sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O CACHIMBO DA MINHA AVÓ HERCULANA MARIA DA CONCEIÇÃO

Por José Mendes Pereira

Noutros tempos, geralmente, quando uma pessoa que era fumante e passava dos 50 anos nada melhor do que fumar num cachimbinho, porque muitas delas (homens ou mulheres) achavam que ficava mais legal o uso do cachimbo, vez que era muito mais prático colocar fumo nele e acendê-lo apenas com uma brasa, em vez de riscar fósforo e o vento apagá-lo. Claro que não era em todo lugar que tinha brasa, mas se estivesse em casa era muito mais prático acender o seu cachimbinho com ela do que ficar riscando fósforo e o vento apagando.

Como a minha avó Herculana Maria da Conceição era uma viciada no uso do seu cachimbinho, e eu ainda criança com menos de 12 anos, e ninguém tinha ideia o mal que faz o fumo, seja cigarro, cachimbo ou charuto, e morava bem pertinho dela, e quando eu me encontrava lá, sempre ela solicitava que eu abastecesse o seu cachimbinho com fumo, e posteriormente, o acendesse. E assim eu fazia. Findei me viciando no maldito vício. Cada vez que eu chegava lá, já perguntava a ela:

- Mamãenana, era assim que nós netos a chamávamos, quer que eu ponha fumo no seu cachimbinho?

E ela que geralmente estava sentada usando os bilros fazendo algumas rendas, alegremente me respondia:

- Prepare meu filho, ele com o fume e depois acenda...

E assim eu fazia. Colocava o fumo no cachimbinho e em seguida, eu ia até ao fogão feito de forquilha, mais tijolos comuns e acabamento com barro de várzea.

Minha mãe nunca fumou, mas o meu pai era fumante, e felizmente aos 40 anos de idade resolveu abandonar o vício. Mesmo ele sendo fumante, jamais admitiu que nós, filhos, pegássemos numa lata que ele guardava seu fumo e papel para a fabricação de cigarros.

Mas todos sabem que avó é avó, e faz tudo para agradar os seus netos, e muita vezes nem sabe o que poderá acontecer com aquele tipo de ajuda que fez para um neto. E assim fazia a minha avó.

Geralmente, quando eu começava a preparar o seu cachimbinho o meu medo era que o meu pai aparecesse por ali, e se ele me visse com fumo nas mãos e cachimbo, com certeza, ele iria me dá uma bronca das maiores.

Aconteceu que em uma tarde já passando das 4:00 horas eu fui até a casa da minha avó, e era coisa de rotina mesmo, mas o meu maior interesse era dá umas baforadas no cachimbinho. Ao chegar, ela estava cuidando de um milho para ser moído no moinho pelo meu tio Antonio Néo. Mas ele estava sentado lá fora sob o alpendre, e posteriormente, foi até a cozinha para passar o milho no moinho.

E eu já um pouco viciado perguntei se ela queria que eu preparasse o seu cachimbinho. Ela me ordenou o preparo do fumo e acendesse. Só que, quando eu tentava acendê-lo  com uma brasa que tirei do fogão e tentava que ela ficasse sobre ele, mas  a brasa não me obedecia. 

Então a minha avó me disse que eu pegasse uma das suas chinelas que estava sobre o chão, e com a ajuda dela, eu colocasse a brasa e pressionasse-a, que assim que eu fizesse isto, eu desse uma puxadinha de fumaça no cachimbo, que aos poucos, o fumo pegaria fogo. E assim fiz. 

Mas quando eu me preparava para este fim ouvi a voz do meu pai já quase dentro da cozinha. Minha avó e eu ficamos aperreados, porque com certeza, o meu pai iria me dá bronca. E minha avó me dizia:

- Jogue-o dentro do fogo, meu filho, se não teu pai irá ver você acendendo o cachimbo.

