quinta-feira, 9 de agosto de 2018

QUEM VAI QUERER

Por José Mendes Pereira
José Mendes Pereira

Não tenho conhecimento onde residia o comerciante ambulante aqui em Mossoró, do seu verdadeiro nome, apenas era conhecido no centro da cidade por "Vai Querer". Nesse período das suas vendas "Vai Querer" já passava dos setenta anos, mas apesar da idade e do seu frágil corpo, ainda era um homem de muita resistência física.

"Vai Querer" era  magrinho, de pernas finas e alongadas, alto e meio tísico, de rosto seco, camisa de mangas compridas, mas enrolada até ao tornozelo. Usava um chapéu de palhas com enormes abas,  e gostava de andar com as calças arregaçadas até ao meio da canela. Jamais deixou de usar chinelos de couro cru.

"Vai Querer" vivia fazendo das suas vendas ambulantes sobre o lombo de um jumentinho magro e desnutrido, com dois caçoas agarrados, onde neles podia se encontrar laranjas, bananas, melancias, abacaxis, frutas de um modo geral. Quem quisesse pedir outros alimentos era bastante fazer o pedido, que no dia seguinte ele estaria entregando o alimento solicitado. Mas esta sua atividade só era feita pela manhã, principalmente aos comerciários, taxistas, feirantes, carroceiros, jornaleiros, transeuntes.

Quando eu saí da indústria "Vai Querer" ainda fazia esta atividade, mas posteriormente perdi o contato com ele, e não sei em que ano faleceu.

O apelido "Vai Querer" foi criado por ele mesmo, já que saía gritando pelas ruas de Mossoró: "Quem vai querer? E com o passar dos tempo, os seus fregueses deixaram de lado "quem" chamando-lhe apenas de "Vai Querer".

Todos aqueles do comércio e da indústria de Mossoró que participaram das décadas de sessenta e setenta, tenho plena certeza que ainda lembram muito bem do velho comerciante ambulante "Vai Querer".

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Fonte:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

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SEU GALDINO CONTA A SEU LEODORO GUSMÃO QUE QUEM FEZ LAMPIÃO CORRER DE MOSSORÓ, FOI ELE

Por José Mendes Pereira

Não adianta duvidar do seu Galdino. Só porque ele conversa um pouquinho a mais, então faz com que algumas pessoas não acreditem nele.

Lá na vazante seu Galdino e seu Leodoro faziam um plantio de milho, feijão..., e entre uma carreira e outra plantavam Gergelim.

Seu Leodoro não tinha ambição nenhuma pelo o plantio de gergelim. Dizia ele que era muito trabalhoso, desde o plantio até a colheita, mas não contrariava o interesse do seu  compadre. E querendo saber o motivo dele tanto gostar do plantio do gergelim, fez-lhe a seguinte pergunta:

- Compadre Galdino, desde que nasceram as nossas amizades vejo seu interesse pelo o plantio de gergelim. Por que o senhor sempre gostou de plantar gergelim?

- O meu interesse pelo plantio de gergelim compadre Leodoro, é porque certa vez, consultei um médico ortomolecular que trabalhava com envelhecimento saudável, bem-estar e estética. Ele me reforçou que se deve comer bastante gergelim, porque oferece uma série de benefícios, como por exemplos: Importante para a saúde intestinal; controla bem o colesterol; faz diminuir peso; tem vitaminas que é importante para a saúde dos nossos ossos, olhos e fígado; faz diminuir o açúcar no sangue, e além disso, o médico me garantiu que é uma excelente fonte de proteínas. O gergelim compadre Leodoro, segundo o médico, combinado a uma alimentação saudável é um grande aliado para quem quer manter a forma com refeições saborosas e que realmente saciam.

- Sim senhor, compadre! – Fez seu Leodoro Gusmão. Muito obrigado pela sua explicação sobre o valor medicinal que tem o gergelim. É por isso que o senhor tem desejo do plantio deste legume. E eu acho que no próximo ano também estarei fazendo plantio de gergelim.

