cor verde, apanhou um objeto, e daqui eu vi que parecia uma bolsa...
- Isso foi quando?
- Ontem, senhor...!
- Eu a perdi ontem mesmo.
O vendedor ambulante a agradeceu e foi direto à casa do velho. Ao chegar, bateu palmas. Foi recebido pelo velho que estava deitado em uma rede na sala única. E foi logo perguntando-lhe:
- Falaram-me que o senhor achou uma bolsa hoje com uma porção de dinheiro?
- Achei - respondeu-lhe o ancião.
- E cadê a bolsa?
- Está com a minha filha Marlene. Eu entreguei a ela ontem. Muito dinheiro.
- A bolsa é minha. Eu quero falar com a sua filha.
- Ou, Marlene minha filha, vem cá..., um homem quer falar com você.
E lá se veio a Marlene para saber o que estava acontecendo lá na sala.
- O que o senhor deseja? - Perguntou Marlene um pouco assustada.
- É que o seu pai achou uma bosa ontem..., é minha.
- Papai não achou bolsa, não senhor! Ele não sabe o que diz, senhor, meu pai é doente de mal de "Alzheimer"!
- Eu achei senhor, é que ela não está querendo lhe entregar, mas achei! - Dizia o velho.
- Se ele está dizendo que achou senhora, é porque ele achou.
- O meu pai sofre de mal de "Alzheimer" senhor, e não sabe o que diz.
- É mentira dela. Eu sei muito bem o que estou dizendo. Ela não quer entregar a bolsa com o dinheiro, agora está dizendo que eu estou doente. Eu achei e sei o que digo muito bem...
- Para o senhor ver que ele não sabe o que diz. Pergunte de onde ele vinha quando achou esta bolsa que afirma cheia de dinheiro.
- Quando foi que o senhor achou a bolsa?
- Eu achei quando eu vinha do catecismo...!
- Está vendo, que meu pai não sabe de nada. Quem faz catecismo é criança, e eu acho que nem quando ele era criança, fez catecismo.
- Verdade! Já vi mesmo que ele não achou a minha bolsa.
- Papai sofre de mal de "Alzheimer", seu moço...!
- Obrigado dona, e me desculpa a minha audácia...!
- Que nada senhor! Se ele tivesse achado e se estivesse em minhas mãos, eu lhe entregava agora.
- Adeus, dona!
- Adeus!
E assim que ele saiu Marlene disse consigo mesmo: "Vai-te embora, seu bestão, o dinheiro era seu, agora é meu!".

MANOEL DUARTE FERREIRA

Por José Mendes Pereira
Manoel Duarte Ferreira pertencia a uma das mais tradicionais famílias de Mossoró. Nasceu no dia 15 de novembro de 1895, e era irmão do médico e ex-Senador da República Francisco Duarte Filho (Duarte Filho). Era filho dos maiores fazendeiros e latifundiários de Mossoró Francisco Duarte e Maria Vicência Duarte.
Como já é do conhecimento dos leitores meus irmãos e eu nascemos em sua propriedade no sítio Mururé, mas que fazia e continua fazendo parte da Barrinha, distante de Mossoró 12 km. Já os meus pais nasceram nas terras do seu pai Francisco Duarte ou simplesmente Chico Duarte
Segundo o historiador Raimundo Soares de Brito em seu livro "Ruas e patronos de Mossoró" - coleção mossoroense, afirma que na defesa de Mossoró contra o bando de Lampião, ele ocupou a trincheira de onde se comenta terem saído os tiros que abateu Colchete e alvejaram Jararaca.
Após o seu falecimento em 31 de janeiro de 1982, o jornal "O Mossoroense" comentando o fato informou:
"num reconhecimento ao seu valor e acatando a sugestão de Paulo Nobre de Medeiros, delegado do Oriente Independente Maçônico do Rio Grande do Norte, o prefeito João Newton da Escóssia decretou luto Oficial por três dias, permitindo que fosse coberto o esquife do conterrâneo com a bandeira do município".

quinta-feira, 28 de junho de 2018

SEU GALDINO MONTA ARMADILHA PARA CAPTURAR ONÇA SUÇUARANA, O FELINO SE SALVA, MAS ELE FOI ENGOLIDO PELA SUA PRÓPRIA ASTÚCIA.

