terça-feira, 28 de maio de 2019

O SABIDO BESTA E O BESTA SABIDO

Por José Mendes Pereira
Nesse mundo do meu Deus têm sábios em abundâncias como também sabidos, mas existem mais sabidos do que sábios. Geralmente, os sábios são facilmente ludibriados pelos sabidos que os deixam de queixos caídos, se lastimando da bobeira que deram, ajudaram alguém, mas saíram perdendo.
Como eu já fiz quase de tudo para sobreviver porque sempre achei que o provérbio que diz: "quem não sabe perder não sabe ganhar"é mais do que certo, já fui enganado de várias maneiras, umas, suportáveis, outras, insuportáveis.
Quando eu era proprietário de uma serralharia tendo o nome de fantasia "Serralharia Karliano", nome de dois filhos: Adriana e Adriano, ambos com o sobre nome de Karl(a) e Karl(o) algumas vezes fui ludibriado por espertos, mas a última foi a que nunca esqueci, porque o sabido usou toda a sua astúcia para me enganar facilmente, como se eu fosse mesmo um besta qualquer. E não passei de besta, fui mesmo um bestão.
O sabido tinha mais ou menos 25 anos de idade, no máximo, moreno, cabeludo, de olhar firme, boné sobre a cabeça, com uma aparência de mente com distúrbio, mas só a aparência de besta. Chegou em minha serralharia procurando serviços, principalmente de serralheiro, segundo ele, porque ali ele já vira de cara a minha profissão, confeccionador de portões de ferro estilo simples e coloniais, grades, pega-ladrões. Era a sua profissão também, assim afirmara ele enquanto me pedia uma oportunidade, e se dizia ser apaixonado pela queima de eletrodos. Sabia fazer tudo: cortava ferros, soldava, lixava, esmerilhava para deixar as peças bem acabadas, pintava etc, assim ele mesmo se promoveu. Era um exímio conhecedor desta profissão, segundo as suas atitudes apresentadas naquele momento.
Quando eu disse que ele ficava para comigo trabalhar na serralharia abriu um riso do canto da boca ao outro. E nem foi necessário eu mandar, de imediato, deu início uma limpeza geral. O que era de ferragens espalhadas pelo chão da oficina o sábio foi recolhendo todas, e encostando-as aos pés das paredes. Diante disto, vi que eu tinha adquirido um ajudante de serralharia de primeira categoria.
Quando já havia se passado mais ou menos 10 minutos de sua permanência dentro da oficina juntando as ferragens e as colocando aos pés das paredes, de olhos dirigidos a mim, o sabido me perguntou:
- O senhor bebe?
- Já bebi, mas já se passaram mais de 15 anos que não ingiro mais bebida alcoólica.
- O senhor é fumante?
- Sou sim. - Respondi, porque eu ainda era fumante.
- O que o senhor diz sobre cigarro?
- Eu fumo, mas sei que é muito ofensivo. Arrependi-me de ter me viciado. E até existe um ditado que diz: "cigarro é uma brasa numa ponta e um imbecil na outra".
O sujeito que nem me lembro mais do seu nome caiu em risos. E com alguns segundo, disse-me:
- Eu também sou fumante..., e se não for muito incômodo de minha parte daria para o senhor me emprestar um dinheirinho para eu comprar uma carteira de cigarro?
- Lógico que sim. - Respondi sem nem imaginar qual era a sua intenção.
Procurei nos bolsos da calça uma nota de menos valor para que ele fosse comprar o cigarro, mas não a encontrei. Como eu estava com uma quantia em dinheiro para fazer compras de uns materiais e confeccionar um portão de um cliente, peguei uma nota de "Cem reais" entregando-lhe, dizendo:
- Ali vende. - Dizia eu apontando a mercearia que ficava a uma distância mais ou menos de 60 metros.
Ele de esperto pegou o dinheiro e me disse:
- Eu vou às pressas e venho correndo. É coisa rápida. Não perderei tempo. Sou homem de palavra. - Dizia-me ele com o olhar firme em minha direção.
E assim ele fez. Saiu da oficina às pressas e tomou rumo à mercearia. Eu de lá, fiquei o observando. Ele passou para o outro lado da rua, pegou a calçada e saiu às carreiras. Eu pensando que aquela carreira era pela alegria de ter arranjado um serviço para ganhar o seu sustento, enganei-me
O sujeito aproximou-se da mercearia, pisou na calçada, fingiu entrar, mas não entrou. E de lá da oficina eu acompanhava os seus movimentos. Ele também me observava. Eu ciente que ele entraria daquela vez na mercearia para fazer a compra do veneno, mas outra vez me enganei. Em vez de entrar no comércio o sujeito se mandou de rua afora olhando para trás. E logo ele desapareceu das minhas vistas, não mais o avistei, porque a esquina da rua atrapalhava eu vê-lo. E adeus, serralheiro!
Foi a primeira e última vez que eu vi aquele sujeito trambiqueiro.













