segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

SEU GALDINO NÃO ACEITAVA QUE NAMORADOS DAS SUAS FILHAS DORMISSEM EM SUA CASA

Por José Mendes Pereira - (Crônica 61)

- Eu, hein, deixar que namorados das minhas filhas durmam em minha casa, compadre Leodoro! Acho que o pai de família que aceita isso, não está pensando no futuro da filha. O bicho homem é sem respeito, e se o pai não tentar moralizar a sua casa, vira bagunça.

- Já eu penso diferente, compadre Galdino. Não devemos colocar a culpa só em cima do homem. O senhor sabe que tem moça que é pior do que homem, não pode ficar um instante sem namorado, e aí é quando eu digo que o rapaz não tem culpa disso sozinho. E quando tem de acontecer, acontece, compadre!

- Eu até aceito o que o senhor diz...

- Mas meu compadre Galdino, atalhou seu Leodoro, quando tem de acontecer uma honra de uma moça ser afetada. é porque ninguém evita isso. E o senhor sabe quais são as 3 coisas que no mundo não tem quem segure?

- Não senhor! Sei não senhor! – confirmava seu Galdino a sua inocência.
- Pois bem, as 3 coisas que no mundo não tem quem segure, são: A primeira, compadre, é fogo de ladeira a cima. Não há um vivente neste mundo de meu Deus que consegue apagar este fogo. Só Deus e mais ninguém..., Mas isso se Deus estiver acordado, porque se estiver dormindo, compadre...

- Verdade! - Fez seu Galdino.

- A segunda é água de ladeira abaixo. Também não há ninguém que consiga frear água. Só Deus e mais ninguém...

- Pois sim, e a terceira, compadre Leodoro, qual é?

- A Terceira é moça quando quer dar. Ninguém segura...

- Gostei muito do seu raciocínio! Muito bem pensado! – Admirava seu Galdino enquanto enrolava um punhado de fumo em um papelinho.

Normalmente, nas quartas-feiras e aos sábados, ao anoitecer, o Reinaldo namorado da Galdina filha mais nova do seu Galdino, chegava na sua fazenda montado numa jumentinha em dias de parir. Nunca trouxera a jumentinha para ficar ali, pertinho dos seus olhos, sempre a deixava numa distância de 50 metros sob uma catingueira, que viçosamente frondeava. E assim que a amarrava no tronco da catingueira, ia até a casa da namorada, e, ali, sentados num banco sob o alpendre, o casal de jovens ficava juntinho.

Mais adiante, em outro banco, sentava-se seu Galdino, ali, como um vigia. Qualquer movimento da filha ou do jovem seu Galdino filmava tudo. Nada de passar a mão nisso ou naquilo. Seu Galdino dizia que não tinha feito filhas para servir de amasso para oportunistas. Se quisesse ter direito a isto,entrasse em contato com ele, explicando-lhe que estava decidido a ter um lar, e queria como sua companheira, a sua filha. Aí, sim, faria o casamento de imediado. E lá, em sua casa, que usasse e abusasse da sua filha, mas enquanto isto não fosse decidido, ninguém iria se aproveitar das suas filhas, principalmente a Galdina que era a filha mais nova, e que a criava com muito carinho.

Nessa noite, era sábado. Os amores apaixonados foram um pouquinho mais além do inesperado, porque seu Galdino adormeceu uns minutos sobre o banco que se deitara. E quando acordou, o casal havia se acariciado, beijado em desespero e mais outras coisas.

Lá para as dez da noite seu Galdino ordenou que a Galdina entrasse para o seu quarto, e o jovem tomasse rumo de casa. E assim foi obedecido. Finalmente, ordem de pai e de futuro sogro, tem que ser obedecido.

O casal despediu-se. A Galdina entrou, caminhando para o seu quarto, e lá, consigo mesma, ficou reclamando do pai, que eles deveriam ficar mais um pouco, lado a lado. E até dizia que seu Galdino parecia "cafona", do tempo da pedra lascada, coisa arcaica...

O namorado da Galdina tomou rumo à jumentinha, que lá amarrada sob a catingueira, aguardava o seu retorno, e caminharem em direção a fazenda do pai do jovem, que ficava um pouco distante, quase 2 léguas da casa do seu Galdino. E ao se aproximar da jumentinha, viu algo não esperado. E de pressas, voltou à casa do seu Galdino que já estava com a porta fechada, e em seguida, chamou-o:

- Seu Galdino?

- Quem é? – Perguntou o velho fazendeiro.

- Sou eu, o Reinaldo namorado da Galdina.

- E o que houve que voltou para aqui? - Perguntou seu Galdino com tom de abuso.

- O que aconteceu, seu Galdino, é que a minha jumentinha deu cria, e não tenho condição de ir montado nela hoje à noite, porque o jumentinho novo ainda está rolando pelo chão. Se o senhor permitir, posso dormir aqui por hoje?

- Se não tem outro jeito, vai dormir aqui hoje à noite. Dionísia, trás uma rede, lençol e cordas para este jovem - gritou ele lá para dentro da casa.

E lá se vem dona Dionísia com rede, lençol e cordas, entregando-os ao seu Galdino. E assim que ele recebeu das mãos da esposa, foi entregando ao jovem, dizendo:

- Vá dormir lá no estábulo!

- Mas seu Galdino, o senhor está falando sério mesmo?

- E você acha que eu estou brincando?

Não teve outro jeito! O jovem foi para o estábulo, armou a rede e minutos depois, dormia no meio do cheiro de fezes de gado.

Ao clarear do dia, domingo, o jovem saiu tangendo a jumentinha com o seu filho, que já estava espertinho para a viagem.

E assim que seu Galdino se levantou foi até à catingueira para ver o jumentinho que nascera, mas o Reginaldo já estava longe dali. Seu Galdino ficou reclamando sozinho, dizendo:

- Na minha casa não dorme namorado de filha minha! E eu brinco!!!
http://josemendesphistoriador.blogspot.com

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