Por José Mendes Pereira - (Crônica 51)
O João
Maleável estava preparadíssimo para concorrer uma vaga no curso de letras, e já
se considerava um dos acadêmicos daquela universidade.
Há meses que
ele não ia mais ao bar do Aderaldo, lá na Pedro II, para tomar uma pinguinha em
companhia dos amigos; e nem tão pouco à Praça da Catedral, para dar um dedinho
de conversa com o livreiro da banca de revistas.
Pelo menos no
momento, só os livros eram a sua diversão. Já havia devorado o José de Alencar,
a Raquel de Queiroz, o Jorge Amado, o Machado de Assis; leu um pouco a Cora
Coralina e outros romances dos grandes escritores da literatura
brasileira.
Em relação aos
conteúdos estudados estava com todos encaixados ao crânio. Em Português:
Compreensão de textos, crases, interpretação, orações subordinadas, as
coordenadas, semânticas, morfossintáticas, e discursivas, significação literal
e contextual. Nossa! Nisso ele era o bicho!
E
Matemática? Foi a disciplina que mais treinou em casa, fazendo
cálculos e mais cálculos. E História? Sabia tudo! Sim senhor! “-E que
venha Geografia!” - Dizia ele. E Inglês? Nenhuma dúvida! Verbos no presente, no
passado, no condicional, no gerúndio, no particípio...
Eram sete
horas da manhã quando os portões da Universidade foram liberados, para que os
vestibulandos fossem se acomodando em seus lugares. O futuro dono da sabedoria
ocupou a cadeira 61, e tinha certeza que iria fazer uma boa prova.
Minutos depois, deram início ao concurso em um silêncio total. Ninguém mais podia conversar ou
se deslocar de sua cadeira para outro lugar.
Lá em um dos
recantos da sala estava o João Maleável, todo orgulhoso, e com o crânio cheio de
sabedoria para dar e vender. O tempo passava rápido, e ele no momento resolvia
a parte gramatical, e estava bem concentrado.
A Cristina uma
amiga de colégio também concorria uma vaga, e permanecia sentada atrás dele,
ocupando a cadeira 62. Vez por outra ela cravava a ponta fina do lápis no seu
vazio pedindo respostas.
- Calma! –
Exclamava ele prendendo a língua, para que o fiscal não o observasse.
Finalmente
terminou a parte principal, e agora, sim, podia enfrentar a redação. Já havia
respondido o que não lhe preocupava tanto. E partiu ele com garras para devorar
a redação, pois não tinha medo de redigir, era o seu melhor hobby. Mas quando ele
abriu a página e viu o tema, entrou em choque. Não era o que ele tanto
esperava. Sim senhor! Redigir um pingo d’água!
- E agora, o
que eu faço? - Resmungava ele. Será que os elaboradores desta prova
estavam doidos, malucos? Quem já se viu isso, meu Deus! Redigir um pingo
d’água!? Tanto que eu estudei e colocaram uma besteira desta! Minha Nossa
Senhora!
O fiscal da
sala ouvindo aquele ai, ai, ai, do João Maleável não lhe poupou a pele. E de
pressa, alterou-se um pouco, e o chamou à atenção dizendo-lhe:
- O senhor aí, o que está acontecendo?
- Nada, senhor! Nada! - Respondeu ele timidamente.
E continuou observando a prova novamente. Pôs-se a imaginar um pingo d’água. No momento só lhe veio a lembrança de que a água é formada por dois elementos: Hidrogênio e oxigênio, e representada por H2O. E o pingo d’água é incolor, minúsculo, algumas vezes, em forma de balão. Em outros momentos, arredondado, sem cheiro, e se cair sobre o chão, desaparecerá em fração de segundo nos grãos de areia. Tentou recomeçar novamente, mas não lhe apareceu nenhuma inspiração. Insistiu outra vez, mas a mente estava totalmente travada. Colocou um pouco de saliva sobre o chão e ficou observando, esperando que as bolhas desaparecessem, para ele idealizar um pingo
- O senhor aí, o que está acontecendo?
- Nada, senhor! Nada! - Respondeu ele timidamente.
E continuou observando a prova novamente. Pôs-se a imaginar um pingo d’água. No momento só lhe veio a lembrança de que a água é formada por dois elementos: Hidrogênio e oxigênio, e representada por H2O. E o pingo d’água é incolor, minúsculo, algumas vezes, em forma de balão. Em outros momentos, arredondado, sem cheiro, e se cair sobre o chão, desaparecerá em fração de segundo nos grãos de areia. Tentou recomeçar novamente, mas não lhe apareceu nenhuma inspiração. Insistiu outra vez, mas a mente estava totalmente travada. Colocou um pouco de saliva sobre o chão e ficou observando, esperando que as bolhas desaparecessem, para ele idealizar um pingo
d'água.
O fiscal parecia que estava o marcando.
O fiscal parecia que estava o marcando.
- Novamente
senhor, eu tenho que lhe chamar atenção! O que o senhor está vendo aí no chão?
- Nada,
senhor!...Nada!... Talvez seja a sua mãe..., Quis ele dizer algo baixinho, mas
desistiu.
- O que o
senhor quis me dizer?
- Nada! Eu
estou olhando senhor, para ver se eu vejo a minha mãezinha aqui no chão... Quem
sabe,... Talvez ela possa me ajudar nessa redação! – Respondeu
ele maleavando.
Os
vestibulandos se desmancharam em risos.
A Cristina
cutucou-lhe, dizendo:
- Sossega, leão! Fique calmo! Não o responda! Ele pode te prejudicar! Cuidado!
De repente lhe
veio a intenção de embrulhar a prova e ir até onde ele estava e esfregá-la no
nariz. Mas, depois desistiu. O fiscal não tinha culpa, os únicos culpados tinham
sido os elaboradores que criaram uma redação tão imbecil. Infelizmente, desta
vez o João Maleável estava frito.
A sirena
anunciou o final das provas, e ele não tinha mais como fazer nada. E antes que
alguém lhe tomasse a prova, escreveu: "Nunca pensei na minha vida que um dia eu me afogaria num pingo d'água".
A palavra maleavando gramaticalmente não existe, é uma criação minha, transformando maleável em verbo no gerúndio. Mas não a use em seus trabalhos, por não ter fundamento na nossa língua portuguesa.
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