segunda-feira, 27 de maio de 2019

SEU GALDINO FOI CALOURO DO CHACRINHA COM ROBERTO CARLOS

Por José Mendes Pereira
Ter sido calouro no programa "A Buzina do Chacrinha", "A discoteca do Chacrinha" e "O Cassino do Chacrinha" concorrendo com qualquer cantor nunca foi tão difícil, mas concorrer com Roberto Carlos, até hoje, somente seu Galdino Borba(gato) teve a grande e merecida honra de subir aos palcos do Chacrinha e disputar uma canção com o futuro famoso cantor da juventude o Roberto Carlos. 

Enquanto viajavam em montaria para Mossoró, em um dia de feira, seu Galdino contou ao seu Leodoro Gusmão a grande honra que teve de disputar o primeiro lugar em um dos programas do velho guerreiro Abelardo Barbosa, que era apresentador do programa "A Discoteca do Chacrinha".

No caminho seu Leodoro estava ali, montado no seu animal, lado a lado ao seu Galdino, a cada passo, e sempre  tomando cuidado para não perder nenhuma explicação feita por ele, sobre a sua participação no programa do Chacrinha. 

Seu Leodoro Gusmão querendo saber como foi que surgiu esta oportunidade de seu Galdino participar de um programa famoso que era o do Chacrinha,  perguntou-lhe o seguinte:

- Compadre Galdino, como foi que esta sua ida para cantar num programa de televisão e quem lhe convidou para chegar até ao programa do Chacrinha?

- Interessante esta sua pergunta meu compadre, e eu vou te contar do começo de tudo até o fim da minha passagem pela A Discoteca do Chacrinha". Eu desde de rapazinho que aprendi alguns acordes de violão e cantava também. Vez por outra me convidavam para tocar em aniversários, casamentos, festas de debutantes, batizados... Como eu sempre tive uma voz boa, e quando eu cantava as pessoas que me assistiam me aplaudiam muito, aconselhavam-me que eu deveria tentar participar de shows de calouros, não só nos do Chacrinha", mas em outras emissoras de televisão. Com estes incentivos me empolguei, e a partir daí, comecei a mandar cartas para os apresentadores de programas de televisão, informando o talento que eu tinha, aliás, tenho ainda que é a minha admirada voz continua firme, e ainda é como se fosse do meu tempo de jovem.

- Inhô sim! - fez seu Leodoro em tom de admiração.

- O primeiro contato que tive com o velho guerreiro Chacrinha foi quando ele me respondeu a carta, comunicando que eu deveria comparecer ao seu programa em um dia de domingo.

- Sim senhor! - Confirmou seu Leodoro atenciosamente.

- Aconteceu que no mesmo ano que eu fui chamado pelo Chacrinha para participar do seu show, a quem devo muito, porque o meu nome passou a ser conhecido no Brasil, e um dos acontecimentos mais interessante que já se passou comigo, que neste mesmo dia que eu estava lá, no programa do guerreiro, adivinha quem também está lá comigo, meu compadre!

- Não tenho a menor ideia...

- Roberto Carlos, compadre Leodoro! Ele estava lá para concorrer o prêmio de bom cantor comigo e mais outros. 

- Tenho certeza que o senhor se sentiu muito honrado...

- E ponha honra nisso! - Atalhou seu Galdino em tom de orgulho. 

- Isso é que chamo de sortudo e dono de talento! - Deu um pouquinho de corda seu Leodoro ao compadre inseparável.

- Pois bem, dizia seu Galdino, na tarde da nossa participação e apresentação no programa do Chacrinha me senti um homem famoso. Primeiro a cantar foi Roberto Carlos que foi bastante aplaudido por aquela gente que assistia as nossas apresentações. Depois, outros e outros. Em seguida, eu cantei. Fui muito aplaudido e pelos aplausos até calculei e apostava que Roberto Carlos não iria ganhar de mim. Mas me enganei. Quando o jurado veio com o resultado o primeiro lugar foi do então Roberto Carlos. Eu fiquei em segundo e os demais ocuparam os lugares seguintes. 