Já eram mais de 9:00 do dia e no gigantesco infinito o sol começava liberar fios solares mais quentes. E de pressa, os dois resolveram fazer lanches sob uma antiga quixabeira, possivelmente milenar, e ali, enquanto comiam, falaram sobre o que estava acontecendo sobre possível envolvimento de pessoas fugidas de outros Estados, alojaram-se aqui, e usavam desonestidades nas fazendas e em pequenos municípios.

- O que está acontecendo aqui em Mossoró compadre Galdino, até nos faz lembrar os velhos tempos de Virgolino Ferreira da Silva o bandoleiro Lampião.

E assim que seu Leodoro usou o nome “Lampião” seu Galdino de um pinote só, levantou-se do lugar em que estava sentado, e resolveu falar sobre a tentativa de ataque de Lampião e seu bando na maior cidade do Rio Grande do Norte - Mossoró, na tarde do dia 13 de junho de 1927. Inciou dizendo:

- Compadre Leodoro, eu até hoje sinto desgosto por ter sido excluído da história que organizaram sobre a tentativa de assalto à Mossoró, feita pelo capitão Lampião e seu honrado grupo.

- Oxente, compadre Galdino! Tenho lhe acompanhado de muitos anos, mas eu não sabia que o senhor entende um pouco da história de Mossoró sobre o falado capitão Lampião.

- E eu não te contei ainda não, compadre Leodoro?

- Não senhor! Até hoje não ouvi nada sobre Lampião contada pelo compadre.

- Eu não só entendo como também fui o responsável pela fugida de Lampião com o seu bando daqui...

- Verdade, compadre Galdino? – Fez seu Leodoro em tom de admiração.

- Coompaadree Leeoodooro, quantas vezes o senhor já me viu contando mentiras?!

- Nunca, compadre! Nunca! – Confirmou seu Leodoro mesmo contra a sua vontade. Mas até hoje o senhor nunca me falou nada sobre Lampião. Sobre onças, já me falou muitas vezes, mas a fugida do capitão Lampião de Mossoró...

- Pois bem compadre, atalhou seu Galdino, eu vou contar ao senhor Tim-tim por tim-tim. Quando o coronel Rodolfo Fernandes soube que Lampião estava caminhando em direção à cidade de Mossoró ele que era prefeito, iniciou uma espécie de alistamento para quem quisesse combater o cangaceiro e seu grupo. Eu que sempre fui corajoso, nunca temi a nada, isto o senhor sabe muito bem...

- Verdade, compadre! Isto eu sei bastante, que o senhor é homem corajoso mesmo! Homem que tem coragem de lutar com onça compadre, imagino...!

- E então, eu ainda era muito jovem, mas com um bom porte físico. Fui tentar entrar nessa lista para combater o cangaceiro com os seus comandados. Mas ao chegar à casa do prefeito, bem lá na Avenida Alberto Maranhão, no centro da cidade de Mossoró, um dos seus empregados me encaminhou até à sua presença, que naquele momento, ele se encontrava em reunião com um amigo lá nos fundos da sua casa. Mas tive o desprazer de ouvir dele a palavra não. Perguntei o motivo de não me aceitar na alistar da empreitada. Ele me falou que eu era ainda muito jovem, adolescente sem experiência na vida para enfrentar bandoleiros...

- E o prefeito disse isso na sua cara, compadre Galdino?

- Sim senhor! Disse. Mas eu não insisti mais. Fiquei calado, e de lá, saí meio triste. E quando foi no dia 13 de junho de 1927, Lampião entrou na cidade com gosto de gás, e desejo de levar tudo que ele achava que tinha direito. Nesse tempo, eu morava sob os olhares dos meus pais. Já bem próxima da sua entrada na cidade eu me arrumei e fui tentar ver se conseguia falar com ele.

- Ele quem, compadre Galdino?

- Falar com o capitão Lampião, compadre Leodoro! Parece que o senhor não está acompanhando o meu raciocínio?

