Por José
Mendes Pereira - (Crônica 32)
Diz o
jornalista Alexandre Gurgel que o verdadeiro nome do cangaceiro Massilon era
Benevides Leite. Este, havia nascido lá pras bandas de Luís Gomes, aqui no
Estado do Rio Grande do Norte.
Adquiriu um
pseudônimo para si, “Massilon”, e o porquê ninguém sabe explicar. Apesar de ter
se tornado cangaceiro, mas antes, era um jovem que gostava de preservar as suas
amizades com os que lhe rodeavam, pois ainda não havia exposto as suas maldades
contra ninguém. Os seus bons divertimentos eram: frequentar diariamente casas
onde eram colocadas cartas de baralhos sobre a mesa; e gostava muito de estar
presente a bares para ingerir bebidas alcoólicas, principalmente uma boa
cachaça.
Massilon Leite
era obcecado pela almocrevaria, trazendo algodão para Mossoró, e com os bons
lucros que lhe renderam durante as suas viagens como comboieiro, transportando
algodão para Mossoró, sobre o lombo de animais, posteriormente conseguiu ser
proprietário de um caminhão, e, a partir daí, começou a transportar o produto no
seu automóvel. Mas infelizmente, ele foi obrigado a deixar a vida de
caminhoneiro, devido as estradas não ofereciam boas condições para rodar.
Certa vez, lá
em Belém do Brejo do Cruz, no Estado da Paraíba, em confronto com a polícia, Massilon assassinou um soldado, e temendo ser justiçado, conseguiu fugir em
direção às caatingas, e lá, se incorporou ao bando de Lampião. O tempo foi se
passando, e aos poucos ele foi se tornando um homem paparicado pelo capitão.
Mais ou menos
no mês de abril, ou possivelmente no princípio do mês de maio de 1927, Massilon
já se sentindo um homem de confiança de Lampião, e confiante de alguns acordos
feito com Décio Holanda e o coronel Isaías Arruda, ambos cearenses, fez-lhe a
proposta ao rei para juntos fazerem uma invasão à Mossoró, afirmando o
cangaceiro que era a maior cidade potiguar, sendo bem estruturada, com um
comércio que rendia muito, e além do mais, tinha bancos com bons movimentos, e
com certeza, assaltando-a, sairiam daqui com os bolsos e bornais abarrotados de
dinheiro.
Mas diz ainda
Alexandre Gurgel que Massilon era apaixonado por uma das filhas do prefeito
Rodolfo Fernandes, e sendo astucioso, sabendo que se os seus compassas
aceitassem invadir Mossoró, ataque que ele tinha plena certeza que daria certo,
seria uma boa oportunidade para levá-la consigo para as caatingas do nordeste.
Mas Lampião
não sabia que o maior interesse de Massilon pelo ataque a Mossoró era a paixão
irresistível que ele tinha pela filha do prefeito. É claro que se ele antes
tivesse tomado conhecimento desse desejo incontrolado do assecla pela moça, com
certeza, não teria dado a mínima atenção às suas palavras, e nem tão pouco vindo
a Mossoró.
E para que o
plano de atacar a cidade potiguar desse certo, Lampião confiava em alguns
bandidos que conheciam bem a região, os quais eram: Um senhor de nome Cecílio
Batista mais conhecido por Trovão, que em anos remotos, havia morado na cidade
de Assu, e já era dono de um currículo de maldades arquivado na delegacia de
polícia, sendo por desordens. José Cesário que vulgarmente era chamado
“Coqueiro”, que antes ganhava o seu ordenado mensal prestando serviços em
Mossoró. Júlio Porto um dos antigos motoristas da firma algodoeira “Alfredo
Fernandes”, com a alcunha de Zé Pretinho. E um dos idealizadores do ataque a
Mossoró, o Massilon que não poderia estar de fora, que tinha conhecimento de
todas as estradas que faziam chegar à cidade mossoroense.
O professor
Romero Cardoso em: “Massilon Benevides Leite e o ódio de Décio Holanda contra
Chico Pinto”, publicado em páginas do blog Sertão informado, em 17/06/2010, diz
o seguinte: “Décio Holanda era genro de Tylon Gurgel, homem respeitado na
região do Apodi, cujos domínios se efetivavam principalmente em Pedra da
Abelha, hoje município de Felipe Guerra (RN). Cearense de Pereiro, Décio
Holanda possuía hábitos e valores nada louváveis, como cultivar ódio em grau
exponencial, não conseguindo perdoar desafetos ou pessoas que o desagradassem.
