quarta-feira, 14 de março de 2018

CONTOU-ME A MINHA AVÓ


Por José Mendes Pereira - (Crônica 77)


Não posso afirmar de certeza se isto aconteceu mesmo, mas também não me arrisco em dizer que foi conversa inventada pela minha avó. Até onde eu sei é que Herculana Maria da Conceição (mãenanana, minha avó), era uma grande rendeira, mas historiadora e mentirosa, nunca ouvi falar. Ela deve ter escutado de alguém.
  

Bando de Lampião

Certo dia, dizia minha avó Mãenanana, Lampião e seu bando se encontravam arranchados bem próximos a um rio no Estado de Sergipe. E por ironia do destino, um senhor chamado Lauriano que andava procurando caças para alimentar os seus filhos, saiu no local onde se encontrava o bando. Logo os cangaceiros o rodearam e começaram as suas humilhações contra ele. Cuspiram e surraram o infeliz.


 No "canion" do Rio São Francisco - Só para Efeito de ilustração
                 
Lampião que descansava encostado ao um tronco de uma frondosa árvore apenas observava as maldades dos cangaceiros contra o pobre infeliz caçador. E em seguida, levantou-se dizendo-lhes:
              
- Gente, é melhor executá-lo do que ficarem  maltratando o homem que ainda nada fez contra nós.
              
E apoderando-se do seu maldito rifle que estava ao seu lado, ordenou-lhes que colocassem o marcado para morrer   em posição de execução.
             
O homem ajoelhou-se  ao pés do poderoso carrasco capitão Lampião rogando-lhe que não o matass:
             
- Senhor, pelo amor de Deus não me mate! Eu deixei em casa três filhinhos pequenos para criar, e minha esposa é paralítica dentro de uma rede, sem condições de ralar para terminar de criá-los. Sem eu cuidando deles, eles e a sua mãe vão morrer de fome, senhor!

Apesar de sanguinário o capitão Lampião condoeu-se com aquele pedido do homem para não morrer. E olhando bem no fundo dos seus olhos, disse-lhe: 
               
- Eu lhe faço um desafio, cabra! Se você tiver sorte na vida não irá morrer, pelo menos, hoje...        
               
E olhando em direção a um baixio bem próximo ao coito, onde lá repousa  um rio milenar, perguntou-lhe com ignorância:

- Você está vendo aquela catingueira ali, seu peste? 
               
- Estou sim senhor! Estou! - Respondeu o pobre homem.
               
- Você vai andando até a catingueira. Quando você se emparelhar com ela, corra, que é a partir daí é que eu começo a atirar. Não corra antes, porque eu atiro e você morre logo.
                  
Pela proposta feita ao pobre infeliz Lampião não tinha intenção de matá-lo, já que não havia motivo nenhum para executá-lo. O seu desejo era que ele escapasse das balas e fosse cuidar da esposa e criar os seus  filhinhos.                 
              
O homem conhecia bem a região. Da catingueira até ao rio tinha uma ladeira. Mas quando ele se emparelhou à catingueira em vez de correr, deitou-se e saiu rolando em direção ao rio.
              
Lampião saiu correndo atraz dele e atirando para cima.
              
Mas o homem medroso querendo escapar da morte, caiu dentro dágua, submergiu e adeus Lampião! 
                
- Mas que sujeitinho inteligente, gente! -  O safado me pegou de cheio! Dizia o capitão Lampião para a sua cabroeira sorrindo da astúcia do caçador. 

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