Por José Mendes Pereira - (Crônica 45)
Nessa noite a aula do João Maleável estava um show. Geografia. E ele garantia fazer uma boa aula. Polivalente até os dentes, dizia ele, e até se gabava um pouco. Quem era capaz de dizer que o mestre da sabedoria não sabia Geografia? Ora! Só se fosse louco e muito louco!
A noite anterior passou em claro com os pés afogados em uma bacia com água e bastante gelo, na intenção de memorizar os conteúdos.
E a famosa aula começou num clima harmonioso. O professor iniciou falando da Ásia, da África, da Europa, da Oceania, das Américas, e em seguida, falou um pouco do Brasil. Falou, falou, falou, reclamou da crise brasileira, e depois notou que tinha fugido um pouco do assunto.
- Vamos deixar isso pra lá! Vamos à nossa aula é o que nos interessa!... Pois sim, ontem à noite, no final da aula, eu dizia que os países que se limitam com o Brasil, são: A Argentina, o Peru, a Bolívia, o Paraguai, o Uruguai, a Colômbia a Venezuela..., com exceção do Chile e do Equador. Pois ambos os dois não se limitam com o Brasil.
Do meio da sala a Raquel inconformada com este termo meio fora dos padrões gramaticais, ridícula, esbravejou, tirando o silêncio da aula, repreendendo o mestre.
- Professor, por que o senhor diz tamanha barbaridade dentro de uma sala de aula?
- Qual foi a barbaridade que eu disse, menina? – Interrogou ele com os nervos já na flor da pele.
- Ambos os dois, professor! Está errado, e como está errado! O senhor está precisando urgente é de uma reciclagem.
O João Maleável notou que na verdade o erro tinha sido grave, mas não iria voltar mais atrás, ou dar o braço a torcer. Iria dar-lhe o troco, mesmo que a ferisse. Já vinha notando que nas últimas noites a Raquel tentava bagunçar as suas aulas, tirando-lhe do sério. E ele não estava pronto para admitir certos desrespeitos de alunos! Ora! Sabia demais que ela tinha futuro pela frente. Uma ótima aluna, não faltava às suas aulas, fazia todas as atividades, mas iria cortar logo o mal pela raiz. Fazia ele encostado à janela consigo mesmo. Falar com a supervisora sobre a Raquel não adiantava nada, porque ela tinha mania de defender alunos quando estavam errados. Salete, a supervisora, gostava de passar a mão sobre cabeças de alunos; protegendo-os quando não cumpriam os seus deveres.
Mas ele defendia que, se o aluno tinha direitos para se beneficiar, também era dono de deveres para cumprir. E muitas vezes, a supervisora tirava o direito do professor para dar a quem? A quem? Isso ele resmungava baixinho para que a turma não percebesse a sua indignação. E ele não tinha dúvida do que a supervisora iria lhe dizer com aquele jeito de mãe. “- O senhor tem que entender que a Raquel está vivendo nesse momento a sua adolescência!” - Dizia ele no seu eu, e quase numa forma de arremedá-la.
O que mais o irritou foi quando a Raquel disse que ele estava precisando de uma reciclagem! Comparado-o com lixos, cobres, papelões, garrafas vazias, alumínios e ferros velhos... Ora! Isso ele esbravejava encostado à parede enquanto os alunos faziam cópias. “- Que leva a sua mãe, sua Olívia Palito! Na aula anterior, esse espeto de churrascaria passou o tempo todo conversando com Cristina”.
O que ainda o segurava de não fazer zoadas com a Raquel era porque, no seu último aniversário havia sido presenteado por ela, com uma oferenda que em toda sua vida de escola, jamais tinha recebido de alguém. Uma caneta folheada com ouro, ouro puro, assim lhe informou o analista de jóias. A caneta chegou às suas mãos em uma embalagem especial, embrulhada num papel de presente com os seguintes dizeres: “Ofereço este presente ao meu grande..., e querido “professor”...
Ao recebê-lo, notou que a Raquel havia colocado uma reticência mo início e outra no final da frase. Gramaticalmente, ele sabia demais o que significava, mas não sabia a sua intenção. Afinal, o que ela quis ocultar no meio das duas reticências? Teria lhe chamado de doido, trouxa, relapso, veado ou outra coisa parecida?
Mas o João Maleável estava preparado e lhe deu o troco, desconsiderando a oferenda.
- É, Raquel, na verdade eu não devia ter dito ambos os dois... Mas já que eu disse e não há mais como corrigir o meu erro, eu tenho a lhe dizer com toda franqueza, que eu disse ambos para os entendidos, e dois eu disse para os burros.
- Meu Deus! Como o professor é mal educado, pobre de espírito e de sabedoria! - Disse a Raquel já com as lágrimas deslizando sobre o rosto, e ausentando-se da sala de aula.
