quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

MEU PAI PEDRO NÉO, MEU TIO ZÉ DE DELMIRA, MEU AVÔ NÉO E PEDRO DO BARRACÃO

Por José Mendes Pereira

Geralmente as pessoas que não merecem confiança sempre acusam as outras por desonestidades, mas na finalidade de esconder os seus erros e denegrir a imagem de quem quer que seja por uma despeita, ciúmes ou outra coisa que se relaciona com o assunto em pauta.

Quando o meu pai casou e já que nasceu ali na Barrinha bem próxima da cidade de Mossoró, e continuava morando sobre as ordens do meu avô  “Papai Néo” em propriedade da família “Duarte” (e foi lá que todos nós nascemos, tanto os meus pais como nós, irmãos), fez apenas uma pequena mudança, tirando os seus pertences da casa do pai para a sua, mas continuou sendo dominado pelo meu avô, como era costumes antigos, filhos casavam, e ficavam sempre dependurados nos cós das calças dos pais. Até a feira do meu pai era feita no barracão que o meu avô comprava desde de muitos anos. 

Contara-me o meu pai sob uma árvore na calçada da sua casa, que certo dia, foi fazer a feira em Mossoró, no comércio de um senhor chamado Pedro do Barracãolocalizado à rua da frente, como era e continua sendo chamada por todos mossoroenses, porque ela fica em frente ao rio Mossoró. 

Nesse dia, o meu pai estava acompanhado de um concunhado de nome José Freire apelidado de Zé de Delmira, que era casado com Maria Mendes Maia, uma irmã da minha mãe Antonia Mendes Pereira. Ali, os dois fizeram as suas feiras e assim que terminaram, colocaram os sacos em suas montarias e se mandaram para casa, subindo a grande ladeira da ponte velha que passa sobre o rio Mossoró.

Achando que tinha entregue mercadorias além do que foi comprado a um deles seu Pedro do Barracão chamou um senhor que o ajudava e disse:

- Toma de conta aqui que eu vou ver se ainda alcanço o Pedro de Néo e o Zé de Delmira para me devolverem as mercadorias que foram além das compras. Isso não é coisa de homens honestos. Levaram o que não era deles. - Dizia ele. 

E assim fez. Pegou o seu cavalo que sempre estava à sua disposição, amarrado sob a sombra de um velho pé de figo, montou-se, passou pela ponte e seguiu pela avenida Presidente Dutra, na intenção de alcançá-los. E ao longe, os viu já bem próximo da 2ª. ponte que fica sobre um córrego. E tome chicotadas no pobre e cansado cavalo, para ver se os alcançava o mais rápido possível. O certo é que não demorou muito para alcançá-los. E ao chegar bem próximo levou o cavalo até eles dizendo:

- Rapazes, eu pensei que vocês dois eram homens, mas são dois safados. Vão tirando os sacos das montarias que vocês estão levando mercadorias que não foram registradas na lista de compras...

- Mas seu Pedro...

- Não tem mais e nem menos. Eu quero ver todas as mercadorias.

Ali, meu pai e tio Zé de Delmira era assim que nós o chamávamos, por ser casado com uma tia nossa, arriaram os sacos de feira e começaram a tirar todas os alimentos de dentro do saco. E ele ali só conferindo. Mas nada irregular encontrou. E meio assustado por não ter visto nenhuma irregularidade nas feiras, olhando para eles, disse:

- Acho que me enganei..., deve ter sido...

Não achando mais a quem acusar o seu Pedro do Barracão parou de falar.  Em seguida foi até ao cavalo velho e magro, e sem nem ao menos pedir desculpas ao Pedro de Néo e ao Zé de Delmira, montou-se no seu cavalo, chicoteou-o e retornou para o seu barracão em longos galopes sobre a  sua montaria.

Ao chegarem na casa do meu avô o Zé de Delmira bebeu água, mais um cafezinho, e em seguida, despediu-se do meu pai e rumou para a sua casa, que ficava do outro lado do rio, mas na mesma localidade. 

