Por José Mendes Pereira
"Fazer o bem e não olhar a quem". Segundo ensinou Jesus Cristo quando no mundo veio pela primeira vez. Se ele veio outra vez não se tem conhecimento, e mesmo não tendo vindo, ele já conhecia o nosso planeta, mas não como o soberano, porque os poderes de Jesus são determinados por Deus, e Ele só curava quando orava a Deus, pedindo-lhe a permissão para exterminar o sofrimento daquele ou daqueles enfermos. Nem tudo sobre os pensamentos de Deus foram revelados a Jesus, e uma das provas, é que ele não sabe tudo sobre os segredos de Deus, quando um dos seus discípulos perguntou-lhe a respeito do final dos tempos, e ele respondeu: “..., mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus sabem, nem o Filho sabe (ele mesmo), senão o Pai.” (Mateus 24.36). Possivelmente Deus teme ser decepcionado como foi com o anjo Lúcifer.
Apesar de cada um possuir a sua propriedade, seu Galdino e seu Leodoro Gusmão trabalhavam em conjunto. Um dia seu Leodoro trabalhava na propriedade do seu Galdino. No outro dia os dois trabalhavam na do seu Leodoro. Era uma amizade que chamava a atenção de toda vizinhança daquele lugarejo.
E fazendo a colheita do milho e feijão na propriedade do seu Leodoro seu Galdino lembrou de contar uma história sobre uma onça preta que certa vez, a encontrou enganchada em uma árvore. E entre uma carreira do milho seco, no meio de risos seu Galdino começou:
- Eu já morava aqui nestas terras abençoadas por Deus. Nessa tarde compadre Leodoro, eu precisava tirar cascas de mororó para fazer buchas, porque eu não tinha mais, e o senhor sabe, camponês sem buchas para espingarda está desarmado. Apoderei-me do facão e um bornal para colocar as cascas da árvore. Não levei cabaça com água porque eu não iria entrar muito na mata, e já sabia de um pé de mororó para este fim. Bem próximo à Espera do Padre que o senhor muito conhece, em vez de entrar pelo Morro da Solidão, eu resolvi ir pela mata virgem, porque lá, certo dia eu tinha visto um capuxu muito grande, mas a minha intenção não era tirá-lo naquele dia, queria apenas saber se ainda estava por lá ou se algum caçador já tinha tirado.
- Andei muito por ali quando eu campeava gado compadre Galdino, com o vaqueiro de dona Chiquinha Duarte.
- Sim, certamente! Andei uns dez a quinze metros e ouvi um som meio estranho. Fiquei ali escutando para ter certeza o que era. Pelo o alarido, achei que fosse uma onça grunhindo, no que não errei. Lentamente fui me aproximando e sem dúvida, era uma onça preta que estava com uma das patas dianteira enganchada entre dois galhos de uma aroeira.
- Mas como o senhor acha que ela se enganchou?
- Eu imagino que ela tentava compadre, subir na árvore para dormir numa trempe que tinha. Talvez, no momento que subia, escorregou e a mão caiu na armadilha da árvore que formava um gancho e só cabia a pata, deixando-a presa.
- E as patas traseiras compadre Galdino, estavam suspensas do chão?
- Não senhor. A onça estava apoiada ao chão pelas patas traseiras..., então eu fiquei imaginando que, se eu conseguisse salvá-la daquele sofrimento, porque ela grunhiu muito, tinha certeza que assim que se livrar da armadilha, naturalmente, vinha tentar me pegar, porque o extinto animal é cruel. Mas como Jesus nos ensina que: “fazei o bem e não olhai a quem” eu pensei, vou confiar nas palavras do Jesus. Com o facão na mão, calmamente fui cortando o galho que era um pouco grosso, que sendo separado da árvore a sua pata estava liberta. Serviço terminado e ela foi liberada.
- E ela compadre, não fez nenhuma reação contra o senhor?
- Não. Primeiro ela estava sem condições de me agredir porque a sua pata estava quebrada e além disto, muito inchada. Suponho que ela passou a noite toda ali enganchada. Assim que ela se libertou da armadilha, arriou sobre o chão com todo corpo, dando um grande gemido. Foi aí que resolvi ir em casa procurar pequenas tábuas e organizar uma espécie de proteção, fazendo com que mobilizasse o movimento da sua pata.
- Sim senhor! – fez seu Leodoro.
E assim fiz. Se às pressas eu fui em casa, às pressas voltei, encontrando-a deitada no mesmo local. Fiz todos os procedimentos necessários. Em seguida, com toda a minha força, a fiz ficar malhando como todos os animais fazem. Só sei meu compadre, que aquilo tudo que fiz por ela ficou caro. Dia sim, dia não eu matava um carneiro para alimentá-la, só com o desejo de vê-la curada. Ela não tinha condições de caçar. Água e carne eu levá-la pela manhã e à tarde repetia o que eu tinha feito antes.
- Um gesto nobre compadre Galdino, esse seu.
- Quando começou andar novamente eu sismava que ela poderia tentar me devorar, mas não senhor. Cada vez que lá eu chegava ela nunca deu sinal que sentia desejo de me enfrentar.
- Inhô sim!
- Certa madrugada eu me levantei cedo e fui cuidar das obrigações, isto é, tirar o leite das vacas, e ao caminhar em direção ao curral vi um animal preto deitado ao chão encostado à grade do curral.
- E que animal era este, compadre Galdino?
- Ora quem era! Era ela que veio me encontrar. E ali mesmo fiz o que tinha de fazer. Dei de comer e beber, e a partir daí, ela ficou lá em casa como se fosse um animal de estimação. Toda criançada da redondeza sempre andava montada nela como se fosse um cavalo.
- O senhor é um grande domador de onça, compadre Galdino.
- Eu não sou domador, mas faço o que Jesus disse: “Fazei o bem e não olhai a quem”.
- Eu assino embaixo. compadre Galdino. Se Jesus nos ensina isso, para que fazermos ao contrário do que ele prega?
- É isso aí, meu compadre Leodoro! E penso que animal também é "quem".
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