Por José
Mendes Pereira - (Crônica 80)
http://www.saudeanimal.com.br/2015/11/29/tamandua-bandeira/
Fazia uma porção de dias que
os compadres seu Galdino e seu Leodoro Gusmão não se encontravam, porque, cada um deles estava
ocupado nas suas tarefas de plantios.
Seu Leodoro tinha preparado um roçado com 10 hectares, todos estes hectares plantados com milho, feijão, melancia, jerimum, melão... Seu Galdino foi mais longe, segundo ele, fez um plantio de 50 hectares plantando os mesmos legumes que plantara seu Leodoro.
Seu Leodoro tinha preparado um roçado com 10 hectares, todos estes hectares plantados com milho, feijão, melancia, jerimum, melão... Seu Galdino foi mais longe, segundo ele, fez um plantio de 50 hectares plantando os mesmos legumes que plantara seu Leodoro.
Seu Galdino
tinha uma porção de histórias interessantes sobre onças para contar ao seu
melhor amigo e compadre Leodoro Gusmão, mas, como o tempo estava muito restrito
para ambos, iria esperar por oportunidades, talvez depois da limpa, porque as
lavouras não mais iriam necessitar de tanto carinho.
Mas não
demorou muito para que seu Leodoro Gusmão fizesse uma visita ao seu Galdino. Ele estava com saudade daquelas belas histórias que seu Galdino gostava de contar. Chegou à boquinha da noite, e ao cumprimentar o seu compadre, que por ele foi
convidado para entrar e se abancar, logo surgiu um incômodo que ninguém fica
satisfeito quando está na companhia de uma pessoa, ou no meio de muita gente, o chamado "espirro".
Mas como seu
Galdino tinha conhecimentos como curar certos incômodos, segundo ele, mandou
que seu Leodoro segurasse o fôlego por um bom tempo, e em seguida, apertasse o dedo mindinho
no meio da junta, com muita força. Finalmente, o que incomodava seu Leodoro
naquele momento, foi-se embora.
Ali, sentados
sobre o alpendre a conversa dos dois, iniciaram sobre espirro. Seu Galdino disse
que aquela espirradeira do seu Leodoro fez lembrar de um caso interessante que
aconteceu com a dona Dionísia sua querida esposa. E sem muita demora, iniciou a história:
- Certa vez,
dizia seu Galdino, Dionísia adoeceu com uma espirradeira das danadas. Como eu
sabia que aquilo era começo de gripe, e estava sem dinheiro para consultar um
médico, sobre aquela espirradeira desenfreada na Dionísia, tive que cuidar de
medicamentos caseiros, e vi que o melhor mesmo, seria ir às matas, para ver se
eu encontrava uma abelha jandaíra, que tivesse favos de mel, para eu fazer um
coquetel com: o próprio mel, limão, sal e pimenta do reino. E assim, fiz. Sair
de casa depois que fiz as minhas obrigações rotineiras. Preparei machado,
facão, lata para colocar o mel, caso eu encontrasse uma abelha...
- Sim senhor!
– Fez seu Leodoro com muita atenção à conversa do seu Galdino.
- Fui ver se
encontrava mel lá pras bandas do Pai Antonio, nas terras do Soutinho.
Não demorei muito para encontrar uma abelha situada em uma umburana, e mesmo não tendo
sido um inverno de muitas colheitas, naquele ano, ela estava muito gorda, mel em
abundância. Todos os favos estavam cheios. Arriei o material, isto é, machado,
facão..., e iniciei a tirada do mel, sempre fazendo os cortes na árvore na
diagonal, porque facilitava mais o meu serviço. Entretido no meu ofício, mas
mesmo assim, ouvi uma quebradeira das danadas dentro da mata. Meio receoso com
aquilo, parei de cortar a árvore e fiquei observando o que era aquele movimento
que estava acontecendo naquele momento. Quer saber o que era aquele movimento,
compadre Leodoro dentro da mata?
- Quero, sim
senhor, agora mesmo!
- Era uma onça
parda, compadre Leodoro, correndo atrás de um tamanduá bandeira!
- Meu Deus! Um
tamanduá bandeira nesta nossa região, compadre Galdino!? – Perguntou seu
Leodoro com espanto.
- Sim senhor!