- Estou, comadre Galdino! – Disse seu Leodoro tentando não o contrariar.

- Mais ou menos 4 horas da tarde o tiroteio começou. Os resistentes atiravam e os bandidos respondiam. Haviam homens instalados por todos os lugares como nas torres das 3 maiores igrejas: Matriz de Santa Luzia, Na Coração de Jesus e na Igreja de São Vicente. Também tinham defensores no Mercado Central, na Empresa Companhia de Luz, No Ginásio Diocesano, na sede dos Correios e Telégrafos, na Estação ferroviária, no Grande Hotel, na casa do prefeito Rodolfo Fernandes e outros locais.

- Mossoró estava muito bem preparada concorda comigo, compadre Galdino?

- E como concordo, compadre! Pois bem, Lampião tinha ajuda de alguns bandidos que conheciam muito bem a região do nosso Estado. Um destes bandidos era um tal de Cecílio Batista o Trovão, que em anos remotos havia  morado em Assu no Rio Grande do Norte, e fora preso por malandragens e desordens. O José Cesário o Coqueiro mais um outro bandido de nome Júlio Porto. Estes dois últimos haviam trabalhado em Mossoró como motorista da empresa Algodoeira Alfredo Fernandes, e outros mais. Esta empresa era uma que muito fez Mossoró crescer, dando empregos aos mossoroenses. No início do tiroteio as balas voavam pelas ruas da cidade. Tanto saíam das armas dos cangaceiros como das armas dos combatentes. A cidade estava em pânico, mas quase sem ninguém, porque a maior parte da população tinha sido advertida para deixar a cidade o quanto antes possível. Nesse tempo, meus pais e eu morávamos nos alagadiços, hoje bairro Pereiros, não tão distante do combate. E eu saí devagarinho de casa sem comunicar aos meus pais, que o meu intuito era ver se conseguia falar com o capitão Lampião para ele desistir da empreitada. E assim fiz. Fui me aproximando, sempre me escondendo e lá mais adiante  fui me defendendo dos estilhaços de balas, tentando me contactar com Lampião. Ao longe,  em uma rua bem no centro, por trás da igreja do São Vicente avistei um homem magro, alto, que usava óculos..., e percebi que só poderia ser ele, porque eu já havia visto a sua foto no jornal "O Mossoroense". Eu levava aquele meu facão que é do seu conhecimento compadre Leodoro, até hoje ainda o uso quando caço onças nos tabuleiros... Olhando ao meu lado direito vi uma moita muito bonita, bem enramadinha e arredondada. Cortei-a, coloquei-a sobre mim, e fui andando bem abaixadinho. E fui me aproximando do suposto Lampião, suposto porque eu não tinha certeza que era ele.  E na verdade, era o capitão Lampião.

- O senhor estava dentro da moita, compadre Gadino?

- Sim senhor..., e bem escondidinho. Eu pensei sair logo de dentro dela, mas esperei uma oportunidade...

- Tinha cangaceiros por perto?

- Vi alguns deles com armas em punhos e atirando...

- E o senhor ficou com medo quando os viu?

- De forma alguma, compadre! Eu não sou homem de ter medo de nada..., e quando eu estava bem pertinho dele, de dentro da moita eu disse: Seu Lampião!!! Aí Ele teve medo tão danado que em gritos exclamou fortemente, dizendo: 

- "Valha-me meu Padim Padim Ciço!!" Nunca tinha visto uma moita falar!

- E lá, ficou rodeando a moita com o seu mosquetão em punho e o dedo no gatilho. E eu fui saindo. E ao me ver, quis logo me sangrar com um punhal. Mas eu disse-lhe que estava ali à sua presença somente para dizer a ele que desistisse do ataque, porque a cidade estava muito bem preparada, com mais de 800 combatentes. Eu aumentei o total de combatentes compadre Leodoro, só para ele desistir e não mexer com a minha cidade.

- E ele, o que fez, meu compadre Galdino?