O meu pai ficou lá por alguns minutos e depois iria seguir para sua casa que era um pequeno passo da casa do meu avô, e após descansar da fadiga da viagem, meu pai repassou o ocorrido ao meu avô, que de imediato ficou imaginando o que faria no dia seguinte, sobre esta desconfiança causada pelo Pedro do Barracão contra o seu filho e o concunhado do filho.

O meu avô ficou remoendo as carnes da língua, e na madrugada deste dia, fez o seguinte: Pela madrugada, pegou 10 bichos de bodes que estavam bons para o abate, encangou-os um a um, e seguiu viagem para Mossoró, tangendo-os a pé em companhia de um filho, levando os brutos para serem vendidos na feira de animais, e depois ir até ao barracão do Pedro para liquidar aquela conta, e nunca mais compraria nem um dedal de açúcar, e muito menos colocaria os seus pés no seu barracão.

Feito a venda dos viventes na feira e já com o dinheiro no bolso, meu avô tomou rumo ao barracão do Pedro que ficava apenas um quarteirão, mas bem próximo do local que os marchantes negociavam os animais para abates. 

E ao chegar, Pedro do Barracão imaginou que aquela visita inesperada do meu avô, era porque ele havia recebido o recado que mandara dias antes, que o mel de furo e as rapaduras pretas já tinham chegado no barracão, porque um caminhoneiro veio exclusivamente do Ceará para entregar o pedido que o comerciante tinha feito. 

- Néo, ainda bem que você recebeu o recado que mandei do mel de furo e das rapaduras. - Dizia ele sem nem ao menos lembrar da acusação que fizera contra os dois concunhados, com a história de mercadorias em seus sacos além do comprado.

- Eu recebi Pedro, mas eu não vim aqui para isso. Dizia o meu avô. Eu vim aqui hoje só pagar a minha conta e do meu filho Pedro.

- Mas o que houve, Néo? Sempre você paga as despesas no final do mês,  e não está nem perto do fim?

- Pedro, em barracão que o meu filho não merece confiança eu não compro mais. Ele ontem chegou me falando que você desconfiou dele e do seu concunhado. O que você acha? Devo continuar comprando no barracão do homem que desconfia do meu filho?

- Mas Néo, eu apenas me enganei...

- Tira a conta aí, eu não pretendo falar mais nada sobre isso. - Disse meu avô.

O Pedro fez a conta debaixo de mil desculpas, mas o meu avô não aceitou nenhuma justificativa. Pagou, agradeceu pelo tempo que o Pedro  confiou, e foi-se embora.

Apesar da pobreza que acompanhava desde do tempo do seu pai o meu avô era um homem respeitado em toda região, e aqueles que moravam na mesma localidade, e ainda existia a consideração entre os homens de verdades, quando tomaram conhecimento do desrespeito do Pedro do Barracão com o filho do Néo,  muitos deles se revoltaram contra o Pedro, e liquidaram suas contas no seu barracão, que também eram seus fregueses, e saíram do seu comércio e foram ser fregueses de um senhor chamado Luiz Rola (Luiz Rocha) que tinha um comércio no atual bairro dos Pintos. 

- Nenhum filho de Néo é capaz para isso! Dão homens de respeito e de confiança. - Era o comentário da vizinhança.

- E se Pedro do Barracão acusou  o filho de Pedro de Néo por desonestidade, fará com qualquer um de nós e com os nossos filhos. - Dizia outro e mais outro.

Com a ausência dos fregueses Pedro do Barracão não teve condições de tanger o seu comércio, e 4 anos depois, fechara o seu ponto comercial, passando a trabalhar com pequenas bombonas vendendo água apanhada no rio Mossoró aos moradores da atual Ilha de Santa Luzia, porque ainda não existia redes de água até às residências.

Posteriormente, o homem que era chamado de Pedro do Barracão viciou-se com bebida alcoólica, e não demorou muito para despedisse do chão mossoroense, sendo enterrado no cemitério São Sebastião de Mossoró.





  





















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