Era vingativo ao extremo, movido por verdadeira sede de revanche. Amigo de
ex-comboieiro de nome Massilon Benevides Leite, Décio Holanda foi um dos
mentores que fomentaram o aliciamento de séquito de bandidos objetivando atacar
Mossoró. Aurora, no Ceará, um dos redutos dominados pelo poderoso “Coronel”
Isaías Arruda, foi outro ponto estratégico de apoio à empreitada que resultou
na tentativa audaciosa de ataque à segunda cidade potiguar, em 13 de junho de
1927”.
Em minha
humilde opinião o maior culpado da invasão à Mossoró foi o Massilon, pois se
ele não a conhecesse, Lampião não teria tomado conhecimento das riquezas da
cidade.
Romero Cardoso
diz que o ataque à Mossoró foi previsto para ser realizado no mês de maio. Mas
quando o bando de Lampião tomou direção ao Rio Grande do Norte, houve combate
em Belém do Rio do Peixe, que atualmente é a cidade “Uiraúna”, no Estado da
Paraíba, e lá, os resistentes estavam empiquetados na torre da igreja, que do
esconderijo, conseguiram assassinar dois valiosos cangaceiros do respeitado
bando de Lampião.
O rei se
sentindo vencido e quase sem munição, disse aos seus comandados que seria
melhor retornarem ao Ceará para a fazenda do coronel Isaías Arruda, e lá, com
certeza apanhariam mais munição e armas.
Assim que os
cangaceiros se prepararam com munição e armas, mesmo receoso para fazer a
invasão em Mossoró, Lampião se decidiu ao duvidoso ataque. E no dia 02 de maio
de 1927, a malta partiu em direção ao Rio Grande do Norte, pisando
nas terras da Paraíba, limitando-se com o Ceará, em direção à cidade de Luiz
Gomes, sendo esta localizada nas terras potiguar.
O respeitado
bando de Lampião não se encontrava completo, pois Massilon comandava uma parte
dos cangaceiros ainda no Estado do Ceará, e que antes de pisarem nas terras do
Rio Grande do Norte, eles teriam que assaltarem a cidade de Apodi, sendo esta
distante de Mossoró 76 km, também no mesmo Estado e no mesmo percurso.
Feito o
assalto, os bandidos teriam que se juntarem a Lampião em um lugar combinado por
ele, onde juntos, deveriam fazer reunião para tomarem rumo à Mossoró. E assim
que se juntaram, a partir daí, começaram as desordens dos asseclas por onde
passavam, e se sentindo donos das localidades, invadiam fazendas, lugarejos e
cidades, roubando tudo o que encontravam no percurso. Fizeram grandes estragos
com o auxílio do fogo, e prendendo aqueles que dispunham de bens materiais, e
com eles aprisionados, exigiam o pagamento do resgate. É óbvio que Lampião só
os soltaria se o regate fosse pago. Do contrário, seriam mortos pelas suas mãos
vingativas.
Em minha
opinião acho difícil que Lampião tenha anotado em sua agenda a possibilidade de
algum dia atacar Mossoró, simplesmente por três razões:
1 – Lampião
não era conhecedor das terras do Rio Grande do Norte, e principalmente Mossoró, que fica já próxima ao litoral;
2 – A
padroeira da cidade é a Santa Luzia, e se tem informação que ele mesmo sendo
facínora, era um dos seus admiradores, e com certeza, não tinha em sua mente
pensamentos guardados para lutar contra ela, depredando e assassinando pessoas
que viviam sob o seu olhar;
3 – É do
conhecimento de muitos que Lampião dizia que era um dos seus lemas: não invadia
cidades que tivessem igrejas com duas torres, é o caso da catedral de Santa
Luzia.
Mas talvez,
mesmo temendo isso, Lampião e o bando, juntos, fizeram reunião, no intuito de
chegarem a mais desenvolvida cidade do Rio Grande do Norte. Combinaram e
partiram para a grande empreitada.
Eu acredito
que Lampião não era muito de confiar em coiteiros e cangaceiros, que com
certeza, eram faca de dois gumes. Mas caiu nessa, de ter ouvido a conversa de
Massilon.
