segunda-feira, 19 de março de 2018

SEU GALDINO TEM VISITA EM SUA CASA

Por José Mendes Pereira - (Crônica 80)
http://www.saudeanimal.com.br/2015/11/29/tamandua-bandeira/

Fazia uma porção de dias que os compadres seu Galdino e seu Leodoro Gusmão não se encontravam, porque, cada um deles estava ocupado nas suas tarefas de plantios. 

Seu Leodoro tinha  preparado um roçado com 10 hectares, todos estes hectares plantados com milho, feijão, melancia, jerimum, melão... Seu Galdino foi mais longe, segundo ele, fez um plantio de 50 hectares plantando os mesmos legumes que plantara seu Leodoro.

Seu Galdino tinha uma porção de histórias interessantes sobre onças para contar ao seu melhor amigo e compadre Leodoro Gusmão, mas, como o tempo estava muito restrito para ambos, iria esperar por oportunidades, talvez depois da limpa, porque as lavouras não mais iriam necessitar de tanto carinho.

Mas não demorou muito para que seu Leodoro Gusmão fizesse uma visita ao seu Galdino. Ele estava com saudade daquelas belas histórias que seu Galdino gostava de contar. Chegou à boquinha da noite, e ao cumprimentar o seu compadre, que por ele foi convidado para entrar e se abancar, logo surgiu um incômodo que ninguém fica satisfeito quando está na companhia de uma pessoa, ou no meio de muita gente,  o chamado "espirro". 

Mas como seu Galdino tinha conhecimentos como curar certos incômodos, segundo ele, mandou que seu Leodoro segurasse o fôlego por um bom tempo, e em seguida, apertasse o dedo mindinho no meio da junta, com muita força. Finalmente, o que incomodava seu Leodoro naquele momento, foi-se embora.

Ali, sentados sobre o alpendre a conversa dos dois, iniciaram sobre espirro. Seu Galdino disse que aquela espirradeira do seu Leodoro fez lembrar de um caso interessante que aconteceu com a dona Dionísia  sua querida esposa. E sem muita demora, iniciou a história:

- Certa vez, dizia seu Galdino, Dionísia adoeceu com uma espirradeira das danadas. Como eu sabia que aquilo era começo de gripe, e estava sem dinheiro para consultar um médico, sobre aquela espirradeira desenfreada na Dionísia, tive que cuidar de medicamentos caseiros, e vi que o melhor mesmo, seria ir às matas, para ver se eu encontrava uma abelha jandaíra, que tivesse favos de mel, para eu fazer um coquetel com: o próprio mel, limão, sal e pimenta do reino. E assim, fiz. Sair de casa depois que fiz as minhas obrigações rotineiras. Preparei machado, facão, lata para colocar o mel, caso eu encontrasse uma abelha...

- Sim senhor! – Fez seu Leodoro com muita atenção à conversa do seu Galdino.

- Fui ver se encontrava mel lá pras bandas do Pai Antonio, nas terras do Soutinho. Não demorei muito para encontrar uma abelha situada em uma umburana, e mesmo não tendo sido um inverno de muitas colheitas, naquele ano, ela estava muito gorda, mel em abundância. Todos os favos estavam cheios. Arriei o material, isto é, machado, facão..., e iniciei a tirada do mel, sempre fazendo os cortes na árvore na diagonal, porque facilitava mais o meu serviço. Entretido no meu ofício, mas mesmo assim, ouvi uma quebradeira das danadas dentro da mata. Meio receoso com aquilo, parei de cortar a árvore e fiquei observando o que era aquele movimento que estava acontecendo naquele momento. Quer saber o que era aquele movimento, compadre Leodoro dentro da mata?

- Quero, sim senhor, agora mesmo!

- Era uma onça parda, compadre Leodoro, correndo atrás de um tamanduá bandeira!

- Meu Deus! Um tamanduá bandeira nesta nossa região, compadre Galdino!? – Perguntou seu Leodoro com espanto.