Eu, nervoso, em vez de colocar a brasa dentro do fogo soltei foi a chinela dentro das brasas, e  peguei o cachimbo e fiquei com ele na boca, tentando acendê-lo. O meu pai quando viu esta arrumação, isto é, o cachimbo na minha boca, disse-me:

- Sim! É por isso que você vez em quando vem aqui na casa de mamãe, é?

Eu em vez de ficar calado, mas o nervosismo me fez piorar a situação  e me obrigou dizer:

- Venho tomar um traguinho no cachimbinho de mamãenana.

Mas o meu pai não foi tão ignorante comigo e me disse:

- Dê-me que eu acendo o cachibinho de mamãe.

E assim ele fez. Pegou a brasa, levou ao cachimbo e entregou à Mamãenana, dizendo-lhe:

- Pega, mamãe, José não sabe acender cachimbo.







  

domingo, 14 de outubro de 2018

O PRIMEIRO ASSALTO LIDERADO POR LAMPIÃO.

Por Guilherme Machado Historiador

Na edição de 29 de junho de 1922, do jornal “Diário de Alagoas”, afirma que Lampião e cangaceiros em numeroso bando, assaltaram a cidade de Água Branca, penetrando na residência da Baronesa.


Esta era a octogenária Joana de Siqueira Torres viúva do Barão do Império Joaquim Antônio de Siqueira Torres. Os cangaceiros chegaram de madrugada entraram pelos fundos do casarão e roubaram o que puderam. Apesar de ocorrer uma resistência das pessoas do lugar, eles escaparam ilesos.

Barão do Império Joaquim Antônio de Siqueira Torres.

No dia 1 de julho este periódico alagoano informou através de “viajantes vindos do sertão”, que os esforços da polícia para prender os assaltantes foram nulos.

Manuel de Souza Ferraz o conhecido Manuel Flor.

Lampião segue para Pernambuco, feliz pelo resultado do saque. Em uma tarde, junto com seus companheiros de rapinagem dançaram xaxado e cantaram a mítica melodia “Mulher Rendeira” embaixo de uma quixabeira no centro do povoado de Nazaré e o fato foi presenciado por Manuel de Souza Ferraz o conhecido Manuel Flor. Este se transformaria em um dos maiores perseguidores de Lampião.

Material do pesquisador Guilherme Machado

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

terça-feira, 2 de outubro de 2018

UMA MORTE ENCOMENDADA

Por José Mendes Pereira

João era vaqueiro da fazenda “Eldorado” do “fazendeiro Luiz Jerônimo” em Mossoró e alguns anos passados fizera um crime quase que forçado, só que por último ele estava sujeito a morrer, porque os filhos do assassinado cresceram e não o não querem perdoá-lo pela morte do seu pai. Todos que presenciaram a tragédia sabiam que ele não o matou por maldade, e sim, confundido com um lobisomem. Sabiam também que o assassino nunca teve nenhum problema com o assassinado, mas por má sorte, agora estava na lista para morrer.

Um dia de muito sol, pela tarde, chegara na fazenda um homem montado num cavalo vermelho e lustroso, todo metido com roupas de couro e chicote em uma das mãos, dizendo que estava indo para Governador Dix-sept Rosado. Ali, pediu um pouco de estadia enquanto o cavalo e ele descanassem um instante. O vaqueiro foi generoso, ordenou que descesse do cavalo para fazer algum lanche, talvez, um amoço fora do horário.

O João nem imaginava que aquele homem seria o seu possível matador, e logo exigiu que a esposa preparasse um amoço às pressas, vez que ele ainda não tinha almoçado. Almoço servido à mesa da salinha o homem abancou-se, e no momento em que se alimentava disse que era vaqueiro de um bancário de Mossoró, mas não revelou o seu nome, e que andava à procura de um touro que havia desaparecido alguns dias passados.

