domingo, 24 de junho de 2018

SEU GALDINO FOI VISITAR FAMILIARES EM FORTALEZA

Por José Mendes Pereira

Já havia completado cinco anos que seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) não via os seus 2 irmãos mais novos que moravam em Fortaleza, no Estado do Ceará. E por último, estava com viagem pronta para revê-los, já que eles também não mais pisaram nas terras mossoroenses, devido as suas preocupações relacionadas aos seus empregos lá no Ceará.

Em uma quarta-feira do mês de agosto seu Galdino e dona Dionísia pegaram o primeiro ônibus executivo que vinha de Natal rumo à Fortaleza. Cada um segurava a alça da sua mala, mas com pouquíssimas roupas.

A sua fazenda deixara aos cuidados do compadre Leodoro Gusmão. Os bolsos estavam bem preparados com dinheiro farto, valor adquirido do carnaubal que arrendara ao Chico Leandro. E se abalaram para reverem aquela gente que não mais a viram.

Dona Dionísia não conhecia Fortaleza, mas tinha percorrido algumas cidades do Ceará, como Aracati, lugar onde havia nascido a sua estimada mãe. Limoeiro do Norte era a cidade do pai, que em 1927, conheceu pessoalmente Virgolino Ferreira da Silva o Lampião, quando de sua fugida de Mossoró, por ter se atrapalhado ao idealizar o assalto a uma cidade de grande porte como era Mossoró na época.

O ônibus saiu às 4:00 horas da manhã da Estação, mas devido as péssimas condições das estradas que percorriam só colocaram os seus pés na cidade de Fortaleza após oito horas da manhã.

Na estação rodoviária os manos e as suas esposas já aguardavam a chegada do casal. Seu Galdino foi o primeiro a descer do ônibus, empacotado numa bela roupa comprado o tecido no Armazém Narciso em Mossoró.

Logo em seguida, dona Dionísia descia arrastando a sua mala com um belo penteado, apenas um pouquinho arrepiado, devido o vento, que vez em quando, entrava no ônibus.

E ali, deram início aos abraços para aqui, para acolá. Em seguida, rumaram até a residência do Gaudêncio, o irmão mais novo do seu Galdino, que apesar da humildade, mesmo assim, morava bem próximo à “Praça Ferreira” que fica no centro da cidade.

O dia todo foi vivido por seu Galdino e os seus manos com lembranças do tempo de criança, de jovem, lá na casa de taipa do velho pai Galdino Borbagato Mendonça. Lembraram dos frequentes banhos no rio que passava bem próximo à casa da pequena fazenda da propriedade. Os jogos de bolas em frente ao estábulo com bolas feitas com meias..., as festas juninas, apenas sendo divertidas com um pequeno rádio “ABC”. Ali, viveram novamente a infância e a adolescência.

Ao anoitecer, seu Galdino desejou passar um tempinho sentado em um banco na Praça Ferreira. O irmão Galdêncio não era de acordo da sua ida até a Praça, porque ali era muito frequentado por bandidos que tomavam os pertences de quem lá se sentava.

E alertando-o, disse:

- Eu sei que você é muito cuidadoso e observador, mas eu não sou de acordo você ir para a praça sozinho. Mas você quer ir, tenha cuidado, porque os ladrões aqui em Fortaleza roubam o sujeito e ele nem percebe...

- Mas eu vou com cuidado, mano. Não se preocupe. Eu tenho os meus malabarismos para esta gente.

E seu Galdino tinha mesmo. Foi até ao quarto da casa em que estava hospedado, apoderou-se de uma tesoura, e começou cortar papel, cada papel do tamanho de uma nota de 1000 Cruzeiros. Depois juntou todos em um só pacote, colocou uma nota de dez mil cruzeiros por cima dos papéis, prendeu-os com uma liga, enfiou o pacote no bolso direito da calça, pondo também no bolso a sua antiga e surrada “RG” - Identidade. Em seguida, rumou para a Praça Ferreira, na intenção de mostrar a um ladrão ou aos ladrões que eles não o roubariam de forma alguma.

Mas ao chegar à Praça seu Galdino Borba(gato) viu logo de cara um sujeito bem vestido e sem aparência de malandro, alto, magro e usando calças Jens e camisa amarela, e que disfarçadamente, caminhava com passos lentos, de cabisbaixa e, nas mãos, uma espécie de mochilas.

Ao vê-lo, seu Galdino colocou um rabo de olhos em sua direção para abalizá-lo da cabeça aos pés, e concluiu que aquele sujeito nada mais era do que um ladrão, que naquele momento, se fazia de homem honesto. Seu Galdino deu início à caminhada, mas andava ao contrário do suposto ladrão. Com alguns minutos que já haviam se passado o homem passou por seu Galdino duas vezes.

Mesmo tendo em dinheiro apenas a nota de mil cruzeiros no pacote, e prevendo que poderia ser roubado, seu Galdino colocou a mão direita, protegendo o pacote para não ser assaltado. E assim que o suposto ladrão passou por seu Galdino, perguntou-lhe:

- O senhor é de Mossoró?

- Sou. E como é que o senhor sabe que eu sou de Mossoró?

- Eu vi pela sua identidade.

- Pela minha identidade?

- Sim. – Disse o suposto ladrão sorrindo.

- Mas aonde e quando foi que o senhor viu a minha identidade?

- Vi agora mesmo aí no seu bolso...

- E se eu não lhe mostrei a minha identidade?

- Antes de você segurar o pacote eu já tinha olhado o seu bolso. Pensou de me enganar, mas vi que quem se enganou foi você. Até a nota de dez mil cruzeiros já está no meu bolso.

O homem disse e foi embora.

Seu Galdino olhou para um lado e para o outro, dizendo:

- Em lugar nenhum ninguém mais se livra de ladrão. O ladrão tirou a minha nota do bolso e eu nem senti. Eu até duvidava de um dia ser roubado, mas vi que o Brasil tem ladrão de sobra”.

http://josemendeshistoriador. blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

MORTE DO CANGACEIRO BRIÓ.

  Por José Mendes Pereira   Como muitos sertanejos que saem das suas terras para outras, na intenção de adquirirem uma vida melhor, Zé Neco ...