- O senhor ficou no segundo lugar, compadre Galdino?

- Sim senhor! Lá nos bastidores o Chacrinha me disse que quem deveria ter ficado com o primeiro lugar era eu, mas ele não tinha força para voltar atrás a classificação. O mais interessante foi que quando terminou tudo, lá se vinha Roberto Carlos me procurando. E assim que me viu, disse-me: 

- Mas cara, como tu cantas! A tua voz é extravagante e além do mais, uma brasa, mora!

- Isso é que eu chamo de sortudo, compadre Galdino! - Exclamava com admiração o seu Leodoro.

- E eu brinco, meu compadre! Tudo eu sei um pouquinho.

Quando seu Leodoro chegou em casa foi até ao estábulo soltar uma rês que por lá ficara presa. E no decorrer de sua ida dizia:

- Este meu compadre Galdino mente muito. Eu tenho uma encomenda para levar um homem que conta muitas vantagens, mas o meu compadre Galdino passa dos limites. Não dará certo levá-lo, porque quando ele começar a mentir o homem que me pediu que levasse um homem mentiroso irá me matar de peia, por ter encontrado um homem tão mentiroso como é o compadre Galdino.

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quinta-feira, 9 de maio de 2019

SEU GALDINO FALA AO SEU LEODORO SOBRE A SUA PASSAGEM NO TIME DE FUTEBOL POTIGUAR DE MOSSORÓ.

Por José Mendes Pereira


Para quem gosta de futebol a Associação Cultural e Desportiva Potiguar é conhecida "Potiguar", porque é uma associação do Estado do Rio Grande do Norte, e que a equipe faz seus jogos no único Estádio de futebol de Mossoró, o Nogueirão.

O Potiguar não é o maior time do Rio Grande do Norte, mas é um dos maiores do interior do Estado, e é merecedor da maior torcida deste. Ele foi fundado em 11 de fevereiro de 1945, resultado da fusão de dois clubes da cidade o Esporte Clube "Potiguar" e a Sociedade Desportiva Mossoró.

Em 1951, o "Potiguar" veio a conquistar seu primeiro campeonato municipal. Dequinha (que mais tarde viria a jogar pelo Flamengo e pela Seleção Brasileira) e Bira (que jogou no futebol europeu) foram os responsáveis pelas primeiras conquistas do clube. 

Seu Galdino Borba(gato) Mend(onça) foi um dos jogadores do "Potiguar", segundo afirmou ele a seu Leodoro Gusmão enquanto conversavam em uma tarde no seu curral. Mas algumas pessoas não respeitam seu Galdino e não querem acreditar em tudo que ele diz.

Eu, particularmente não vejo nenhum motivo  para dizer que seu Galdino Borba(gato) era um homem mentiroso. O que eu sei é que ele era um sujeito completamente polivalente. Um grande conhecedor de várias profissões, como por exemplo: agricultor, fazendeiro, vaqueiro, ourives, jogador de futebol, caçador de mel de abelha italiana e jandaíra e  principalmente, perseguidor de onças nas quebradas sertanejas. Esta última era a que ele mais entendia. Pegava onças na carreira dentro dos cerrados, e para ele, caçar onças era o seu melhor hobe. 

Seu Galdino era mais corajoso do que o tenente João Bezerra da Silva o único policial que foi capaz de matar o homem mais valente do Nordeste Brasileiro, o rei do cangaço  capitão Lampião, sua rainha Maria Bonia e mais 9 cangaceiros, todos estes eram funcionários da Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia.

Sob o telhado que cobria o estábulo da sua fazenda seu Galdino e seu Leodoro Gusmão conversavam sentados em  tinas feitas de alvenaria, e o assunto bem gostoso e com muito orgulho para seu Galdino era relacionado à sua participação como titular -  jogador de futebol da "Associação Cultural e Desportiva Potiguar". 

Dizia seu Galdino ao compadre que na adolescência foi um dos melhores jogadores de futebol em campos de poeira, isto é  improvisados, e com o passar dos anos deixou os campos de poeira e conseguiu participar de campos oficiais, com regras, com traves, com bolas oficiais, com  juízes,  bandeirinhas, gandulas, mais uma enorme torcida e tudo mais. E devido o seu bom desempenho como jogador foi convidado, e posteriormente contratado para ser um atleta da equipe do "Potiguar" de Mossoró, assumindo a posição atacante, porque este clube tomara conhecimento do seu talento com bola.

