Por José Mendes Pereira - (96)
Foi lá pela década de 60 do século XX que isto
aconteceu em Mossoró.
João Paulo e Pedro de Osmildo eram dois grandes amigos. Amigos de infância, que viviam no mesmo bairro, na mesma rua, dividindo o mesmo espaço entre familiares. Comendo no mesmo prato, e juntos, participavam de todos os divertimentos que o bairro e a cidade promoviam.
João Paulo era reparador de
sapatos e chinelos, mas não era fabricante destes. Na época, era um dos melhores
para este fim, e até reparava pisantes (gíria) de pessoas mais importantes em
Mossoró. Sapatos e chinelos com defeitos, muitos já sabiam a quem recorrer para
o conserto, o João Paulo.
Pedro de Osmildo vivia de alguns
aluguéis e dono de uma pequena vila no grande Alto de São Manoel, mas, além
disto, negociava com bugigangas pelos bairros de Mossoró, transportando as suas mercadorias sobre uma carroça.
Vez por outra os dois bebiam
juntos pelos bares do bairro, e lá, ingeriam uma porção de bebidas
alcoólicas, mas mesmo embriagados, jamais discutiram em lugar nenhum.
Aconteceu que certo dia, Luiz da
Quitanda como era chamado, querendo acabar com aquela grande amizade, criou um
não acontecido, e ele mesmo enredou ao Pedro de Osmildo, que o João Paulo
andava difamando uma das suas filhas. E que cuidasse logo de frear a sua
língua, para que o assunto sobre a virgindade da filha não chegasse aos
fofoqueiros de calçadas.
Assim que tomou conhecimento
sobre o desrespeito de João Paulo usando o nome da sua filha Pedro de Osmildo
perdeu o controle emocional, e foi ao seu encontro, para devidas
explicações. O certo é que o João Paulo jamais dissera algo sobre as filhas do
Pedro de Osmildo, pois o considerava como irmão, e se existiam coisas que
desrespeitavam as suas filhas, até o momento não tomara conhecimento. E se isso
existisse, não tinha interesse de sair boatando, já que as filhas do Pedro de
Osmildo eram como se fossem suas sobrinhas.
E ao chegar à oficina do João Paulo
o encontrou consertando um par de sapatos, e sem mais nem menos, Pedro de
Osmildo foi logo direto ao assunto, dizendo-lhe:
- João Paulo, estou muito
chateado com você, e eu não esperava que um dia as nossas amizades chegassem ao
fim.
- Mas o que está
acontecendo, meu irmão Pedroca? - Perguntou o João Paulo.
- Tomei conhecimento de que você
anda falando mal da minha filha Marília.
- Mas homem de Deus...! Quem lhe
falou tamanha barbaridade, afirmando que eu falei mal da Marília?
- Quem me contou foi o Luiz da
Quitanda.
- Mas homem, será que o Luiz da
Quitanda está maluco, ou está querendo fazer intrigas entre nós?
- Se ele está louco eu não sei. E
se ele me disse isto é porque você falou. - Dizia o Pedro de Osmildo.
- Homem de Nosso Senhor Jesus
Cristo, vamos até à casa de Luiz da Quitanda, para que ele afirme isso na minha
presença.
- Não adianta, João Paulo! De
onde a gente não espera é de onde vem. - Fez o Pedro de Osmildo.
- Mas meu amigo e irmão Pedroca,
confie em mim! Eu jamais diria isso com uma das suas filhas..., e já vi
que você prefere acreditar no Luiz da Quitanda do que em mim.
Com o ódio e decepcionado com um
dos melhores amigos Pedro de Osmildo puxou uma faca peixeira da cintura, e
partiu para cima do João Paulo, furando-o por todos os lugares da barriga.
Já caído ao chão,
fracamente, João Paulo exclamou:
- Matou-me meu amigo e irmão!
Jamais abri minha boca para falar das suas filhas, que até hoje, eu as tinha
como minhas sobrinhas.
Ouvindo esta frase (matou-me meu
amigo e irmão!) e presenciando o sangue saindo com força da barriga do amigo, o
Pedro de Osmildo arrependeu-se, e foi o socorrer, tentando levantá-lo para um
possível socorro, mas já era muito tarde.
E sem o
Pedro de Osmildo perceber foi neste momento que o João Paulo arrastou a sua
afiadíssima faca, que com ela cortava os couros para os reparos de sapatos; com
a pouca força que ainda lhe restava, aplicou-a no pescoço do Pedro de
Osmildo, degolando-o. E ali, mesmo, os dois morreram.
Hoje, os filhos de ambos vivem
pacificamente, na mesma Rua e bairro onde nasceram. Nenhuma intriga, nenhuma
rixa. Continuam como antes, amigos, ou quem sabe, irmãos. E alegam que os pais
não deixaram vinganças, porque o Pedro de Osmildo matou o João Paulo, e o João
Paulo matou o Pedro de Osmildo.
Quanto ao Luiz da Quitanda ele
vivia com problemas de saúde, e morreu dois anos depois deste
acontecimento.
Minhas Simples
Histórias
Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar
outro.
Fonte:
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com.br/2014/01/uma-terrivel-tragedia.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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