Por José Mendes Pereira

Por último, uma onça suçuarana vinha subtraindo a criação do seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça). Quase todas as manhãs quando ele iniciava as suas atividades à procura dos seus animais encontrava ovelhas e bezerros feridos, e algumas vezes, encontrou carcaças de animais  que pelos  estragos, com certeza, foram devorados por felino de grande porte. E não tinha dúvida, aquela matança de animais em sua fazenda, estava sendo feita por uma onça suçuarana, que dias antes, avistara em suas terras, lá bem nos fundos da sua propriedade.

Como é do conhecimento de todos seu Galdino nunca matou uma onça, porque sempre guardou em sua mente, que todos os animais têm que permanecerem vivos, cada um deles tem uma função na natureza, mas devido o grande prejuízo que vinha tendo com a subtração de animais na sua fazenda, tinha que fazer algo urgente, para evitar maiores prejuízos.

Os agentes do IBAMA viviam passando por todas as propriedades, somente no intuito de flagrar algum fazendeiro capturando animais para o abate, ou até mesmo para matá-los sem fins lucrativos, só para ter o prazer de ver animais mortos.

Temendo que a sua providência contra aquela onça chegasse aos ouvidos dos fofoqueiros, e espalhassem que ele estava tentando capturá-la, seu Galdino resolveu chamar dois homens na cidade de Mossoró, ambos trabalhadores braçais, e os levou para cavarem uma valeta com mais de três metros de fundura, nos fundos da sua propriedade, porque, era muito difícil que alguém descobrisse que lá ele mandara fazer uma armadilha para capturar a maldita onça suçuarana.

Após três grandes dias de serviço finalmente a armadilha estava prontinha para receber a onça. Pequenas varas foram colocadas sobre a valeta, em seguida, papelões, tendo sido  completada com arisco que foi retirado da própria valeta, e dessa forma a onça jamais notaria que ali existia um buraco, e caso fosse presa, não havia possibilidade dela escapar por cima do buraco e nem de outra forma.

Depois disso, fizeram mais ou menos dez metros de cercas de um lado e do outro, até o final da valeta, formando um corredor meio afunilado, e mais adiante, uma espécie de oca pequena coberta com ramos, e nela, seu Galdino ficaria escondido, e assim que a onça entrasse no corredor e passasse por ele, neste momento, ele sairia da oca e obrigava a onça correr em direção à valeta, que com medo, correria, e ao passar sobre a armadilha, o seu peso faria a cobertura arriar juntamente com ela, ficando presa sem condições de sair.

Tudo prontinho. Seu Galdino dispensou os homens. Pagou e os encaminhou até Mossoró, e sem demora, retornou para casa, na intenção de preparar o material para levar até a armadilha.

Já bem próxima da noite chegar seu Galdino despediu-se da esposa dona Dionísia, afirmando que iria ver se pegava a onça que estava subtraindo os seus animais, mas não revelou o lugar, porque ele temia que ela conversasse com alguém sobre este seu movimento, e esse alguém poderia boatar por aí, fazendo com que o IBAMA tomasse conhecimento dos seus planos, já que o órgão não permite a captura de animais, e nem tão pouco a matança. Levou consigo três quilos de carne de boi, e acreditava ele que, com o cheiro da carne, certamente a onça iria farejá e acharia a direção certa da armadilha. 

Ao chegar à armadilha seu Galdino cuidou de arrumar tudo direitinho. Pegou a carne colocando-a bem próxima à armadilha. Prontinho, dirigiu-se até sua oca, porque tinha certeza que ela não tardaria chegar.

Já eram mais ou menos 12 horas da noite e a lua cheia passeava sob o universo. Seu Galdino ouviu um chiado nas folhas soltas pelo chão, e um batido em árvores que por ali estavam arreadas ao chão. Observando bem, viu que era a onça suçuarana que já sentira o cheiro da carne. E lá se vem ela. Com cautela. Cheirando tudo que via. Sem pressa. Com o clarear da lua seus olhos brilhavam bastante. E foi chegando à oca onde estava escondido seu Galdino. Cheirou bem os galhos de ramos. E depois ficou observando o que lá dentro tinha. Seu Galdino permanecia dentro da oca, calado, mas demonstrava muita insegurança. 