Mas o forasteiro não estava tão preocupado com a volta ao seu trabalho, findou indo ao campo com o João para campear o rebanho de gado do fazendeiro. Durante a viagem relatou que tinha sido vaqueiro de outras fazendas dos arrabaldes, mas em nenhum momento ele citou nome de fazendeiro que havia trabalhado.

O João começara a entender e se perguntando: o que aquele homem estava a fazer ali, se não disse para quem trabalhava ou se era perto daquela fazenda que ele morava, algo estranho existia na mente daquele sujeito. Imaginou na morte que fizera e era possível uma tentativa de vingança.

Vem o  anoitecer e o homem não foi embora e com certeza, queria jantar ali também. O João ficou na dele, sem querer perguntar mais nada, mas ficou meio assustado com aquele infeliz. A noite chegou por completa e vem o jantar. Nada tinha o que mais fazer. Entregaria a sua vida aos cuidados de Deus. Após o jantar o João o convidou para se sentarem sob o alpendre que cobria toda frente da casa, e em companhia, também foram os dois filhos pequenos.

A palestra entre os dois rolou sob o alpendre da casa grande. Nada de outros assuntos, só pegada de bois bravos nos tabuleiros, vacinas de rebanho, rações, leite, queijo e outros mais referentes à fazenda e rezes. 

Afinal, ambos eram vaqueiros, se era que o desconhecido entendia mesmo de fazenda. Mas parecia por completo um homem que sabia lutar em fazendas.

A noite estava se indo e todos dali precisavam dormir. O João foi lá dentro e trouxe uma rede, lençol e cordas para que o forasteiro a armasse sob o alpendre. Com esta cisma o João não seria maluco de deixar um desconhecido dormir dentro da sua morada, principalmente com aquele dúvida. Quem era ele? Um cobrador de imposto? Um vaqueiro de verdade? Um andarilho, ou mesmo um pistoleiro de fama? 

Dentro da sua casa o João não deixaria aquele sujeito dormir.

Pela manhã, do dia seguinte, logo cedo, os dois foram mungir as vacas no curral, e assim que terminaram, conduziram o gado até ao pasto. Em seguida, foram até a cacimba do gado apanhar água em uma pipa sobre uma carroça. E ao chegarem, cuidaram do gado miúdo que ainda continuava no chiqueiro. 

Obrigações feitas, retornaram para casa, e lá, fizeram o primeiro café do dia com leite, pamonhas e mais outros alimentos. Lá para as nove horas desse dia o sujeito disse que iria preparar o cavalo. Precisava chegar cedo ao destino. Foi até ao estábulo, pegou-o e veio buchando-o pelo cabresto. Antes de arumá-lo deu-he um banho. E assim que o cavalo ficou com os pelos enxutos, pôs-lhe a sela.
O João estava mais feliz do tudo, finalmente o seu hóspede contra a vontade agora iria seguir viagem ao destino pensado. Ali, despediram-se. O forasteiro montou-se e antes que partisse, disse:
- Seu João, eu vim até aqui a sua casa para te matar, porque eu sou pistoleiro profissional. Mas eu fiquei a noite toda me lembrando que tão bem recebido que fui e fazer uma covardia com o senhor...
- Mas pelo amor de Deus, não faça isso comigo não. Eu tenho estes dois filhos para criá-lo...
- Everdade! Vejo isso, o que eu pensei, não posso desistir, pois este é meu trabalho.
E arrastando o revólver mirou em direção ao seu João, eao tentar atirar, o forasteiro caiu do cavalo morrendo no meio de tanto sangue escarlate. O João fora salvo pela esposa que a tempo que ouvia a conversa do homem mal. Com um só tiro só de escopeta derrubou o infeliz pistoleiro.
E sem esperar por mais ninguém o casa fugiu da fazenda com os filhos e nunca mais foram vistos pela região.



MORTE DO CANGACEIRO BRIÓ.

  Por José Mendes Pereira   Como muitos sertanejos que saem das suas terras para outras, na intenção de adquirirem uma vida melhor, Zé Neco ...