E já decidido,
partiu com a sua saga para a perigosa invasão, sendo os bandos comandados por:
Benevides Leite, o Massilon, José Leite de Santana, o Jararaca, Sabino Gomes, e
o cangaceiro Vinte e Dois; mas todos eram subordinados ao estado maior, que era
formado por Lampião, e Sabino Gomes.
O grupo de
cangaceiros era grande, mas depois da frustrada invasão à Mossoró, a maior
parte se desligou do grupo, inclusive Massilon e seu irmão Pinga Fogo, que se
debandaram sem nunca mais darem notícias onde estavam morando.
(Há um vago
comentário que após a invasão de Mossoró, Massilon foi embora para Goiás, e
posteriormente para São Paulo. Nos anos 50, ele foi visto no nordeste, sendo
dono de um caminhão novo, e com motorista particular. Mas essas informações não
foram reconhecidas pelos grandes escritores e pesquisadores).
Os facínoras
entraram pela cidade de São Sebastião
No dia 12 de
junho do mesmo ano, o bando de Lampião invadiu a cidade de São Sebastião,
atualmente Governador Dix-Sept Rosado, esta distante de Mossoró 34 km, e como
um estágio, se preparando para a tão falada invasão à Mossoró, lá, o bando
humilhou os moradores, deixando-os intranquilos, saqueando os objetos valiosos.
E, além disso, fizeram uma vítima, sendo esta, indefesa.
Os cangaceiros
apoderaram-se da estação ferroviária, cortaram os fios do telégrafo e dominaram
a cidade por completo, fazendo com que os moradores abandonassem as suas
residências e tomassem destinos às matas para se protegerem dos absurdos dos
facínoras.
Ao entrar nas
terras mossoroense Lampião imaginou desistir de fazer a invasão. Mas já que
com tanta dificuldade havia colocado os pés nas terras do município potiguar,
resolveu atacá-la. E sem mais pensar, enviou um bilhete ao prefeito, este
escrito pelas mãos de um dos prisioneiros, Antonio Gurgel do Amaral, que foi
obrigado a escrevê-lo, usando as palavras de Lampião.
"Meu caro
Rodolfo Fernandes.
Desde ontem
estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto
da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400
contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto
que ele promete não voltar mais a Mossoró..."
Ao receber o
bilhete de Lampião levado à sua casa através de um dos compassas do facínora,
Rodolfo Fernandes mandou pelo capanga uma bala embrulhada num papel. E ao
entregá-la, disse-lhe que dissesse ao capitão Lampião que ele não mandasse
ninguém. Ele mesmo entrasse na cidade, e viesse pessoalmente contar a quantia
solicitada.
Ao chegar ao
local em que eles estavam arranchados, lá para as bandas do Saco, atualmente
bairro Belo Horizonte, em Mossoró, Lampião perguntou ao mensageiro o que havia
dito o prefeito. O mensageiro retirou de seu bornal uma bala enrolada num papel
e o entregou, dizendo-lhe que Rodolfo Fernandes havia mandado lhe dizer que ele
mesmo entrasse na cidade e fosse pessoalmente apanhar a quantia solicitada.
Lampião ao
receber o provocante recado e se sentindo desconsiderado, disse que o prefeito
estava mesmo o provocando, e iria mostrar aquele cabra safado que ou rindo ou
chorando, ele entregaria o valor solicitado. E ainda disse que não queria menos.
Só aceitava a quantia solicitada.
Com esse
desrespeito do prefeito Rodolfo Fernandes com Sua Majestade, ele sentiu que a
coisa não era de brincadeira, e viu que as chances de sair de Mossoró
vitorioso, seriam impossíveis. Mas como já havia cutucado o cão com uma vara
curta, não desistiria mais da invasão.
Conta
Alexandre Gurgel que para decepção de Lampião, o prefeito havia organizado um
grupo de defensores, composto por policiais e civis. Não tendo aonde se
alojarem para protegerem Mossoró e se protegerem dos estilhaços de balas, que
com certeza, a guerra iria acontecer, os combatentes se valeram de São Vicente,
pedindo-lhe que o perdoasse, mas cedesse a sua igreja para dar início ao
combate. Alojaram-se nos prédios, estação ferroviária, no cemitério e na torre
da igreja São Vicente, onde lá, serviu de esconderijo para muitos homens
armados.
