Por José
Mendes Pereira - (Crônica 33)
Meu amigo e
irmão Raimundo Feliciano:
Já se passaram 48 anos que nós fizemos a primeira marcha
oficial pelo Tiro de Guerra de Mossoró.
Quem está de
fora pensa que prestar serviços militares às Forças Armadas é moleza. Mas na
verdade não é. Os sofrimentos são terríveis, cobranças por qualquer erro; uma
palavra ou resposta dada aos superiores é preciso que sejam calculadas o tamanho
e seu peso, pois poderá pagar caro por isso.
Você, meu amigo
Raimundo, foi um que não media as suas palavras, e por isso, sempre estava
escalado para faxinar.
No dia 7 de
Setembro de 1970, ali, no meio das Ruas de Mossoró, nós estávamos
desfilando para a população nos aplaudir. O sol escaldante nos deixou com a
pele frágil no meio daquela multidão.
Passamos
alguns dias treinando o que deveríamos fazer no momento da nossa entrada às
ruas; quem iria seguir à frente, puxando as três turmas de atiradores; as
exigências feitas pelos sargentos, às advertências para conservarmos os passos
sem erros; as fardas limpas e bem passadas; os coturnos reparados pelo
sapateiro, batendo os pregos...; os gorros postos às cabeças um pouco de lado,
cintos com as fivelas brilhando. Estes cuidados teriam que ser cumpridos, e ai
daquele que chegasse ao TG sem estas exigências.
Para o reparo
geral das nossas fardas, muito agradecemos à dona Maria de Lourdes
Medeiros (aqui abro um parêntese meu amigo Raimundo Feliciano, para lhe
comunicar que hoje, às 10 horas desta manhã, recebi informação que dona Maria
de Lourdes de Medeiros faleceu ontem em Mossoró, e que Deus a tenha em um bom
lugar), zeladora da Casa de Menores Mário Negócio, que sempre teve o
cuidado de examinar todo o nosso uniforme, costurando aqui e ali, porque nós
vestíamos fardamentos usados pelas tropas de Natal, e geralmente, já estavam
bastante surrados.
Com
experiência da sofrida marcha de 7 de Setembro, no ano de 1970, fiquei tramando
um jeito de me livrar do 30 de Setembro, sendo que este só é comemorado
em Mossoró.
Já bem próximo
a esta comemoração, isto é 30 de Setembro, fui até ao sítio do meu pai, e lá,
casualmente, fui atingido na perna (canela), por uma ponta de pau, conhecida por Estrepa cavalo, ficando um pedacinho alojado na carne, e até supurava um
pouco.
Como eu
planejava não marchar naquele dia não fiz tratamento e nem procurei um médico
para consultá-lo, porque se eu tentasse tratar o ferimento, com certeza, o
sargento Gumercindo não me liberaria daquela sofrida marcha.
Mas me enganei
por completo. Um dia antes, eu fui até à presença do sargento Gumercindo para
lhe apresentar o ferimento na minha perna. Mas o resultado foi negativo. Não
me dispensava de jeito nenhum da marcha.
E lá,
verbalmente, ele me bateu forte, chamando-me de relaxado, manhoso, desastrado,
preguiçoso, que eu deveria ter cuidado do ferimento antes, que isso sempre
acontecia com certos atiradores, tentando ludibriá-los. “- Tem que marchar, do
contrário, você irá para a tropa de Natal”.
No dia
seguinte, lá eu estava marchando com a tropa. O sargento tinha razão. O
ferimento na minha perna não era tão grave assim. Era manha mesmo.
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