Depois de boa observada a onça reconheceu que lá dentro tinha um animal racional, que era seu Galdino. E sem muito pensar, ela resolveu atacá-lo, derrubando a oca com fortes tapas. Foi nessa hora que seu Galdino não esperou mais por nada, e desesperadamente, fez carreira em direção à armadilha, e apoderado de medo, nem imaginou que lá na frente tinha a sua própria invenção. E assim que pisou sobre ela, desceu de cima abaixo na armadilha e caiu lá dentro desajeitado, ficando todo arrebentado, com sangue exposto ao corpo.

A onça que naquele momento já pensava em um bom prato, isto é, um belo jantar das carnes do seu Galdino, na carreira atrás dele, quando percebeu que ele caíra na armadilha, ela fez o seu malabarismo, e de um pulo só sobre, passou para o outro lado da armadilha, e com o impulso que fez para alcançar o seu Galdino, adiantou muito, freando um pouco distante do local. E ao parar, retornou para ver se conseguiria capturar o astucioso.

Vendo a onça tentando descer para ver se o abocanhava  de lá de dentro do buraco, seu Galdino ficou jogando ramos, papelões e arisco que caíram dentro juntamente com ele, para ver se ela desistia de capturá-lo.

A onça passou a noite toda ali, arquitetando como poderia matar o seu Galdino. Seu Galdino passou o resto da noite ali, de olhos arregalados, só imaginando a possibilidade daquela danada enfrentar o buraco para descer e o devorar. 

Mas bem cedo, ao clarear do dia, seu Galdino foi salvo por seu Leodoro Gusmão, que com uma espingarda, tentava em uma tocaia matar algumas “asas brancas” que bebiam em um pequeno córrego. E ao ver aquela onça deitada ali, deu um tiro sem mirar, só para espantá-la dali, e proteger a si mesmo. Ao ouvir o tiro, seu Galdino fortemente pôs-se a gritar lá dentro da armadilha. 

- Acudam-me! Acudam-me!

Seu Leodoro Gusmão quis reconhecer aquela voz. Parou e ficou escutando e se perguntando:

- De quem é aquela voz que tanto grita, meu Deus?

E com receio, vagarosamente, foi chegando para bem perto da armadilha, que até aquele momento ele nem imaginava de tal coisa.

E a voz continuou:

- Acudam-me, pelo amor de Deus, gente!

Foi quando seu Leodoro reconheceu dizendo:

- Aquela voz me parece ser a de compadre Galdino!

E foi chegando mais perto da armadilha. e ao chegar, olhou lá para o fundo da valeta e viu que era mesmo o seu Leodoro. E logo perguntou-lhe:

- Mais compadre Galdino, o que o senhor veio fazer aqui?

- Eu vim ser se capturava uma onça suçuarana que anda comendo os meus bicho...

- E por que o senhor compadre Galdino, está fazendo o que dentro desta valeta? - Atalhou seu Leodoro.

- Eu mandei cavar ela para capturar a onça, e só sei que quem ficou preso fui eu...





domingo, 24 de junho de 2018

SEU GALDINO FOI VISITAR FAMILIARES EM FORTALEZA

Por José Mendes Pereira

Já havia completado cinco anos que seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) não via os seus 2 irmãos mais novos que moravam em Fortaleza, no Estado do Ceará. E por último, estava com viagem pronta para revê-los, já que eles também não mais pisaram nas terras mossoroenses, devido as suas preocupações relacionadas aos seus empregos lá no Ceará.

Em uma quarta-feira do mês de agosto seu Galdino e dona Dionísia pegaram o primeiro ônibus executivo que vinha de Natal rumo à Fortaleza. Cada um segurava a alça da sua mala, mas com pouquíssimas roupas.

A sua fazenda deixara aos cuidados do compadre Leodoro Gusmão. Os bolsos estavam bem preparados com dinheiro farto, valor adquirido do carnaubal que arrendara ao Chico Leandro. E se abalaram para reverem aquela gente que não mais a viram.

Dona Dionísia não conhecia Fortaleza, mas tinha percorrido algumas cidades do Ceará, como Aracati, lugar onde havia nascido a sua estimada mãe. Limoeiro do Norte era a cidade do pai, que em 1927, conheceu pessoalmente Virgolino Ferreira da Silva o Lampião, quando de sua fugida de Mossoró, por ter se atrapalhado ao idealizar o assalto a uma cidade de grande porte como era Mossoró na época.

