sexta-feira, 23 de março de 2018

PRA NÃO DIZEREM QUE EU NÃO FALEI DE PAPARAZZI

Por José Mendes Pereira - (Crônica 83) 

O que é paparazzi? 
           
No dicionário Aurélio paparazzi são profissionais que se dedicam a tirar fotos indiscretas de pessoas conhecidas ou ilustres. 
            
No nosso caso vamos aportuguesar esta palavra, passando a ser escrita, paparazo e lhe dando o feminino, paparaza. É claro que ela não significa o que segue, mas façamos de conta que sim. É apenas uma brincadeirinha.
            
Em todas as repartições públicas o diretor tem duas pessoas de grande confiança, elas são as suas paparazas, que se encarregam de todas as coisas relacionadas com a sua administração.
            
Vamos nomeá-las para que nós entendamos melhor o que segue. 
            
A primeira paparaza é a Marcileide. Sempre está sentada ao lado direito do diretor, e se encarrega dos papéis, arrumando-os com muito cuidado, olhando se estão assinados, carimbados, e se os mesmos estão selecionados. Tem o maior prazer de carimbar diante do diretor. Tuf. Tuf. Torce muito para que algum deles esteja faltando a assinatura do diretor, para ter o gosto de dizer:
            
- Seu Paulo, falta o senhor assinar este.
            
E o  diretor  cheio de ponderações, jamais  teve tanto agrado, até mesmo em casa, sorri dizendo-lhe:
           
- Tem razão! Eu tinha me esquecido. Obrigado! Agradece ele com um obrigado lacônico. 
            
E quando tem contas para pagar a Marcileide está atenta! Sim senhor! Oferece-se para ir fazer o pagamento no banco, e muitas vezes, ela não tem nem tempo para isso. 
            
- Não posso negar nada a ele. Afinal minha gente, ele é o meu diretor.
           
Diz isso a todos, na finalidade do diretor tomar conhecimento através das outras pessoas, que ela é muito responsável em tudo que toma de conta.
            
A segunda paparaza é a Kátia. Geralmente se senta ao lado esquerdo do diretor, e se encarrega de uma fofoca, mas ela não imagina que a turma já observou o seu comportamento de fofoqueira. 
            
- Eu não tenho certeza seu Paulo, mas pelo que me falaram..., Deus me livre dele saber que eu comentei ao senhor..., pelo amor de Deus, o senhor não comente isso a ninguém..., mas foi ele quem rasgou os livros..., quebrou a garrafa de café..., quem criticou da sua administração...
            
Também é encarrega de um docinho, água bem geladinha, bolachinha, de um cafezinho, e tem o maior cuidado com as xícaras para que não estejam com cheiro de baratas. O café não pode ser forte. Daí a pouco, ela aparece com o sorriso no rosto. E em suas mãos, um cafezinho para o diretor. 
             
- Quer um cafezinho, seu Paulo? - Diz ela bem educadamente.
             
- Lógico! Exclama ele. Recebe das mãos dela e começa a tomar.
             
Minutos depois ela pergunta meio desconfiada:
             
- O café está gostoso?
             
- Além de bom! Está ótimo! – Responde ele num tom de admiração...,  é Kimimo ou Santa Clara?
            
- É Kimimo. Mas se o senhor gosta mais do Santa Clara amanhã eu o compro.
            
- Não, Não! Faz ele meio sem graça. Não tenho opções. Todos são cafés.
            
- Está doce? 
            
- Está! E gostoso!
            
- Nessa vasilha tem bolachas. – Diz ela meio tímida e sorrindo. 
            
O diretor apodera-se de uma bolacha, mas não é a do seu gosto.  Bolacha recheada é para criança que ainda não mudou os seus dentes de leite. Afinal, ele cuida bem dos seus. Habitualmente ele vai ao dentista para fazer limpeza. Mas continua comendo, quase sem querer descer na hora de engolir.
             
A Kátia está ali por perto, quase como uma mãe protetora, e não desgruda o olhar.
             
Mas de repente, ela nota coisas diferentes com o diretor, e pergunta-lhe: 
             
- O que houve, seu Paulo?
             
- Nada! Nada! – Diz ele quase entalado.
             
- O senhor quer um copo  d’água? 
             
- Não, não é necessário!
             
E ele continua comendo, e vez por outra faz: unrum, mastiga, bebe água e tome água e unrum, e tome café e unrum, e tome mais bolachas, unrum...
             
O diretor não precisa se preocupar, pois ao seu lado está uma grande protetora. É uma coisa fantástica o zelo que ela tem com o diretor.
             
Mas o seu Paulo parece que está querendo provocar, e está engasgado, causado pelas bolachas. E de vez em quando quer cair sobre o birô, quer provocar, com um enjoo terrível. Tenta jogar fora o que comeu, mas não tem jeito, apenas está com nojo das bolachas recheadas. Abre a boca para vomitar, tem uma boca enorme, pois se tentar, cabe um pacote de pão de forma.
             
- Meu Deus!  Que homem de boca grande! - Admira-se a Kátia com a voz baixinha para que ele não a perceba.         

Mas ela continua preocupada. Afinal, foi a única causadora de tudo, pois o diretor não é criança para estar comendo bolachas recheadas.
             
- Quer mais um copo d’água, seu Paulo?
             
-Não! Não! – Eu estou bem, obrigado! Não se preocupe comigo! Já passou. - Diz ele passando a mão sobre a barriga...

E assim são os paparazos de um diretor.

Minhas simples histórias


Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar outro.


http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com.br/2013/01/pra-nao-dizerem-que-eu-nao-falei-de.html

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