Como não
chegou em suas mãos confirmação do envio da quantia solicitada, ao meio dia e
meia Lampião escreveu o segundo e último bilhete, e novamente incumbiu o
capanga para que o levasse às mãos do prefeito. E já irado, disse que se não
fosse atendido a segunda solicitação através do bilhete, com certeza, iria fazer
uma devastadora invasão, e não se responsabilizaria pelos estragos.
"Estando eu
aqui pretendo é drº (dinheiro). Já foi um a viso, ai pª (para) o Senhores, si
por acauso rezolver mi a mandar, será a importança que aqui nos pedi. Eu envito
de Entrada ahi porem não vindo esta Emportança eu entrarei, ate ahi penço qui
adeus querer eu entro e vai aver muito estrago, por isto si vir o drº
(dinheiro) eu não entro ahi, mas nos resposte logo.
Capm. Lampião".
Mas o prefeito
zeloso com a sua função, e amante de Mossoró, achando que Lampião queria tomar
valores na força e na bala, não aceitou as suas solicitações, e a partir
daquela hora em diante, Mossoró ficaria sob o comando de Deus, pois seria o que
Deus quisesse.
Agora sim,
data de 13 de junho de 1927. Finalmente Mossoró teve a infelicidade de receber
a majestade Lampião, entrando pela comunidade do Saco, e veio depredando o que
encontrava na sua frente.
Como segurança
para ele e o seu bando fez como prisioneiros dois senhores de nomes: Pedro
José e Azarias Sobreira. E para conservá-los vivos, pediu como adiantamento
sete contos de réis. Caso não fosse atendido o seu pedido, os dois iriam passar
pelas suas mãos vingativas, executando-os.
Finalmente, às
três horas da tarde Lampião e seu famoso bando aproximaram-se mais ainda de
Mossoró. Os cangaceiros esconderam os reféns numa velha choupana, deixando como
segurança alguns cangaceiros. Os outros deram início à caminhada até a cidade,
e como proteção para que não fossem atingidos por balas lançadas por supostos
atiradores, que possivelmente já haviam se posicionado para a defesa, seguiram
protegidos pelos reféns da Passagem das Oiticicas.
Lá na igreja
do Alto da Conceição novamente se protegeram. Mas como Lampião estava sem
sorte, e para felicidade dos familiares das vítimas, principalmente os
prisioneiros, por falta de cuidado por parte dos guardas de Lampião, felizmente, os reféns se ocultaram das vistas dos cabras, e se mandaram em busca de lugares
seguros para que eles não mais os encontrassem.
Como a maioria
das pessoas é supersticiosa com a data 13, com certeza, não estava bom para
Lampião. E já se arrependera, chegando a dizer a Sabino Gomes que ele não sabia
o porquê de ter ouvido a conversa de Massilon, quando o incentivou a invadir
Mossoró. E ainda lhe disse: "- Cidade que tem igreja com duas torres
Sabino, não é para bico de cangaceiros”.
Mas Sabino
Gomes estava confiante, e o encorajou dizendo-lhe: "-Tenha paciência, capitão!
Nada está perdido. A nossa vitória será após o tiroteio que não demorará mais
acontecer. E tudo irá ser favorável a nós”.
Como em todo
Brasil o dia 13 se comemora a data do religioso Santo Antonio, em Mossoró não é
diferente, pois a invasão foi feita nesta data de junho em 1927. O dia todo, a
população já havia feito a sua fogueira na intenção de homenageá-lo ao
anoitecer.
Mas para
atrapalhar os planos de Lampião, no final da tarde Deus mandou uma chuva fina,
fazendo com que dificultasse um pouco o combate. Mas os combatentes estavam
protegidos no cemitério, prédios, na estação ferroviária, e vários escondidos
na igreja de São Vicente.
Enquanto o
sino badalava anunciando um possível derramamento de sangue, de ambas as
partes, os bandidos tentavam amedrontar os defensores com os cantares do mulé
rendeira, canção que era usada por eles em todas as invasões.
E sem mais se
demorarem, os cangaceiros deram início ao tiroteio, tentando como ponto de
partida, invadir a casa do prefeito Rodolfo Fernandes, que esquinava com a
igreja de São Vicente.
Os que ficaram
na cidade estavam em pânico, pois os atiradores eram de ambas as partes. Mas
muitos moradores se debandaram com as suas famílias para outras localidades.