- Sim senhor! Mas não foi só isso não, compadre! Com pouco tempo que se passara, não era mais a onça que vinha correndo atrás do tamanduá, desta vez foi o tamanduá correndo atrás da onça.

http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2016/06/onca-e-capturada-em-campo-de-futebol-de-bairro-em-borda-da-mata.html

- Coisa nunca visto neste mundo de meu Deus, compadre Galdino! Um tamanduá correr atrás de uma onça! – Admirava-se seu Leodoro Gusmão.

- Mas o tamanduá, compadre Leodoro, era da raça bandeira, e o senhor ver o porte do danado..., pois bem, os minutos foram se passando e não mais voltaram, isto é, a onça e o tamanduá. Eu continuei tirando o mel do oco da umburana, e assim que eu terminei, juntei as minhas ferramentas, e me mandei para casa.

- O senhor andava a pé, compadre Galdino?

- Não. Eu andava em meu cavalo, e quando nós voltávamos para casa ele quis se assustar um pouco, e eu segurei as rédeas, porque ele era muito passarinheiro, e temendo que ele me derrubasse de cima da cela, fui com cautela, montado nele. Lá mais adiante, avistei algo diferente, e fui me aproximando. Vi que era uma onça que estava deitada. Quer saber porque ela estava deitada ali, compadre Leodoro?

- Oxente! Quero sim senhor!

http://www.chapadensenews.com.br/paginas/noticias/noticia-tamanduA-bandeira-atropelado-na-br060-agonizou-hoje-em-chapadao-do-sul-animal-aguarda-o-transporte-para-o-cras-em-campo-grande-20934

- O tamanduá tinha dado nela um abraço dos bons mesmo por debaixo da barriga, e nesse abraço, ele cravou as duas unhas grandes em seu couro, estavam fincadas no vazio da pobre onça que ficou imobilizada.

- Nossa, meu Deus!

- Desci do cavalo e fui tentar tirar o tamanduá debaixo da infeliz. Eu sempre receoso, com medo que, mesmo ela estando presa pelo abraço do tamanduá, poderia tentar me atacar. E lentamente, ele que é dono de uma força espetacular, fui puxando uma das patas dianteira que estava com a unha encravada no vazio da onça, depois a outra, e assim que eu consegui liberará-la das unhas do tamanduá, ela se sentindo livre, saiu rugindo, talvez sentindo dores, e entrou nas matas fechadas. 

- Que sorte, hein, compadre que teve a onça?!

- Sorte tive eu que ela não tentou me devorar. – Disse seu Galdino com ignorância.

- Acho que ela deve ter morrido, compadre Galdino, porque um abraço de tamanduá e mais sendo da família bandeira não é todo vivente que escapa.

- O senhor é quem diz que ela não escapou. Um mês depois deste acontecimento, eu voltei ma região em que isto aconteceu...

- E aí, compadre Galdino, a viu por lá? - atalhou seu Leodoro.

- Eu a vi, compadre Leodoro, viva, gorda e sadia, ela estava. E o mais interessante, foi que ao me ver, ela ficou me observando dos pés a cabeça, e veio em minha direção. Eu fiquei ali esperando ela me atacar, mas o que ela queria, compadre Leodoro, não era para me atacar, foi para me agradecer. Ela veio bem pertinho de mim e assim, eu perdi o medo. Caminhei bem mais pertinho dela. Quer saber o que ela fez para que eu entendesse que ela não queria me atacar?

- O que, compadre Galdino, ela fez?

- Ela se deitou e ficou ali paradinha. Com isso, eu me aproximei dela, pus as minhas mãos sobre o seu pelo liso, e ela ficou bem quietinha no lugar. Em seguida, saiu olhando para trás como se estivesse me agradecendo.

Se fosse eu, ela teria me devorado. O senhor é um homem abençoado por Deus, compadre Galdino! 

- Eu também me acho! – Dizia seu Galdino se pabulando.

- Bom, compadre Galdino, vamos cuidar de dormir! Amanhã nós temos nossos muitos serviços para fazermos.

Despediram-se com um boa noite pra lá, e outro boa noite pra cá.

Ao sair dali, seu Leodoro disse consigo mesmo: “- Eu vou deixar de andar na casa do compadre Galdino se não irei ficar do seu jeito. Mentiroso.”

http://josemendeshistoriador.blogspot.com

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