O ônibus saiu às 4:00 horas da manhã da Estação, mas devido as péssimas condições das estradas que percorriam só colocaram os seus pés na cidade de Fortaleza após oito horas da manhã.

Na estação rodoviária os manos e as suas esposas já aguardavam a chegada do casal. Seu Galdino foi o primeiro a descer do ônibus, empacotado numa bela roupa comprado o tecido no Armazém Narciso em Mossoró.

Logo em seguida, dona Dionísia descia arrastando a sua mala com um belo penteado, apenas um pouquinho arrepiado, devido o vento, que vez em quando, entrava no ônibus.

E ali, deram início aos abraços para aqui, para acolá. Em seguida, rumaram até a residência do Gaudêncio, o irmão mais novo do seu Galdino, que apesar da humildade, mesmo assim, morava bem próximo à “Praça Ferreira” que fica no centro da cidade.

O dia todo foi vivido por seu Galdino e os seus manos com lembranças do tempo de criança, de jovem, lá na casa de taipa do velho pai Galdino Borbagato Mendonça. Lembraram dos frequentes banhos no rio que passava bem próximo à casa da pequena fazenda da propriedade. Os jogos de bolas em frente ao estábulo com bolas feitas com meias..., as festas juninas, apenas sendo divertidas com um pequeno rádio “ABC”. Ali, viveram novamente a infância e a adolescência.

Ao anoitecer, seu Galdino desejou passar um tempinho sentado em um banco na Praça Ferreira. O irmão Galdêncio não era de acordo da sua ida até a Praça, porque ali era muito frequentado por bandidos que tomavam os pertences de quem lá se sentava.

E alertando-o, disse:

- Eu sei que você é muito cuidadoso e observador, mas eu não sou de acordo você ir para a praça sozinho. Mas você quer ir, tenha cuidado, porque os ladrões aqui em Fortaleza roubam o sujeito e ele nem percebe...

- Mas eu vou com cuidado, mano. Não se preocupe. Eu tenho os meus malabarismos para esta gente.

E seu Galdino tinha mesmo. Foi até ao quarto da casa em que estava hospedado, apoderou-se de uma tesoura, e começou cortar papel, cada papel do tamanho de uma nota de 1000 Cruzeiros. Depois juntou todos em um só pacote, colocou uma nota de dez mil cruzeiros por cima dos papéis, prendeu-os com uma liga, enfiou o pacote no bolso direito da calça, pondo também no bolso a sua antiga e surrada “RG” - Identidade. Em seguida, rumou para a Praça Ferreira, na intenção de mostrar a um ladrão ou aos ladrões que eles não o roubariam de forma alguma.

Mas ao chegar à Praça seu Galdino Borba(gato) viu logo de cara um sujeito bem vestido e sem aparência de malandro, alto, magro e usando calças Jens e camisa amarela, e que disfarçadamente, caminhava com passos lentos, de cabisbaixa e, nas mãos, uma espécie de mochilas.

Ao vê-lo, seu Galdino colocou um rabo de olhos em sua direção para abalizá-lo da cabeça aos pés, e concluiu que aquele sujeito nada mais era do que um ladrão, que naquele momento, se fazia de homem honesto. Seu Galdino deu início à caminhada, mas andava ao contrário do suposto ladrão. Com alguns minutos que já haviam se passado o homem passou por seu Galdino duas vezes.

Mesmo tendo em dinheiro apenas a nota de mil cruzeiros no pacote, e prevendo que poderia ser roubado, seu Galdino colocou a mão direita, protegendo o pacote para não ser assaltado. E assim que o suposto ladrão passou por seu Galdino, perguntou-lhe:

- O senhor é de Mossoró?

- Sou. E como é que o senhor sabe que eu sou de Mossoró?

- Eu vi pela sua identidade.

- Pela minha identidade?

- Sim. – Disse o suposto ladrão sorrindo.

- Mas aonde e quando foi que o senhor viu a minha identidade?

- Vi agora mesmo aí no seu bolso...

- E se eu não lhe mostrei a minha identidade?