Inclusive a cidade de Areia Branca, que fica distante 76 km de Mossoró, serviu
como berçário para as famílias mossoroenses, levadas em vagões do trem, autorizada
pelo diretor da rede ferroviária de Mossoró, o Sr. Eduardo Galvão de Sabóia,
segundo Manoel Tavares de Oliveira em: “Estrada de Ferro – Mossoró...”, coleção
mossoroense.
Os cangaceiros
sentindo que a cidade estava preparada com fortes combatentes deram início a
uma espécie de humilhação, como: pulos em exageros, fortes berros, além de relincho e cocoricós, imitando galos, no intuito de amedrontarem os
resistentes e alguns moradores que ficaram na cidade.
Cuidadosamente, vieram se protegendo pelos cantos das casas, nas ruas que dão acesso ao pátio
da igreja. Mas o prefeito havia se organizado, evitando um confronto sem
sucesso, e ordenou aos colaboradores voluntários que espalhassem pela cidade
uma porção de areia e caixotes, além de vários fardos de algodão, que com
certeza, seriam uma excelente barreira.
Conta
Alexandre Gurgel que se os armamentos eram poucos, muito menos era a munição. E
se caso a munição se acabasse, os resistentes findariam nas mãos dos
cangaceiros, e com certeza, irados, não perdoariam, e os matariam sangrados, como
era de costume Lampião matar os prisioneiros de combates.
O cangaceiro
Sabino Gomes querendo ser o mais destemido, invadiu a rua sem nenhuma cobertura
pelos seus companheiros. E sem muita demora, logo uma bala o alvejou, rebolando
o seu enfeitado chapéu ao chão. E em seguida, outra bala o atingiu, e desta vez, deslizou nas suas perneiras.
O cangaceiro
Colchete querendo imitar Sabino Gomes, atravessou a rua em busca de uma das
laterais da casa do prefeito, e logo, recebeu um tiro na cabeça, já ficando
pronto para os mossoroenses realizarem o seu enterro.
Jararaca que
atrás caminhava, e não querendo que os mossoroenses ficassem com as riquezas do
facínora assassinado, caminhou em direção ao corpo, mas foi alvejado com tiros
que saíram da torre da igreja.
Um dos
defensores de Mossoró que mesmo despreparado para tal fim, acertou o Jararaca
no peito direito, e com o impacto da bala, foi ao chão. Mas sem demora, se
levantou e saiu se protegendo como pode. Mas não levou sorte. Outro tiro
recebeu, e desta vez, foi atingido na perna.
Assim como lá
em Sergipe, lá na grota de Angico, no dia 28 de Julho de 1938, 11 anos antes, aconteceu em Mossoró, no dia 13 de junho de 1927, pois o cheiro de pólvora
queimada e o azedume do sangue derramado ao chão dos cangaceiros, não era para
qualquer um despreparado suportar sem que não tivesse um desmaio. A cidade
estava desesperada. Sim senhor! Era coisa triste!
O cangaceiro
Menino de Ouro também sem nenhuma cobertura, querendo ser valentão, cuidou de
ir até a lateral da igreja, no intuito de atirar nos resistentes que se
amparavam na torre. Mas foi atingido com um tiro certeiro na barriga. E não
aguentando as dores, em seguida, ele abandonou o combate e desapareceu, fugindo
para o acampamento lá no Saco.
Sabino Gomes
lá baleado e perdendo muito sangue, aproximou-se de Lampião e lhe disse que em
toda sua vida de bandoleiro, nunca tinha atacado uma cidade tão brava quanto
era Mossoró.
Lampião
arrependido, disse-lhe que um cangaceiro tão experiente quanto ele, mas mesmo
assim havia caído nas informações de um aspirante de cangaceiros. E ainda lhe
disse que na cidade até os santos atiravam neles. Mas mesmo sentindo que iria
sair daqui derrotado, Lampião queria mais. E gritava para os seus comandados
que fossem à luta e não desistissem. Era como se ele dissesse assim: “Barco
perdido, bem carregado”.
Momentos
depois, Sabino Gomes não passava bem, e encostou-se a Lampião dizendo-lhe que
estava baleado, e precisava com urgência sair do tiroteio, pois o ferimento
estava sangrando muito. E sem mais se demorar, saiu do combate se escorregando
em direção à choupana. Era longe, mas mesmo assim ele conseguiu chegar.