"- Chora, sua magricela!" – Exclamou ele em voz tímida.
A noite anterior passou em claro com os pés afogados em uma bacia com água e bastante gelo, na intenção de memorizar os conteúdos.
E a famosa aula começou num clima harmonioso. O professor iniciou falando da Ásia, da África, da Europa, da Oceania, das Américas, e em seguida, falou um pouco do Brasil. Falou, falou, falou, reclamou da crise brasileira, e depois notou que tinha fugido um pouco do assunto.
- Vamos deixar isso pra lá! Vamos à nossa aula é o que nos interessa!... Pois sim, ontem à noite, no final da aula, eu dizia que os países que se limitam com o Brasil, são: A Argentina, o Peru, a Bolívia, o Paraguai, o Uruguai, a Colômbia a Venezuela..., com exceção do Chile e do Equador. Pois ambos os dois não se limitam com o Brasil.
Do meio da sala a Raquel inconformada com este termo meio fora dos padrões gramaticais, ridícula, esbravejou, tirando o silêncio da aula, repreendendo o mestre.
- Professor, por que o senhor diz tamanha barbaridade dentro de uma sala de aula?
- Qual foi a barbaridade que eu disse, menina? – Interrogou ele com os nervos já na flor da pele.
- Ambos os dois, professor! Está errado, e como está errado! O senhor está precisando urgente é de uma reciclagem.
O João Maleável notou que na verdade o erro tinha sido grave, mas não iria voltar mais atrás, ou dar o braço a torcer. Iria dar-lhe o troco, mesmo que a ferisse. Já vinha notando que nas últimas noites a Raquel tentava bagunçar as suas aulas, tirando-lhe do sério. E ele não estava pronto para admitir certos desrespeitos de alunos! Ora! Sabia demais que ela tinha futuro pela frente. Uma ótima aluna, não faltava às suas aulas, fazia todas as atividades, mas iria cortar logo o mal pela raiz. Fazia ele encostado à janela consigo mesmo. Falar com a supervisora sobre a Raquel não adiantava nada, porque ela tinha mania de defender alunos quando estavam errados. Salete, a supervisora, gostava de passar a mão sobre cabeças de alunos; protegendo-os quando não cumpriam os seus deveres.
Mas ele defendia que, se o aluno tinha direitos para se beneficiar, também era dono de deveres para cumprir. E muitas vezes, a supervisora tirava o direito do professor para dar a quem? A quem? Isso ele resmungava baixinho para que a turma não percebesse a sua indignação. E ele não tinha dúvida do que a supervisora iria lhe dizer com aquele jeito de mãe. “- O senhor tem que entender que a Raquel está vivendo nesse momento a sua adolescência!” - Dizia ele no seu eu, e quase numa forma de arremedá-la.
O que mais o irritou foi quando a Raquel disse que ele estava precisando de uma reciclagem! Comparado-o com lixos, cobres, papelões, garrafas vazias, alumínios e ferros velhos... Ora! Isso ele esbravejava encostado à parede enquanto os alunos faziam cópias. “- Que leva a sua mãe, sua Olívia Palito! Na aula anterior, esse espeto de churrascaria passou o tempo todo conversando com Cristina”.
O que ainda o segurava de não fazer zoadas com a Raquel era porque, no seu último aniversário havia sido presenteado por ela, com uma oferenda que em toda sua vida de escola, jamais tinha recebido de alguém. Uma caneta folheada com ouro, ouro puro, assim lhe informou o analista de jóias. A caneta chegou às suas mãos em uma embalagem especial, embrulhada num papel de presente com os seguintes dizeres: “Ofereço este presente ao meu grande..., e querido “professor”...
Ao recebê-lo, notou que a Raquel havia colocado uma reticência mo início e outra no final da frase. Gramaticalmente, ele sabia demais o que significava, mas não sabia a sua intenção. Afinal, o que ela quis ocultar no meio das duas reticências? Teria lhe chamado de doido, trouxa, relapso, veado ou outra coisa parecida?
Mas o João Maleável estava preparado e lhe deu o troco, desconsiderando a oferenda.
- É, Raquel, na verdade eu não devia ter dito ambos os dois... Mas já que eu disse e não há mais como corrigir o meu erro, eu tenho a lhe dizer com toda franqueza, que eu disse ambos para os entendidos, e dois eu disse para os burros.
- Meu Deus! Como o professor é mal educado, pobre de espírito e de sabedoria! - Disse a Raquel já com as lágrimas deslizando sobre o rosto, e ausentando-se da sala de aula.
"- Chora, sua magricela!" – Exclamou ele em voz tímida.
http://josemendeshistoriador.blogspot.com.br/2018/02/que-ma-sorte-hein-joao-maleavel.html
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