domingo, 8 de abril de 2018

SÓ APRENDE SE TIVER VOCAÇÃO

Por José Mendes Pereira - (Crônica 97)

Como todo ser humano é uma cópia de outro eu não sou diferente do outro, e cada um de nós teve ou tem desejo de aprender uma profissão, mas só aprende de verdade se tiver vocação, caso contrário, nunca será rei no que aprendeu ou tenta aprender, porque  algumas atividades são exigentes, a gente quer elas, mas nem todas elas querem a gente.

Quando eu resolvi deixar o ramo gráfico profissão que passei 12 anos  eu fiquei como formiga sem formigueiro, pensando no que eu iria me dedicar para tanger a vida, adquirir o necessário para sustentar uma família com três filhos.

A primeira atividade que me veio na mente foi ser bodegueiro, porque quem tem bodega não passa fome, poderá quebrar, mas para isso acontecer, levará muitos meses para ficar sem nada. Enquanto tiver mercadorias nas prateleiras não lhe dará fome. 

Nesse mesmo período fui proprietário de bar e de casa de jogos. Estas duas últimas atividades  são muito traidoras, traiçoeiras, porque quando você pensa que está as iniciando, pensou tarde, já está terminando, os seus clientes foram os primeiros que se encarregaram de publicar os fechamentos das portas do seu comércio, não pagando o que devem, assim você irá à falência que queira ou que não.

Fui também proprietário de uma saboaria. Esta nem me tirou de tempo e nem me ajudou a progredir, mas mesmo assim, vivi por alguns meses humilhado a ela. Após estas que já falei posteriormente fui serralheiro, confeccionando portões e grades de ferro, uma das profissões que mais permaneci, exceto "sala de aula", porque esta foi a que eu mais me adaptei às suas exigências, por ser filho de camponês,  apesar da atividade não ter nenhuma  semelhança com campo, mas sempre gostei de trabalhos que não sejam melindrosos, isto é, por exemplo: necessário usar gravata e paletó “no modo de dizer”. 

Na profissão de serralheiro eu fui mais adiante, mesmo já sendo funcionário da educação estadual, vivi dependendo dela durante 17 anos, porque eu só trabalhava na parte da noite, assim durante o dia eu confeccionava portões e grades.

No meio destas tentativas (só me estacionando em serralheria) tentei uma que mais me deixou desanimado. Fiz curso por correspondência de “Rádio técnico Transistor TV Preto/Branco e Colorido” pela IUB – Instituto Universal Brasileiro, mas foi a tentativa de profissão que me deixou frustrado para o resto da vida, porque, assim que eu terminei o curso, fui fazer estágios com um primo meu, e lá, nunca aprendi trocar um transistor, um diodo, uma resistência, um capacitor..., porque ele só me mandava limpar os aparelhos. Como ele não me deu uma única oportunidade de aprender algo, fui obrigado abandoná-lo e partir para a “Eletrônica” sozinho, mas somente rádio.

O Instituto Universal me deu o material necessário de trabalho como: soldador, alicate de corte, solda, sugador de solda, material para montar um pequeno rádio..., faltando apenas em minha bancada um teste chamado multímetro, porque este a escola não dava. Mas fiz de tudo e comprei. Com tudo em mãos gastei com uma bancada com seis gavetas. Eletrifiquei-a, porque afinal, ela iria receber um grande profissional da eletrônica, no caso, eu mesmo.

E lá me vem clientes. Na casinhola o profissional em rádio em televisão preto/branco e colorido  esperava de braços abertos. Todos os clientes confiantes que eu era técnico dos bons. Cada rádio que eu recebia para concertá-lo eu me sentia um médico dos rádios, um esculápio técnico de primeira categoria de todos os tempos. 

Mas eu, o técnico, estava totalmente enganado. Rádio entregue, não demorava para me vim reclamações. 

- O que houve, o rádio parou? - Eu me adiantava e perguntava ao cliente. 

- Não Mendes, de jeito nenhum... 

Ali, eu ficava pensando e me perguntando. E o que será, se ele não parou?

- O problema do rádio Mendes, é que ele está fanhoso. - Dizia-me o cliente em risos.

Outro.

- O rádio fala, mas parece que os locutores estão com fortes gripes...!

Mais outro.

- Foi a primeira vez que eu vi rádio ficar como se estivesse gago...

A solução foi eu abandonar bem antes de começar esta profissão tão linda que é, mas se os rádios que eu os consertava eu não sabia tirar os seus defeitos?

http://josemendeshisroiador.blogspot.com

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