Lá pelas
tantas ouviram um apito, indicando a desistência de Lampião. E o bando disparou
numa desesperada carreira com medo da violência dos nossos heróis combatentes.
Tempo depois,
a maioria dos cangaceiros já se encontrava no coito. Seis cangaceiros estavam
baleados. Sabino Gomes era um dos tais, mas não corria perigo de vida. Menino
de Ouro sofrendo muito com o ferimento, gritava exageradamente. Mas logo
cuidaram de amenizar as suas dores com um curativo preparado com pimenta
malagueta. Lampião tentava acalmá-lo, mas as dores eram insuportáveis.
Assim que
fizeram o curativo no Menino de Ouro montaram-se nos seus cavalos e partiram
com os reféns, tomando rumo ao Ceará, amparando-se em um sítio de nome Baixa da
Broca. Todos estavam pesarosos pela morte de Colchete, e o cruel Jararaca
baleado que eles não sabiam o seu paradeiro. E nem Mossoró tinha conhecimento
que um dos cangaceiros de Lampião se encontrava enfermo nas matas.
Jararaca
baleado, foi se arrastando, seguindo os trilhos do trem e aproximou-se da ponte
ferroviária. Mesmo o ferimento sangrando, enfiou-se às águas do rio, e do outro
lado se escondeu numa moita, deparando-se com uns vigias que faziam serviços
rotineiros.
Ao vê-los,
pediu para que um deles fosse arranjar material de curativo, dizendo-lhe que
trouxesse pimenta malagueta para ele esmagá-la e colocar dentro do ferimento.
Ainda garantiu que quando retornasse com o medicamento caseiro, lhe pagaria
pelo serviço prestado.
Na saída do
vigia Jararaca apontou a arma para matá-lo, pois achava impossível que ele
voltasse sem a polícia. Mas desistiu, baixando a sua maldita arma. Imaginou que
o vigia poderia voltar sozinho.
O vigia
incumbido da compra de medicamentos, ao sair da presença de Jararaca, em vez de
ir à farmácia, foi direto ao destacamento policial. E lá, comunicou o
esconderijo de um suposto cangaceiro. Meia hora depois, a polícia chegou e
cercou a área. Ele foi dominado com facilidade, pois estava muito debilitado.
Prenderam-no e o conduziram para a cadeia pública de Mossoró.
Lampião
continuou correndo em direção ao Estado do Ceará. E em uma fazenda de nome
Jucuri, distante 21 km de Mossoró, o bando prendeu um comerciante do lugar, um
senhor de nome Manoel Freire, e passaram a exigir por ele uma quantia de 10
contos de réis. Caso não fosse atendido o seu pedido, o matariam. Mas logo os
familiares fizeram arrecadação da quantia solicitada e entregaram ao capitão
Lampião. E ao recebê-la, colocou no seu bornal e o liberou.
No dia 14 de
junho do mesmo ano, Lampião e o bando chegaram ao sítio Lagoa do Rocha, lugar
pertencente às terras do Estado do Ceará, onde lá pernoitaram como se nada
tivesse acontecido. Neste lugar, Menino de Ouro perguntou a Lampião se já tinha
saído do Rio Grande do Norte. Lampião o respondeu que sim. Ele não conseguindo
mais suportar as dores causadas pelo tiro, pediu a Lampião que fosse feita a
sua execução.
Lampião
aceitou o seu pedido, e ordenou que um dos cabras desse-lhe o tiro de
misericórdia. E assim foi feito, sendo Menino de Ouro enterrado por eles no
locar.
15 de junho,
entraram em Limoeiro, exigindo do vigário da cidade de nome Padre Vital Lucena,
uma quantia de 2 contos de réis da população. Como foram atendidos, não fizeram
desordens e nem se demoraram. E às 6;00 horas da noite, foram embora.
Vamos leitor,
saber o que aconteceu com Jararaca?
Segundo o
escritor e jornalista do Jornal “O Mossoroense”, Geraldo Maia, José Leite de
Santana nasceu no dia 05 de maio de 1901, em Pajeú das Flores, lá no Estado de
Pernambuco. De físico avantajado, de estatura mediana, moreno-escuro, e de
temperamento fora do comum. E com esse tipo violento, saiu às carreiras de sua
cidade, amparando-se na capital de Maceió, lá no Estado de Alagoas.