- O que o capitão Lampião fez foi ir embora. Colocou um apito na boca, e fortemente, ficou chamando os seus cangaceiros para se mandarem de Mossoró. Com pouco tempo, o local em que nós estávamos, ficou coalhado de facínoras. Exceto o Colchete que ficara estirado ao chão já pronto para se fazer o enterro, em frente à casa do prefeito. Um de nome Jararaca que saiu baleado quando foi desequipar o seu companheiro morto. Um dos combatentes acertou bem de cheio o seu peito, e ele se mandou, tendo sido capturado no dia seguinte, e dias depois, foi executado. 

- Já vi, compadre Galdino que o senhor tem coragem até para enfrentar dragão..., teve coragem de enfrentar até o capitão Lampião que não temia ninguém...

- E eu brinco, compadre! Eu não nasci de 7 meses não senhor!

E assim que terminaram este bate papo cada um foi para sua casa. Seu Leodoro nem imaginava acreditar esta conversa contada pelo seu compadre. as o que era de fazer?





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UMA TRAGÉDIA COM AVÓ E NETO

Por José Mendes Pereira

Já se passaram muitos anos que isso aconteceu em uma comunidade de Mossoró, bem próxima ao Mulungu, mais ou menos na década dos anos 80. Conheci o casal apenas vestido com roupas de camponês em alguma de suas viagens à Mossoró, e nunca dei um dedal de conversa com nenhum dos cônjuges.

O casal vivia da agricultura e de uma pequena criação de ovino, bovino e caprino aos arredores de Mossoró, ao lado do nascente da cidade, com uma distância mais ou menos de 18 quilômetros.

O casal já era de idade avançada, mas equilibrado na sua atividade rotineira. Nada lhe era difícil movimentar em sua pequena propriedade, muito embora, assim como qualquer outra pessoa que passa dos 60, 70 anos, a saúde do casal era comprometida

O velho se chamava José e por mais que eu tentei me lembrar do nome da sua senhora não veio na minha mente, e no decorrer de nossa história, chamá-la-ei de dona Maria.

O dia em que isto aconteceu não foi diferente dos outros dias passados, mas, algo, ao anoitecer, caminhava para mudar os destinos do casal idoso. 

O sol já caminhava para se deitar no meio de um enorme lençol de nuvens amarelado, e a tarde estava preste a ir embora, porque logo mais, alegremente, chegaria a noite para rendê-la, assim como dizem os vigilantes de empresas.

Nos pequenos chiqueiro e curral seu José cuidava da sua criação, separando cabritos e bezerros das mães e os colocando fora, porque no dia seguinte, um homem vinha apanhar o líquido extraído dos úberes das vacas para ser vendido na freguesia. Lá dentro da casinhola dona Maria esposa do fazendeiro José cuidadosamente, preparava o jantar para os que ali estavam. 

Assim que seu José terminou as suas atividades de sempre caminhou para casa, entrou, e lá, apoderou-se de uma bacia de alumínio, pôs água, pegou uma toalha que estava sob a varanda que fechava a parte de baixo da casa, e foi lavar os seus encardidos pés no terreiro da casinhola.

Os filhotes miúdos de cabras e vacas corriam de ponta a ponta no interior do imenso terreiro que ficava em frente à casa grande da Fazenda, toda rodeada de alpendres. 

O cachorro de cor preta com lavras brancas espalhadas por todo seu corpo, e nomeado por “Lamari” muito mimado por todos dali, e totalmente de raça "vira-lata", fazia a segurança do fazendeiro José e da sua generosa  e unida família.

Dona Maria permanecia na cozinha preparando o jantar, e após de tudo pronto ela percebeu que a lamparina que estava na sala não clareava bem o ambiente. Pegou-a e balançou-a, na intenção de calcular o tanto de óleo diesel que ainda tinha dentro dela, e ao balançá-la, notou que ela estava precisando ser abastecida com o líquido inflamável que era o óleo diesel. Mas resolveu deixar o abastecimento do líquido na lamparina assim que terminasse o jantar.