Mas não foi só isso não, compadre! Com pouco tempo que se passara, não era mais
a onça que vinha correndo atrás do tamanduá, desta vez foi o tamanduá correndo
atrás da onça.
http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2016/06/onca-e-capturada-em-campo-de-futebol-de-bairro-em-borda-da-mata.html
- Coisa nunca
visto neste mundo de meu Deus, compadre Galdino! Um tamanduá correr atrás de
uma onça! – Admirava-se seu Leodoro Gusmão.
- Mas o
tamanduá, compadre Leodoro, era da raça bandeira, e o senhor ver o porte do danado..., pois bem,
os minutos foram se passando e não mais voltaram, isto é, a onça e o tamanduá.
Eu continuei tirando o mel do oco da umburana, e assim que eu terminei, juntei
as minhas ferramentas, e me mandei para casa.
- O senhor
andava a pé, compadre Galdino?
- Não. Eu
andava em meu cavalo, e quando nós voltávamos para casa ele quis se assustar um
pouco, e eu segurei as rédeas, porque ele era muito passarinheiro, e temendo
que ele me derrubasse de cima da cela, fui com cautela, montado nele. Lá mais adiante, avistei algo diferente, e fui me aproximando. Vi que era uma onça que estava
deitada. Quer saber porque ela estava deitada ali, compadre Leodoro?
- Oxente!
Quero sim senhor!
http://www.chapadensenews.com.br/paginas/noticias/noticia-tamanduA-bandeira-atropelado-na-br060-agonizou-hoje-em-chapadao-do-sul-animal-aguarda-o-transporte-para-o-cras-em-campo-grande-20934
- O tamanduá
tinha dado nela um abraço dos bons mesmo por debaixo da barriga, e nesse abraço, ele cravou as duas unhas grandes em seu couro, estavam fincadas no vazio da
pobre onça que ficou imobilizada.
- Nossa, meu
Deus!
- Desci do
cavalo e fui tentar tirar o tamanduá debaixo da infeliz. Eu sempre receoso,
com medo que, mesmo ela estando presa pelo abraço do tamanduá, poderia tentar me atacar.
E lentamente, ele que é dono de uma força espetacular, fui puxando uma das patas
dianteira que estava com a unha encravada no vazio da onça, depois a outra, e
assim que eu consegui liberará-la das unhas do tamanduá, ela se sentindo livre,
saiu rugindo, talvez sentindo dores, e entrou nas matas fechadas.
- Que sorte,
hein, compadre que teve a onça?!
- Sorte tive
eu que ela não tentou me devorar. – Disse seu Galdino com ignorância.
- Acho que ela
deve ter morrido, compadre Galdino, porque um abraço de tamanduá e mais sendo
da família bandeira não é todo vivente que escapa.
- O senhor é
quem diz que ela não escapou. Um mês depois deste acontecimento, eu voltei ma região em que isto aconteceu...
- E aí,
compadre Galdino, a viu por lá? - atalhou seu Leodoro.
- Eu a vi, compadre Leodoro, viva, gorda
e sadia, ela estava. E o mais interessante, foi que ao me ver, ela ficou me
observando dos pés a cabeça, e veio em minha direção. Eu fiquei ali esperando
ela me atacar, mas o que ela queria, compadre Leodoro, não era para me atacar, foi para me agradecer. Ela
veio bem pertinho de mim e assim, eu perdi o medo. Caminhei bem mais pertinho dela.
Quer saber o que ela fez para que eu entendesse que ela não queria me atacar?
- O que,
compadre Galdino, ela fez?
- Ela se deitou e ficou ali paradinha. Com isso, eu me aproximei dela, pus as minhas mãos sobre
o seu pelo liso, e ela ficou bem quietinha no lugar. Em seguida, saiu olhando para trás como
se estivesse me agradecendo.
- Se fosse eu, ela teria me devorado. O senhor é
um homem abençoado por Deus, compadre Galdino!
- Eu também me
acho! – Dizia seu Galdino se pabulando.
- Bom, compadre
Galdino, vamos cuidar de dormir! Amanhã nós temos nossos muitos serviços para
fazermos.
Despediram-se
com um boa noite pra lá, e outro boa noite pra cá.
Ao sair dali,
seu Leodoro disse consigo mesmo: “- Eu vou deixar de andar na casa do compadre
Galdino se não irei ficar do seu jeito. Mentiroso.”
http://josemendeshistoriador.blogspot.com
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