- Antes de você segurar o pacote eu já tinha olhado o seu bolso. Pensou de me enganar, mas vi que quem se enganou foi você. Até a nota de dez mil cruzeiros já está no meu bolso.

O homem disse e foi embora.

Seu Galdino olhou para um lado e para o outro, dizendo:

- Em lugar nenhum ninguém mais se livra de ladrão. O ladrão tirou a minha nota do bolso e eu nem senti. Eu até duvidava de um dia ser roubado, mas vi que o Brasil tem ladrão de sobra”.

http://josemendeshistoriador. blogspot.com

domingo, 17 de junho de 2018

A ÍNDIA KATHAUÃ NÃO DEIXA PAI VENDER FILHA PARA SER ESCRAVIZADA POR FAZENDEIROS

José Mendes Pereira

Kathauã foi uma índia justiceira que nascera nas terras de Mossoró e era uma espécie de cangaceira da sua época, que todos os moradores a respeitavam. Ela mantinha a sua ordem sem armas, apenas usava dois longos chicotes, e que não admitia que as coisas na cidade fossem levadas do jeito que os políticos, coronéis e fazendeiros quisessem, principalmente aqueles que se diziam serem homens poderosos que escravizavam uma boa parte da população mossoroense, e alguns de cidades adjacentes.

Quem havia nascido em berço negro e pobre teria que viver a vida inteira trabalhando para uma porção de oportunistas, carrascos, cruéis? E isso, Kathauã não admitia. E ainda dizia:

- Respeitar Mossoró e seu povo é preciso. Eles têm que serem amados e respeitados por todos. Quem não quiser amar a minha Mossoró e respeitá-la juntamente com os seus filhos, deixa-os o quanto antes. Vá embora daqui para outras terras que a ela não as pertencem. Mossoró tem nome para ser zelado. Dizia ela ao prefeito Antônio Freire de Carvalho que negro e índio são irmãos do branco e do rico que nasceram nesta cidade em berços de ouro.

- Sim, senhora! Timidamente concordava o prefeito.

Em reuniões de políticos, mesmo não fazendo parte da Prefeitura, nem da Câmara Municipal de Vereadores de Mossoró, Kathauã participava de todos os encontros, e ai daquele que não aceitasse a sua presença nos grupos. Vez por outra, Kathauã fazia o seu discurso dizendo aos vereadores que:

- Todos os senhores foram eleitos para a ligação entre o governo e o povo. Todos têm obrigação de ouvir o que os eleitores querem propor, e aprovarem esses pedidos na Câmara Municipal. Também, todos têm o dever de fiscalizarem, se o prefeito e seus secretários estão colocando essas demandas em prática, e se não estão pondo a mão nos recursos da cidade.

Era no tempo da escravidão. Assim que tomou conhecimento que o índio “Marani” (palavra indígena o que provoca rixas) havia colocado a sua filha “Indira” (Beleza pura nome indígena) de 13 anos à venda, para ser arrematada e escravizada por fazendeiros do lugar, ou por carrascos e poderosos coronéis, a índia Kathauã não gostou nem um pouquinho. Arrumou o seu cavalo com uma bela sela e arreios que dias antes havia recebido do seleiro Porfírio de Castro; apanhou os seus dois chicotes de 3 metros, e foi direta a oca do índio “Manari”, para saber o porquê de colocar a sua querida e estimada filhinha "Indira" à venda.

Assim que chegou à sua oca “Kathauã” encontrou “Marani” deitado sobre um jirau, uma espécie de cama feito de madeira e forrado com palhas da carnaubeira. “Manari” nem sabia que mulher era aquela, porque ele fazia três anos que ali chegara vindo de outra tribo, mas ligada à tribos de Mossoró.

A índia Kathauã vivia mais na cidade, sempre cobrando trabalhos e mais trabalhos do prefeito. E assim que ela desceu do seu cavalo e foi entrando na oca, perguntou-lhe:

- O senhor é o Manari?

- Sou, sim senhora! – Respondeu ele sem nem ao menos se levantar do seu jirau.

- Eu vim aqui, porque me falaram que o senhor tem uma filha que está à venda, e eu estou interessada comprá-la.

Kathauã dizia só no intuito de saber se era verdade mesmo que ele tinha colocado a filha à venda para ser arrematada por fazendeiros. E assim que ela falou que queria comprá-la, de um só pulo o índio “Manari” se levantou do jirau, já interessado na venda.