Jararaca
Nos anos
vinte, do século vinte, sentou praça no exército. Mas não gostando da vida nas
forças armadas, desistiu da farda para vestir as lindas e enfeitadas roupas do
cangaço.
Mais ou menos
no ano de 1925, antes de ser contratado pela Empresa de Cangaceiros Lampiônica
& Cia, do famoso Lampião, o José Leite de Santana mostrava a sua força e
coragem pelos sertões de Pernambuco. E lá, já era alcunhado por Jararaca, e
chefe de um bando de cangaceiros, que sem nenhuma piedade, eles assaltavam
fazendas, comboieiros, assassinavam, incendiavam casas e depredavam o que viam
pela frente.
Este, ao se
incorporar ao bando de Lampião, levou em sua companhia oito asseclas, sendo já
famoso por ser valente, bom atirador e lutador de faca. E com isso, fez com que
Lampião o entregasse um subgrupo de cangaceiros.
Vamos leitor,
assistir a execução de Jararaca?
Diz ainda o
jornalista Geraldo Maia, que no depoimento baseado que Pedro Sílvio de Morais,
um dos integrantes da escolta que matou o cangaceiro fez ao historiador
Raimundo Soares de Brito, disse-lhe o seguinte: “- Pelas onze e meia horas da
noite, de um luar claro e frio, do mês de junho, uma escolta composta de
oficiais, sargentos e praças, conduziu em automóvel o bandido, dizendo que ele
iria ser trancafiado na cadeia de Natal. No momento da saída, e ao dar entrada
no carro, Jararaca disse que tinha deixado as alpargatas na prisão, e pediu ao
comandante para mandar buscá-las, pois não queria chegar à capital com os pés
descalços".
O
tenente-comandante então disse que em Natal lhe daria um par de sapatos de
verniz. Quando os automóveis pararam no portão do cemitério São Sebastião
(Mossoró), Jararaca interrogou-os:
- Mas isto
aqui é o caminho de Natal?
Como
resistisse descer do automóvel, um soldado empurrando-o deu-lhe uma pancada com
a coronha do fuzil.
No cemitério
mostraram-lhe uma cova aberta lá num canto, e um deles perguntou-lhe:
- Sabe para
que seja isso?
Saber de
certeza não sei não. Mas, porém estou calculando. Não é para mim?
Agora, isso só
se faz porque me vejo nestas circunstâncias, com as mãos inquiridas e
desarmadas! Um gosto eu não deixo para vocês: é se gabarem de que eu pedi que
não me matassem. Matem! Matem que matam, mas é um homem! Fiquem sabendo que
vocês vão matar o homem mais valente que já pisou neste...
Mas o Jararaca
não teve tempo de dizer o que queria. Um soldado por trás dele deu-lhe um tiro
de revólver na cabeça. Ele caiu e foi empurrado com os pés para dentro da cova.
Observação:
“Existem alguns textos contados diferentes do que afirmou Jararaca quando
estava prestes a ser executado. Mas apenas os autores usaram sinônimos, sem
fugirem do que disse Jararaca. O importante é não criar fatos diferentes do que
aconteceu na hora da execução do bandido”.
Dizem os
historiadores que o grupo de Lampião sofreu violenta perseguição no Estado do
Ceará pelas tropas do major Moisés, dos tenentes: Laurentino, Abdon Nunes e
Agripino do Rio Grande do Norte e Quelé da Paraíba.
Massilon vendo
seus planos indo por água abaixo, abandonou o bando de cangaceiros. E a partir
daí, os que restaram sofreram tanto que acabaram fugindo para a Bahia, aonde
chegaram apenas oito companheiros famintos e esfarrapados. Foram eles:
Sobre esta imagem
acima, Ivanildo Régis afirma que Ivanildo Silveira, pesquisador e colecionador
do cangaço, faz a seguinte observação: “Embora a identificação dos cangaceiros
da foto acima seja um tanto polêmica, consultando especialistas, é quase
unânime que a legenda mais que mais se aproxima da realidade, é a seguinte:
Lampião, Ezequiel, Virgínio, Luiz Pedro, Mariano, Corisco, Mergulhão e
Alvoredo.
