Por José Mendes Pereira
Nesse mundo do meu Deus têm sábios em abundâncias como também sabidos, mas existem mais sabidos do que sábios. Geralmente, os sábios são facilmente ludibriados pelos sabidos que os deixam de queixos caídos, se lastimando da bobeira que deram, ajudaram alguém, mas saíram perdendo.
Como eu já fiz quase de tudo para sobreviver porque sempre achei que o provérbio que diz: "quem não sabe perder não sabe ganhar"é mais do que certo, já fui enganado de várias maneiras, umas, suportáveis, outras, insuportáveis.
Quando eu era proprietário de uma serralharia tendo o nome de fantasia "Serralharia Karliano", nome de dois filhos: Adriana e Adriano, ambos com o sobre nome de Karl(a) e Karl(o) algumas vezes fui ludibriado por espertos, mas a última foi a que nunca esqueci, porque o sabido usou toda a sua astúcia para me enganar facilmente, como se eu fosse mesmo um besta qualquer. E não passei de besta, fui mesmo um bestão.
O sabido tinha mais ou menos 25 anos de idade, no máximo, moreno, cabeludo, de olhar firme, boné sobre a cabeça, com uma aparência de mente com distúrbio, mas só a aparência de besta. Chegou em minha serralharia procurando serviços, principalmente de serralheiro, segundo ele, porque ali ele já vira de cara a minha profissão, confeccionador de portões de ferro estilo simples e coloniais, grades, pega-ladrões. Era a sua profissão também, assim afirmara ele enquanto me pedia uma oportunidade, e se dizia ser apaixonado pela queima de eletrodos. Sabia fazer tudo: cortava ferros, soldava, lixava, esmerilhava para deixar as peças bem acabadas, pintava etc, assim ele mesmo se promoveu. Era um exímio conhecedor desta profissão, segundo as suas atitudes apresentadas naquele momento.
Quando eu disse que ele ficava para comigo trabalhar na serralharia abriu um riso do canto da boca ao outro. E nem foi necessário eu mandar, de imediato, deu início uma limpeza geral. O que era de ferragens espalhadas pelo chão da oficina o sábio foi recolhendo todas, e encostando-as aos pés das paredes. Diante disto, vi que eu tinha adquirido um ajudante de serralharia de primeira categoria.
Quando já havia se passado mais ou menos 10 minutos de sua permanência dentro da oficina juntando as ferragens e as colocando aos pés das paredes, de olhos dirigidos a mim, o sabido me perguntou:
- O senhor bebe?
- Já bebi, mas já se passaram mais de 15 anos que não ingiro mais bebida alcoólica.
- O senhor é fumante?
- Sou sim. - Respondi, porque eu ainda era fumante.
- O que o senhor diz sobre cigarro?
- Eu fumo, mas sei que é muito ofensivo. Arrependi-me de ter me viciado. E até existe um ditado que diz: "cigarro é uma brasa numa ponta e um imbecil na outra".
O sujeito que nem me lembro mais do seu nome caiu em risos. E com alguns segundo, disse-me:
- Eu também sou fumante..., e se não for muito incômodo de minha parte daria para o senhor me emprestar um dinheirinho para eu comprar uma carteira de cigarro?
- Lógico que sim. - Respondi sem nem imaginar qual era a sua intenção.
Procurei nos bolsos da calça uma nota de menos valor para que ele fosse comprar o cigarro, mas não a encontrei. Como eu estava com uma quantia em dinheiro para fazer compras de uns materiais e confeccionar um portão de um cliente, peguei uma nota de "Cem reais" entregando-lhe, dizendo:
- Ali vende. - Dizia eu apontando a mercearia que ficava a uma distância mais ou menos de 60 metros.
Ele de esperto pegou o dinheiro e me disse:
- Eu vou às pressas e venho correndo. É coisa rápida. Não perderei tempo. Sou homem de palavra. - Dizia-me ele com o olhar firme em minha direção.
E assim ele fez. Saiu da oficina às pressas e tomou rumo à mercearia. Eu de lá, fiquei o observando. Ele passou para o outro lado da rua, pegou a calçada e saiu às carreiras. Eu pensando que aquela carreira era pela alegria de ter arranjado um serviço para ganhar o seu sustento, enganei-me
O sujeito aproximou-se da mercearia, pisou na calçada, fingiu entrar, mas não entrou. E de lá da oficina eu acompanhava os seus movimentos. Ele também me observava. Eu ciente que ele entraria daquela vez na mercearia para fazer a compra do veneno, mas outra vez me enganei. Em vez de entrar no comércio o sujeito se mandou de rua afora olhando para trás. E logo ele desapareceu das minhas vistas, não mais o avistei, porque a esquina da rua atrapalhava eu vê-lo. E adeus, serralheiro!
Foi a primeira e última vez que eu vi aquele sujeito trambiqueiro.
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