Assim que terminou de lavar os pés ao ar livre do terreiro o fazendeiro José dirigiu-se até a sala de jantar, e lá, sentou-se ao lado esquerdo da esposa Maria, que já o aguardava sentada em uma cadeira ao redor da mesa. Filhos e alguns netos fizeram o mesmo, aconchegaram-se aos arredores da mesa para o jantar.

Antes de iniciarem, como do costume dos sertanejos, seu José, dona Maria, filhos e netos presentes, todos puseram as suas mãos postas para os céus, e iniciaram uma reza, que no mínimo, demorou 3 minutos. Dona Maria foi quem iniciou a reza. Primeiro, um pai nosso, e em seguida, as Ave-Marias.

Terminada a bênção do “Pai Poderoso” no meio de conversas e risos, o jantar satisfez o prazer de todos ali. Seu José foi o primeiro a abandonar a mesa, apoderando de uma cadeira e foi para o terreiro receber um ventinho que vinha do Norte e em seguida, dirigia-se para o Sul. Os outros foram saindo paulatinamente.

Como é hábito de "dona de casa" a esposa do fazendeiro dona Maria ficou ao redor da mesa recolhendo os pratos, colheres e restos de comida para levar até ao local onde estava o cachorro “Lamari”, que aquelas alturas, impacientemente, já estava aguardando o seu jantar. 

Depois de limpar a mesa e guardar os objetos que foram usados no jantar dona Maria abandonou a cozinha, e foi em busca do terreiro, e em uma das mãos, uma xícara de café para seu José. E ao passar pela sala lembrou que a lamparina precisava ser abastecida, vez que ela tinha diminuído bastante o claro. E logo, convidou um dos netos para ir até ao armazém ao lado da casa, onde lá, o óleo diesel era guardado em um balde (espécie de tonel) que cabia aproximadamente 20 litros do líquido inflamável.

Os dois chegaram ao local. Abriram a porta e entraram para a retirada do líquido, sempre clareados por uma lamparina que estava em uma das mãos da dona Maria. 

E de repente, tentaram passar uma parte do óleo diesel  para uma outra vasilha. Dona Maria esquecera que ela e o neto estavam transferindo um líquido inflamável. E foi nesse momento que os dois se atrapalharam. 

O fogo da lamparina lambeu o óleo e ambiciosamente, tomou de conta incendiando tudo, causando uma espécie de explosão. Com a explosão, o óleo foi de encontro às roupas e os corpos dos dois, fazendo com que cada um, era uma chama só. Os gritos eram tristes: "Meu Deus! Meu D..." Sem nenhuma solução os dois se abraçaram no meio do fogo ficando os seus corpos colados.

Ao verem o clarão  e ouvirem a explosão e os gritos dos infelizes seu José, filhos e netos correram para um possível socorro, mas já era tarde demais. O fogo tinha se alastrado, transformando os dois viventes em uma só tocha humana. 

Por último, o que o seu José, netos e filhos tinham de fazer  era somente carregarem água em baldes para apagar a língua de fogo que já tentava alcançar o teto. Ali, a tristeza permanecia em todos os corações que ficaram vivos.

Chamada a perícia para os possível trabalhos técnicos descobriram que foi a lamparina que estava bem próxima do óleo. E ao transferirem o líquido de um balde para o outro, o fogo faminto, com a sua língua traiçoeira, lambeu de uma só vez o líquido inflamável.


A POBREZA NÃO NOS DECEPCIONA, AO CONTRÁRIO, SOMOS MAIS FELIZES DO QUE MUITOS RICOS


Por José Mendes Pereira

Geralmente quem é pobre morre pobre. Difícil é o pobre ser rico, muito embora alguns enriquecem da noite pro dia. Mas assim é que é a vida. O mais importante é ser feliz. 

Têm muitos ricos que já adquiriram tudo na vida e não são felizes. A felicidade maior é quando o sujeito arranja algo com dificuldade. Os ricos que nasceram na riqueza a maior parte é infeliz. Ter o tudo na vida tira a alegria da vida. Melhor é correr atrás, sentir dificuldades para possuir.