Um pouco da
biografia deles:
1 - Virgulino
Ferreira da Silva, “o Lampião”, ou ainda o patenteado “capitão”. Nasceu em
1898, no Estado de Pernambuco. Era filho de José Ferreira da Silva e Maria
Sulena da Purificação. Depois de mais de vinte anos como chefe de cangaceiros,
foi abatido juntamente com a sua rainha Maria Bonita e mais nove cangaceiros,
na madrugada de 28 de julho de 1938, na grota de Angicos, lá no Estado de
Sergipe. Um dos maiores líderes de cangaceiros.
2 - Ezequiel
Ferreira da Silva, o Ponto Fino (irmão de Lampião); Nasceu no ano de 1908, no
Estado de Pernambuco. Foi abatido no dia 23 de abril de 1931 – no tiroteio da
Fazenda Touro, povoado Baixa do Boi, no Estado da Bahia, ponto conhecido como
Lagoa do Mel.
3 - Virgínio
Fortunato da Silva, o Moderno. Ex-cunhado de Lampião. Nasceu em 1903 e faleceu
em 1936, aos 33 anos de idade.
Segundo o
escritor e pesquisador do cangaço de nome Franklin Jorge, há suspeita, não
comprovada, que Virgínio era da cidade de Alexandria, no Estado do Rio Grande
do Norte.
Era
companheiro de Durvalina, que com a sua morte ela amasiou-se com Moreno.
Durvalina faleceu no dia 30 de junho de 2008. Moreno faleceu no dia 06 de
setembro de 2010.
4 - Luiz Pedro
do Retiro, companheiro de Neném do Ouro. Ele foi abatido juntamente com
Lampião, Maria Bonita e mais oito cangaceiros, na madrugada de 28 de julho de
1938, na grota de Angicos no Estado de Sergipe. Dizem que quem o assassinou foi
o policial Mané Véio.
5 - Mariano
Laurindo Granja, companheiro de Rosinha. Entrou para o cangaço em 1924. Foi um
dos poucos que em agosto de 1928, cruzou o Rio São Francisco, em companhia de
Lampião, em direção à Bahia. Foi morto no dia 10 de outubro de 1936. Segundo
Alcindo Alves em: (... – Mentiras e Mistérios de Angicos), o ataque foi entre
os municípios de Porto da Folha e Garuru, região conhecida como o Cangaleixo. A
pesquisadora do cangaço, Juliana Ischiara, afirma que Rosinha foi morta a mando
de Lampião. Era filha de Lé Soares e irmã de Adelaide, esta última sendo
companheira de Criança, e parenta próxima de Áurea, companheira de Mané Moreno.
Sendo Áurea filha de Antonio Nicárcio, que era primo/ irmão de Lé Soares.
6 - Cristino
Gomes da Silva Cleto, Corisco, companheiro da cangaceira Dadá. Ele foi abatido
no dia 25 de maio de 1940, pelo tenente Zé Rufino, na fazenda Cavaco, em Brotas
de Macaúbas, no Estado da Bahia. Dadá foi ferida e presa. Ela faleceu em 1994.
Com a morte de Corisco, finalmente o cangaço foi enterrado com ele.
7 – Mergulhão
foi abatido juntamente com Lampião e mais nove cangaceiros, na madrugada de 28
de julho de 1938, na grota de Angicos, no Estado de Sergipe. (Não tenho maiores
informações sobre este cangaceiro).
8 - Hortêncio
Gomes da Silva, o Arvoredo. – Desligou-se do bando no momento do ataque a
Jaguarari, no Estado da Bahia. Fez dois meninos como reféns. Mas eles
conseguiram o dominar, desarmando-o. Em seguida mataram-no a facadas. Achando
que o serviço ainda não tinha sido concluído, degolaram-no e cortaram as suas
mãos. Após o trabalho concluído acionaram a polícia. (Não tenho maiores
informações sobre este cangaceiro).
Fontes de
Pesquisas:
O cangaceiro
Massilon – Por Alexandre Gurgel - 31/03/2005.
O cangaceiro Jararaca – Por Geraldo Maia.
Massilon, Délio Holanda e Chico Pinto – Por Romero Cardoso.
O cangaceiro Jararaca – Por Geraldo Maia.
Massilon, Délio Holanda e Chico Pinto – Por Romero Cardoso.
Pequenas e
úteis informações:
Alcindo Alves,
Kidelmir Dantas. José Cícero, Ivanildo Silveira, Juliana Pereira Ischiara,
Franklin Jorge, Manoel Tavares, Ivanildo Régis.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendeshistoriador.blogspot.com
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