Por José Mendes Pereira
Geralmente quem é pobre morre
pobre. Difícil é o pobre ser rico, muito embora alguns enriquecem da noite pro
dia. Mas assim é que é a vida. O mais importante é ser feliz.
Têm muitos ricos
que já adquiriram tudo na vida e não são felizes. A felicidade maior é quando o
sujeito arranja algo com dificuldade. Os ricos que nasceram na riqueza a maior
parte é infeliz. Ter o tudo na vida tira a alegria da vida. Melhor é correr
atrás, sentir dificuldades para possuir.
Noutros tempos as coisas eram
muito difíceis, e assim como os outros pobres eu não sou nada diferente de
ninguém, porque a riqueza me odeia de corpo e alma. E se ela me odeia, não faço
questão que ela passe na minha casa, porque quando eu ganhar o meu paletó de
madeira, não levarei nada.
Nos anos 80 as coisas eram tão
difíceis que eu só tinha uma roupa, na base do: “Em quanto Chico Tira Mané
Veste”. Mesmo com pouco dinheiro desvalorizado que eu ganhava da Secretaria da
Educação projetei fazer um minúsculo serviço em minha casa. Serviço esse que
assim que eu começasse, logo anunciaria o fim, simplesmente porque o dinheiro que eu
tinha só daria para dois dias de serviços.
Seu Manoel Adelino era um pedreiro que
também sofria assim como eu e tantos outros. Não dispunha de dinheiro suficiente para sustentar
a sua filharada. E necessitando de ganhar qualquer dinheirinho para comprar
alimentos para os seus guris, perguntou-me se eu tinha um servicinho em minha
casa, para ele ganhar um trocadinho e fazer umas comprinhas.
Eu não podia negar, porque eu já
estava com o projeto feito. E que enorme projeto, hein?! Seria fazer um reboco em duas
paredes que ficava na cozinha do meu casebre. E sentindo que ele estava mesmo
precisando de ganhar, chamei-o para começar no dia seguinte, mas logo o
alertei que, tinha que terminar no segundo dia, porque o dinheiro que eu tinha,
com exceção do valor para os materiais, só daria para pagar dois dias de
serviços. Os materiais como: arisco e cimento já estavam encostados, que mais pareciam os
materiais da construção de Delfim Neto (Foi você que deu fim, deu fim, deu fim), no dia seguinte
seu Manoel começou minha grande obra. Até ao meio dia tudo corria bem. Massa
feita, massa empregada nas paredes. Mas quando chegou à tarde, o pedreiro teria
que ter andaimes para iniciar as partes de cima das paredes.
Sem dinheiro para comprar tábuas
e outros mais para fazer andaimes fui obrigado a dizer a seu Manoel que o
serviço iria parar quase antes de começar, porque, se eu comprasse tábuas para
este fim, no dia seguinte, eu não teria dinheiro para pagá-lo.
Mas seu Manoel astucioso, porque
precisava ganhar alguns trocados para alimentar a sua família disse-me que não
se preocupasse, ele daria seu jeito sem que precisasse mais comprar as tábuas
que ele tinha me pedido.
E ele resolveu mesmo. Pegou a
mesa da cozinha, levou-a ao pé da avantajada obra, colocou uma cadeira sobre
ela, e lá, ficou fazendo o reboco, enchendo uma parede por completa. Eu vi
aquela arrumação e logo o chamei a atenção, explicando que aquela arrumação não
daria certo. Insisti que ele descesse para não acontecer acidente. Não concordando
com a sua teimosia saí de perto e fui
ver qualquer programa na televisão.
Mas enquanto eu assistia algo na
televisão que no momento não mais me lembro o que eu estava vendo, algo me
causou um susto, porque alguém tinha caído, e era justamente o seu Manoel que
despencara lá de cima da mesa, e em seguida, um grito assustador.
Corro até à cozinha, e lá me
deparo com o seu Manoel caído por cima de um dos braços, pois tinha o quebrado.
O velho gritava e reclamava das dores. E o que fazer neste momento? Corri até a
um posto de táxi, que fica um pouco distante da minha casa, levando-o até ao
Hospital Regional Tarcísio Maia, porque lá é tudo grátis.
Agora completou a minha péssima
situação. Dinheiro pouco para pagar dois dias de serviços a ele.
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