Noutros tempos as coisas eram muito difíceis, e assim como os outros pobres eu não sou nada diferente de ninguém, porque a riqueza me odeia de corpo e alma. E se ela me odeia, não faço questão que ela passe na minha casa, porque quando eu ganhar o meu paletó de madeira, não levarei nada.

Nos anos 80 as coisas eram tão difíceis que eu só tinha uma roupa, na base do: “Em quanto Chico Tira Mané Veste”. Mesmo com pouco dinheiro desvalorizado que eu ganhava da Secretaria da Educação projetei fazer um minúsculo serviço em minha casa. Serviço esse que assim que eu começasse, logo anunciaria o fim, simplesmente porque o dinheiro que eu tinha só daria para dois dias de serviços.

Seu Manoel Adelino era um pedreiro que também sofria assim como eu e tantos outros. Não dispunha de dinheiro suficiente para sustentar a sua filharada. E necessitando de ganhar qualquer dinheirinho para comprar alimentos para os seus guris, perguntou-me se eu tinha um servicinho em minha casa, para ele ganhar um trocadinho e fazer umas comprinhas.

Eu não podia negar, porque eu já estava com o projeto feito. E que enorme projeto, hein?! Seria fazer um reboco em duas paredes que ficava na cozinha do meu casebre. E sentindo que ele estava mesmo precisando de ganhar, chamei-o para começar no dia seguinte, mas logo o alertei que, tinha que terminar no segundo dia, porque o dinheiro que eu tinha, com exceção do valor para os materiais, só daria para pagar dois dias de serviços. Os materiais como: arisco e cimento já estavam encostados, que mais pareciam os materiais da construção de Delfim Neto (Foi você que deu fim, deu fim, deu fim), no dia seguinte seu Manoel começou minha grande obra. Até ao meio dia tudo corria bem. Massa feita, massa empregada nas paredes. Mas quando chegou à tarde, o pedreiro teria que ter andaimes para iniciar as partes de cima das paredes.

Sem dinheiro para comprar tábuas e outros mais para fazer andaimes fui obrigado a dizer a seu Manoel que o serviço iria parar quase antes de começar, porque, se eu comprasse tábuas para este fim, no dia seguinte, eu não teria dinheiro para pagá-lo.

Mas seu Manoel astucioso, porque precisava ganhar alguns trocados para alimentar a sua família disse-me que não se preocupasse, ele daria seu jeito sem que precisasse mais comprar as tábuas que ele tinha me pedido.

E ele resolveu mesmo. Pegou a mesa da cozinha, levou-a ao pé da avantajada obra, colocou uma cadeira sobre ela, e lá, ficou fazendo o reboco, enchendo uma parede por completa. Eu vi aquela arrumação e logo o chamei a atenção, explicando que aquela arrumação não daria certo. Insisti que ele descesse para não acontecer acidente. Não concordando com a sua teimosia  saí de perto e fui ver qualquer programa na televisão.

Mas enquanto eu assistia algo na televisão que no momento não mais me lembro o que eu estava vendo, algo me causou um susto, porque alguém tinha caído, e era justamente o seu Manoel que despencara lá de cima da mesa, e em seguida, um grito assustador.

Corro até à cozinha, e lá me deparo com o seu Manoel caído por cima de um dos braços, pois tinha o quebrado. O velho gritava e reclamava das dores. E o que fazer neste momento? Corri até a um posto de táxi, que fica um pouco distante da minha casa, levando-o até ao Hospital Regional Tarcísio Maia, porque lá é tudo grátis.

Agora completou a minha péssima situação. Dinheiro pouco para pagar dois dias de serviços a ele. 



LINDA FOTO


MORTE DO CANGACEIRO BRIÓ.

  Por José Mendes Pereira   Como muitos sertanejos que saem das suas terras para outras, na intenção de adquirirem uma vida melhor, Zé Neco ...