Nessa equipe seu Galdino foi a grande estrela, e até hoje, depois de muitos anos que passou lá pelo "Potiguar" é lembrado por todos os jogadores e membros dali, porque ficou registrada a sua admirada participação naquele grupo. Equipe que apresentava e apresenta até hoje total eficiência. 

No primeiro jogo "Potiguar x Baraúna" ambos de Mossoró que fez como titular desta primeira equipe, contava seu Galdino ao compadre Leodoro, logo no primeiro tempo, fez 8 gols (de acordo com a regra seria goles, mas é mais usado gols), que nunca tinha acontecido em partida de futebol  do Brasil, e nem em país nenhum, um único jogador balançar a rede com 8 golse principalmente, apenas em um tempo de 45 minutos.  

Seu Leodoro Gusmão ouvia com atenção o que dizia o seu compadre Galdino Borba(gato), mesmo pigarreando, mas fingia ser irritação na garganta, como se fosse excesso de secreção acumulada. Mas na verdade, ele achava que seu Galdino estava enfeitando muito o assunto, e jamais tomara conhecimento que seu Galdino tinha jogado em times  de futebol oficiais. Mas não devia duvidar.   

Seu Galdino dizia que a bola parecia estar apaixonada por ele. Sempre ela procurava os seus pés. Quando bem olhava ela já vinha à sua direção, e quando ele apoderava-se da bola, era nesse momento que ele fazia a torcida delirar, gritando fortemente o seu nome: "- Galdino! Galdino! Galdino!". Mas isso é o que chamamos de talento. Seu Galdino nasceu para ser mesmo um atleta de campo, onde tem trave e gramado. Em algumas vezes, a bola tomava rumo diferente e caía dentro da rede. 

Em um momento seu Leodoro Gusmão quis saber o que sentia o seu coração quando a torcida delirava. E apoiando-se um pouco sobre a tina que a tempo se sentara, perguntou-lhe:

- Compadre Galdino, eu suponho que é  muito bom quando as pessoas gritam o nome da gente em tom de elogios. E com tudo isso, como ficava o seu coração nessa ocasião de delírio da torcida do "Potiguar" gritando e batendo palmas, só homenageando o seu futebol?

- Nossa! Não há coisa melhor do que ser admirado dentro de um campo de futebol ou qualquer ambiente. Eu nem sei explicar o tamanho da emoção. Mas é gratificante, compadre Leodoro.

Segundo seu Galdino na sua segunda participação na equipe "Potiguar", jogando contra o "Baraúna" local, logo no primeiro tempo, fez 11 gols.  O goleiro do "Baraúna ficou totalmente atordoado de tanto pular para evitar gols, mas não teve jeito, foi surrado com 11 lindos gols.

A galera não parava de gritar quando ele se apoderava da bola. O que era de jogadores do "Baraúna" todos corriam atrás dele. Nesse dia, até o goleiro deixou a sua trave e fez carreira para ajudar os demais membros do Baraúna. 

Teve momentos que três ou quatro jogadores abandonaram o campo e ficaram ali ao lado do goleiro. Com as mãos eles não podiam pegar a bola, mas com pés e cabeças podia evitar mais outros gols. Ele parecia que estava voando sobre o gramado. 

Dizia ele que no segundo tempo, o seu admirado desempenho, até os torcedores do "Baraúna" aplaudiam o seu futebol. Dava cada chapéu nos seus adversários, e que a plateia não segurava a sua emoção, o seu grito de admiração estava por todo campo.

Mas com tanto talento seu Galdino Borba(gato não seguiu o futebol, porque o tempo não oferecia muito dinheiro. Resolveu abandonar de uma vez por toda a carreira de jogador e ficou fazendo companhia aos pais. 

Seu Galdino foi convidado por outros times e também para participar da seleção brasileira, mas ele não aceitou. O que ele queria mesmo era ficar juntinho dos seus pais e seus conterrâneos mossoroenses.

Mais uma vantagem que seu Leodoro ouviu do seu compadre Galdino.




MORTE DO CANGACEIRO BRIÓ.

  Por José Mendes Pereira   Como muitos sertanejos que saem das suas terras para outras, na intenção de adquirirem uma vida melhor, Zé Neco ...