Por José Mendes Pereira
Do alto de um
sótão observei o seu jeito que vinha caminhando pela rua despreocupada, de
salto alto sempre procurando um jeito para colocá-lo sobre as pedras, talvez,
temendo enganchá-lo entre uma pedra e outra. Elegante, bonita, bem produzida,
pasta em uma das mãos, morena, os seus cabelos longos e lisos voavam através do
vento que nascia no Norte e se dirigia para o Sul. Uma elegância perfeita,
lustrosa, bem produzida, sem defeito. Que pena que é tão desvalorizada!
Não senti o
cheiro do seu perfume devido à distância, mas sei que com aquela elegância
toda, ela estava muito bem perfumada, muito cheirosa, e só podia ser uma
secretária executiva de uma autoridade qualquer, quem sabe, de um prefeito
municipal, de um esculápio que não era empregado do "SUS", de um
advogado de fama, de um delegado, de um promotor de justiça ou de um homem que
bate o martelo na mesa e sentencia um réu qualquer para pagar por detrás das
grades o seu erro. Toda sua sabedoria estava enfiada em uma bolsa luxuosa
segurada por uma das suas belas mãos.
Mesmo um pouco
distante do sótão vi que o seu olhar era brilhoso, cheio de esperança,
confiante no hoje que começa e no amanhã que há de vir. Sorriso nos lábios
diante de todo o seu rosto. A alma fazia crer que aquele dia seria mais um belo
espetáculo que iria apresentar para os seus assistentes apreciarem e julgarem o
seu trabalho. Não é em um trapézio que ela apresenta o seu espetáculo, porque
ela não é trapezista, nem tão pouco bailarina ou moça de circo, aquela que faz
os espectadores admirarem o seu vai e vem nos instrumentos de espetáculos; nem
pensar em ser uma assistente de autoridade qualquer, mas apresenta o seu
espetáculo que instrue, informa e forma a todos aqueles que sentados a
esperá-la entre quatro paredes.
Aos poucos ela
foi sumindo, sumindo e não a vi mais. Nem de perto e nem ao longe. Ela caminhou
para ocupar o seu ofício em qualquer lugar.
Fiquei
pensando um bom tempo sobre aquela mulher que elegantemente passeava entre as
ruas do meu bairro. Desci do sótão
e perguntei a uma senhora que varria a sua calçada se a conhecia. E sem demora
a resposta chegou:
- Eu a conheço
muito! Ela é minha prima.
- Ela trabalha
aqui por perto?
- Ela é
professora de uma escola que funciona do outro lado deste quarteirão...
- Sabe me
informar quanto ela ganha?
- Um pouco
mais de 1.200,00 Reais.
Não suportei.
A minha mente desmoronou os meus neurônios como se o meu célebre tivesse sido
banhado por uma porção de sangue vencido.
Tão elegante,
tão bonita, bem produzida, pasta em uma das mãos, e dentro da pasta carregava o
seu material de trabalho, mas tão desvalorizada!
O que faz o
Congresso Nacional que deixa um professor ganhar um pouco mais de 1.200,00
Reais?
Tanta
elegância, tanto carinho pela educação, tanto esforço, tanto amor pelos seus
discípulos, tanta esperança que um dia isso poderá mudar..., entra ano e sai
ano, e a educação continua de mal a pior, triste, doente, quase na UTI das
irresponsabilidades de quem governa um país tão rico e tão lindo...
Somente os
professores continuam sonhando todos os dias que Deus dá, e insiste dizendo que
vale a pena sonhar, mesmo sendo desvalorizados. A esperança na verdade é a
última que morre, e não adianta abandoná-la.
Sou professor aposentado e vejo que todos aqueles que continuam no ofício, sonham que um dia virá o melhor, mas é muito impossível que isto venha acontecer.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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