- E qual é o valor que o senhor está pedindo pela sua filha?

E sem titubear, o perverso pai disse que a venderia por 2 vacas leiteiras, 100 cuias de milho, igual feijão, arroz, mais 5 hectares de terras para plantio.

A Kathauã ouvia isso com paciência. E logo escutou de lá de dentro de um pequeno compartimento, um choro. Era a “Indira” sua filha que não se conformava com aquela ideia do pai querer vendê-la. E saindo do pequeno compartimento, veio em direção à Kathauã implorando-a:

- Pelo amor de Deus dona senhora, não me compra! É aqui que eu quero viver com ele, com minha mãe, com meus irmãos e minhas amigas...!

E sem muita demora, um choro forte e soluço de mulher estrondaram dentro da oca. Era a Janaina (Significa "protetora do lar", "deusa do mar", "rainha do mar", "mãe dos peixes"...) a esposa do “Manari”, mãe da “Indira” que todos os dias protestava, e não admitia que a sua querida filhinha fosse vendida para nenhum fazendeiro, e nem tão pouco para perversos coronéis. E aproximando-se da Kathauã, fez-lhe um pedido:

- Dona mulher, não compra a minha filhinha. Será uma das maiores dores para mim, ver a “Indira” saindo daqui, da nossa companhia, vendida para ser maltratada por aí! Pelo amor de Deus, não faça isso!

E voltando para “Manari” Kathauã perguntou-lhe:

- Por que o senhor quer vender a sua filha?

- Porque me vejo sem condições de alimentar todos os meus filhos...

- E o senhor está trabalhando?

- Não senhora.

- E por que não está engajado em um serviço qualquer?

- Dona, os coronéis e fazendeiros pagam muito mal e só querem escravizarem a gente. É um sofrimento para quem trabalha para aquele povo.

- Quer dizer que o senhor não quer ser escravizado pelos coronéis e fazendeiros, mas quer que a sua filha que tanto o senhor a beijou quando pequeninha, agora quer que ela seja escravizada por esta gente.

Ouvindo estas palavras o índio “Manari” calou sua voz. Não disse mais nem uma e nem duas.

- O senhor já ouviu falar na índia Kathauã, aquela que não dá chance a nenhum malandro que não quer trabalhar?

- Já ouvi, sim senhora...

- Pois saiba "bichim" que a Kathauã sou eu. Levante-se e vá logo procurar trabalhos por aí. Não quero mais ouvir falar que o senhor está querendo vender sua filha! Não só coronéis e fazendeiros têm serviços, como vários donos de vazantes e agricultores têm trabalhos para quem quiser trabalhar. Eu vou embora, mas se eu ainda ouvir falar que o senhor vendeu ou continua querendo vender a sua filha, eu retorno aqui e o senhor não se livrar de jeito nenhum dos meus chicotes. – Dizia ela em voz alterada e enraivada.

E montando-se no seu cavalo, chicoteou-o e foi-se embora.

O índio “Manari” foi trabalhar e desistiu da ideia de vender a sua querida filhinha.

Sabendo que o índio “Manari” obedeceria as suas ordens Kathauã nunca mais voltou à sua casa.

O "Manari" já tinha conhecimento dos seus arrufos e não era maluco de desobedecê-la.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

DOIS LIVROS DO ESCRITOR LUIZ RUBEN BONFIM

Autor Luiz Ruben Bonfim

Adquira logo o seu através do e-mail acima:

 

Não deixe de adquirir esta obra. Confira abaixo como adquiri-la.

Lembre-se que se você demorar solicitá-la, poderá ficar sem ela em sua estante. Livros que falam sobre "Cangaço" a demanda é grande, e principalmente, os colecionadores que compram até de dezenas ou mais para suas estantes.

Valor: R$ 40,00 Reais
E-mail para contato:

luiz.ruben54@gmail.com
graf.tech@yahoo.com.br

Luiz Ruben F. de A. Bonfim
Economista e Turismólogo
Pesquisador do Cangaço e Ferrovia

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

MORTE DO CANGACEIRO BRIÓ.

  Por José Mendes Pereira   Como muitos sertanejos que saem das suas terras para outras, na intenção de adquirirem uma vida melhor, Zé Neco ...