sexta-feira, 29 de novembro de 2019

SEU GALDINO, A ONÇA E O MEL.


Por: José Mendes Pereira
- Compadre Galdino, a sua novilha já pariu? – perguntou seu Leodoro sentado sobre uma cocheira no estábulo, enquanto fabricava um cigarro de fumo bravo.
- Ainda não, compadre. Ainda não. E eu não estou querendo soltá-la no pasto, para que eu possa acompanhar o seu parto de perto. E eu tenho medo que as onças comam o bezerro quando nascer. Ela está com um úbere que faz gosto de ver. E me parece que vai ser uma boa vaca leiteira.
- Foi à caça hoje, compadre Galdino?
- Fui. Mas não foi totalmente uma caça. Apenas eu sabia onde tinha uma colmeia de abelhas italianas, e como aqui em casa já estava quase sem mel, eu fui obrigado a ir tirá-la.
- Onde foi que o senhor encontrou esta colmeia?
- No Riacho do Pai Antonio – dizia seu Galdino apontando a direção.
- A colmeia estava gorda, compadre Galdino?
- Não tão gorda assim, pois eu esperava mais... Mas ainda me rendeu uma lata de mel, aliás, mel e cera.
- É, compadre, nesse período elas não estão tão gordas. Só quando chegar a primavera, período das flores e dos frutos.
- Mas compadre Leodoro, eu acho que Deus sempre me acompanha em minhas andanças.
- Sim senhor! – fez seu Leodoro.
- Assim que terminei o trabalho, isto é, da tirada do mel, eu não quis mais demorar pelas caatingas. Lá no Riacho do Pai Antonio, o senhor conhece muito bem aquele baixio... eu estava na barreira, na parte alta, pelo lado de lá, tentando adquirir fôlego para enfrentar a viagem para casa. Fiz um cigarro, e quando o levei à boca para acendê-lo, fui surpreendido por uma onça vermelha.
- Uma onça vermelha, compadre, nessa mata?! – atalhou seu Leodoro se admirando.
- Sim senhor! Ela estava trepada em uma árvore, que se eu não tivesse levantado a vista, ela tinha me pegado e me estraçalhado de uma só abocanhada. Ela estava bem pertinho de mim, com os olhos aboticados me observando. De arma, eu só tinha meu facão. Tomei posição para enfrentá-la, mas tive medo, porque ela poderia tomar da minha mão o meu facão só com uma tapa. Mas veja o que passou por cima de mim...
- O que, compadre, passou diante do senhor? - interrompei Leodoro.
- Uma macaca, compadre. Uma macaca prego com um filhote sobre às costas. Ela vinha dependurada em um cipó. E quando se aproximou de mim, soltou o cipó, e com o impulso do seu próprio corpo, caiu do outro lado do riacho. Mas antes de soltar o cipó, eu ouvi uma voz que dizia assim: "- Salve-se, seu Galdino! Salve-se! Dependura-se no cipó e passe para o outro lado do córrego, se não a onça te come!"
- A macaca falou, compadre? – Quis duvidar seu Leodoro.
- Se não foi ela compadre, foi Deus! E eu que não sou besta, agarrei o cipó e me mandei dependurado nele, e só o soltei quando eu já estava do lado de cá com os pés em terra firme.
- Já vi, compadre Galdino, o senhor tem razão em dizer que Deus lhe protege. Acontecer desta macaca passar dependurada no cipó, e soltá-lo para o senhor se salvar das garras da onça. Só pode ser milagre. Não é isso mesmo, compadre?
- E apois, compadre! – confirmou seu Galdino se gabando.
- Nesse momento que o senhor passou pro outro lado do riacho, perdeu o mel, mas ganhou a vida. - quis saber seu Leodoro,
- Quem lhe disse que eu perdi o mel, compadre Leodoro?
- O senhor voltou pro outro lado do riacho para apanhar o mel, diante da onça, que com certeza, ainda estava lá?
- Não senhor! O cipó que a macaca havia deixado para eu passar dependurado nele pro outro lado do córrego, tinha um gancho no final da ponta dele, e no momento em que eu o agarrei, passei sobre a lata do mel, o gancho enganchou no arame da lata, e se mandamos nós dois juntos, isto é, eu e a lata do mel.
- O senhor é guiado por Deus mesmo! Ah, se eu tivesse essa mesma sorte que o senhor tem, compadre Galdino!
- Graças ao meu bom Deus, compadre Leodoro. Se não fosse aquela macaca de me aparecer naquele momento, hoje eu seria um finado naquelas matas do Pai Antonio! Sim, senhor!!!
- Vou embora, compadre Galdino. A Gestrudes é muito medrosa e está só..., até mais tarde, compadre.
- Até, compadre Leodoro! Vai-te corno! Dizia seu Galdino consigo mesmo. A Gestrudes não tem medo de onça. Ela tem medo é de você, sua peste. Um homem ignorante que nem falar sabe direito!
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