terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

EU JÁ ENTREI NA EDUCAÇÃO COM O PÉ ESQUERDO

Por José Mendes Pereira - (Crônica 62)

Em mil novecentos e oitenta e três eu fui encaminhado à Escola Estadual Professor Manoel João para assumir uma vaga de professor e lecionar português. Essa indicação foi feita por Laurita Rosado e Laurenisa Maia através do trem da alegria, porque concurso público não estava em evidência. 
          
No dia vinte e três de Maio eu recebi o meu encaminhamento e no dia seguinte, às nove horas, pela manhã, fui ao antigo Nure, hoje Dired, para fazer o meu cadastro funcional.

Noutros tempos, o Nure funcionava no Pio XII, anteriormente era uma repartição religiosa dirigida por freiras, e que dava apoio a moças que tinham sido decepcionadas na vida amorosa, uma espécie de convento, eu não posso afirmar com clareza, e posteriormente, ela foi desativada pela direção da Diocese de Mossoró.  
                
Quando eu cheguei ao Nure, em um pequeno corredor, como chamamos popularmente, de um lado e do outro, dois grupinhos de pessoas se encontravam sentados. Ao passar no meio deles, no lado esquerdo, surgiu um murmúrio de risos baixinho no ambiente, mas eu me segurei e fiz de conta que nada estava acontecendo.
         
Na sequência, caminhei em direção à sala onde estava a diretora do Nure, Zilda Maria Cabral, e a entreguei o encaminhamento, mas recebi através dela, uma informação desagradável, de que no momento, não tinha vaga para professor, e sim, para “Téc-D.” Não pensei duas vezes, e aceitei a proposta de me contratarem como “Téc-D”, pois eu estava vivendo de uma pequena quitanda, no conjunto Ulrick Graff, e com muitas dificuldades financeiras.
           
Após as suas explicações fui informado de que eu teria que retornar ao órgão no dia seguinte, porque a moça encarregada do setor, isto é, de onde começavam os registros, havia saído para resolver problemas relacionados com o mesmo. Ela me disse o nome da pessoa, mas assim que eu saí da sua sala, esqueci-me por completo. 
             
Saí meio apressado para que o grupinho não repetisse mais os risos, e por sorte minha, não havia mais ninguém no lugar. Desci os degraus, passei pelo portão, parei um pouco sob uma das caixas de água que fica em frente, pitei, usando a minha imbecilidade, e em seguida, resolvi voltar para apanhar o nome da moça que eu havia me esquecido.
        
E novamente retornei ao local, e em um dos recantos do corredor, tinha uma senhora prestando informações às pessoas que ali chegavam. Expliquei o meu problema, e ela escrevinhou às pressas, em um papelzinho e me passou. Eu pensando que ela estava me entregando o nome da moça, a qual eu deveria falar no dia seguinte, recebi-o, enfiei no bolso e fui-me embora.
         
Só mais tarde quando eu cheguei em minha casa foi que eu descobri que o bilhete dizia assim:

“Os risos que surgiram no corredor foram causados porque o lado esquerdo da sua calça está descosturado até ao joelho”. (Que coisa hein!).

“A senhora que me atendeu eu acredito que já está gozando os seus direitos, isto é, aposentada, pois nunca mais a vi na Dired”.

Minhas Simples Histórias

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