Por José Mendes Pereira
Já havia
completado cinco anos que seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) não via os seus
2 irmãos mais novos que moravam em Fortaleza, no Estado do Ceará. E por último,
estava com viagem pronta para revê-los, já que eles também não mais pisaram nas
terras mossoroenses, devido as suas preocupações relacionadas aos seus empregos
lá no Ceará.
Em uma
quarta-feira do mês de agosto seu Galdino e dona Dionísia pegaram o primeiro
ônibus executivo que vinha de Natal rumo à Fortaleza. Cada um segurava a alça
da sua mala, mas com pouquíssimas roupas.
A sua fazenda
deixara aos cuidados do compadre Leodoro Gusmão. Os bolsos estavam bem
preparados com dinheiro farto, valor adquirido do carnaubal que arrendara ao
Chico Leandro. E se abalaram para reverem aquela gente que não mais a viram.
Dona Dionísia
não conhecia Fortaleza, mas tinha percorrido algumas cidades do Ceará, como
Aracati, lugar onde havia nascido a sua estimada mãe. Limoeiro do Norte era a
cidade do pai, que em 1927, conheceu pessoalmente Virgolino Ferreira da Silva o
Lampião, quando de sua fugida de Mossoró, por ter se atrapalhado ao idealizar o
assalto a uma cidade de grande porte como era Mossoró na época.
O ônibus saiu
às 4:00 horas da manhã da Estação, mas devido as péssimas condições das
estradas que percorriam só colocaram os seus pés na cidade de Fortaleza após
oito horas da manhã.
Na estação
rodoviária os manos e as suas esposas já aguardavam a chegada do casal. Seu
Galdino foi o primeiro a descer do ônibus, empacotado numa bela roupa comprado
o tecido no Armazém Narciso em Mossoró.
Logo em
seguida, dona Dionísia descia arrastando a sua mala com um belo penteado,
apenas um pouquinho arrepiado, devido o vento, que vez em quando, entrava no
ônibus.
E ali, deram
início aos abraços para aqui, para acolá. Em seguida, rumaram até a residência
do Gaudêncio, o irmão mais novo do seu Galdino, que apesar da humildade, mesmo
assim, morava bem próximo à “Praça Ferreira” que fica no centro da cidade.
O dia todo foi
vivido por seu Galdino e os seus manos com lembranças do tempo de criança, de
jovem, lá na casa de taipa do velho pai Galdino Borbagato Mendonça. Lembraram
dos frequentes banhos no rio que passava bem próximo à casa da pequena fazenda
da propriedade. Os jogos de bolas em frente ao estábulo com bolas feitas com
meias..., as festas juninas, apenas sendo divertidas com um pequeno rádio
“ABC”. Ali, viveram novamente a infância e a adolescência.
Ao anoitecer,
seu Galdino desejou passar um tempinho sentado em um banco na Praça Ferreira. O
irmão Galdêncio não era de acordo da sua ida até a Praça, porque ali era muito
frequentado por bandidos que tomavam os pertences de quem lá se sentava.
E alertando-o,
disse:
- Eu sei que
você é muito cuidadoso e observador, mas eu não sou de acordo você ir para a
praça sozinho. Mas você quer ir, tenha cuidado, porque os ladrões aqui em
Fortaleza roubam o sujeito e ele nem percebe...
- Mas eu vou
com cuidado, mano. Não se preocupe. Eu tenho os meus malabarismos para esta
gente.
E seu Galdino
tinha mesmo. Foi até ao quarto da casa em que estava hospedado, apoderou-se de
uma tesoura, e começou cortar papel, cada papel do tamanho de uma nota de 1000
Cruzeiros. Depois juntou todos em um só pacote, colocou uma nota de dez mil
cruzeiros por cima dos papéis, prendeu-os com uma liga, enfiou o pacote no
bolso direito da calça, pondo também no bolso a sua antiga e surrada “RG” -
Identidade. Em seguida, rumou para a Praça Ferreira, na intenção de mostrar a
um ladrão ou aos ladrões que eles não o roubariam de forma alguma.
Mas ao chegar
à Praça seu Galdino Borba(gato) viu logo de cara um sujeito bem vestido e sem
aparência de malandro, alto, magro e usando calças Jens e camisa amarela, e que
disfarçadamente, caminhava com passos lentos, de cabisbaixa e, nas mãos, uma
espécie de mochilas.
Ao vê-lo, seu
Galdino colocou um rabo de olhos em sua direção para abalizá-lo da cabeça aos
pés, e concluiu que aquele sujeito nada mais era do que um ladrão, que naquele
momento, se fazia de homem honesto. Seu Galdino deu início à caminhada, mas
andava ao contrário do suposto ladrão. Com alguns minutos que já haviam se
passado o homem passou por seu Galdino duas vezes.
Mesmo tendo em
dinheiro apenas a nota de mil cruzeiros no pacote, e prevendo que poderia ser
roubado, seu Galdino colocou a mão direita, protegendo o pacote para não ser
assaltado. E assim que o suposto ladrão passou por seu Galdino, perguntou-lhe:
- O senhor é
de Mossoró?
- Sou. E como
é que o senhor sabe que eu sou de Mossoró?
- Eu vi pela
sua identidade.
- Pela minha
identidade?
- Sim. – Disse
o suposto ladrão sorrindo.
- Mas aonde e
quando foi que o senhor viu a minha identidade?
- Vi agora
mesmo aí no seu bolso...
- E se eu não
lhe mostrei a minha identidade?
- Antes de
você segurar o pacote eu já tinha olhado o seu bolso. Pensou de me enganar, mas
vi que quem se enganou foi você. Até a nota de dez mil cruzeiros já está no meu
bolso.
O homem disse
e foi embora.
Seu Galdino
olhou para um lado e para o outro, dizendo:
- Em lugar
nenhum ninguém mais se livra de ladrão. O ladrão tirou a minha nota do bolso e
eu nem senti. Eu até duvidava de um dia ser roubado, mas vi que o Brasil tem
ladrão de sobra”.
http://josemendeshistoriador. blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário