Por José
Mendes Pereira (Crônica 41)
Nesse período
em que isto me aconteceu eu era criança e ainda não era interno da Casa de Menores Mário
Negócio, e vivia sobre as ordens do meu pai, na sua minúscula propriedade,
denominada "Sítio São Francisco", a uma distância da cidade de
Mossoró, mais ou menos 9 quilômetros.
Eu ali vivia
correndo pelos campos, no meio das carnaubeiras, plantando e colhendo milho,
feijão, melancias, jerimuns, empilhando palhas da
carnaubeira, cuidando dos nossos animais, carregando água sobre o meu
lombo ou sobre o lombo de jumentos.
Como vivia em
terras alheias, o meu pai Pedro Nél Pereira fez economias, e anos depois, comprou uma pequena propriedade de um senhor chamado Luiz Duarte, irmão de
Manoel Duarte Ferreira, este já é do conhecimento do leitor, um dos que
resistiu aos desrespeitos à Mossoró, feito por Virgulino Ferreira da
Silva, o afamado e sanguinário cangaceiro Lampião.
Dona Chiquinha
Duarte era madrasta do Lili e do Manoel Duarte, e que era uma das
maiores proprietárias de terras de Mossoró, e nela, tanto os meus pais,
tios, meus irmãos e eu, nascemos lá.
Sendo ela uma
senhora que tinha prazer em ver os filhos dos seus moradores estudando e
progredindo, e como eu fabricava gaiolas, aviões, revólveres e carrinhos de
madeira, aconselhava-me que eu deveria cuidar de fazer outras miniaturas, e
levá-las até à feira de Mossoró. Mas como eu não tinha conhecimento de
comércio nunca sair de lá para vender os meus inventos na feira, exceto, canários, graúnas, periquitos que eu os roubava da natureza.
O meu pai era
leiloeiro, e em outubro de cada mês, realizava a festa de São Francisco, com
leilões e forró de pé de serra, até ao amanhecer do dia. E com os lucros das
festas construiu a capela de São Francisco em sua propriedade.
Estava para
acontecer um leilão e eu sonhava em possuir um relógio "grão duque",
sendo que já era conhecido no comércio por um excelente marcador de horas. E
como as comemorações do São Francisco estavam em dias de acontecerem, idealizei
vender refresco de tamarindo durante a festa, para angariar dinheiro, e
com o valor apurado, eu faria a compra desse tal relógio "grão duque".
Os
ingredientes do refresco eram: a água, o tamarineiro, sendo que estes dois não
seriam necessário comprá-los, principalmente o tamarindo, porque os
tamarineiros haviam produzido seus frutos em abundâncias.
Como eu não
tinha dinheiro para comprar o açúcar solicitei da fazendeira, que me
emprestasse o valor necessário para pagar alguns quilos de açúcar, e no dia
seguinte, após o leilão, acertaria a minha dívida com ela, que com certeza, a
venda iria atingir o esperado.
Chega a noite festiva. Pouco tempo o leilão iniciou, e lá eu estava ao redor do botequim, bem vestido e bem calçado, esperando os futuros fregueses do meu novo invento. Eu havia feito três latas de refresco, cada uma com 18 litros, mas ainda achando que deveria ter feito mais refresco, já que era uma noite de festa.
A noite foi se
passando e ninguém me solicitava um copo de refresco, e sabendo que se eu não o
oferecesse, ninguém iria comprar. Passei a fazer oferta do meu produto. Eu
estava vizinho ao botequim, onde o dinheiro caía em abundância, e quando um
sujeito vinha beber pingas, cervejas.., eu lhe oferecia a minha mercadoria.
Mas, as respostas eram desagradáveis, dizendo-me: - Eu lá quero porqueira de
refresco de tamarindo, menino! O que eu quero é beber cachaça!, Refresco à
noite é coisa para criança...
Só sei que perdi o meu tempo e nesta noite não vendi a dinheiro um copo sequer, salvo três copos fiados a um vizinho nosso, que me prometeu, que no dia seguinte, me pagaria. Infelizmente ele morreu e não me pagou.
O dinheiro que eu havia tomado emprestado à fazendeira ela dispensou, dizendo-me, que sabia que refresco de tamarindo, principalmente em noite de festas, seria muito difícil à procura.
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