sábado, 24 de fevereiro de 2018

NO TEMPO DOS CORONÉIS - FARINHA COM SAL

Por José Mendes Pereira - (Crônica 66)
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Não tenho conhecimento do seu nome de batismo, apenas apelidado de "Farinha com Sal". Vivia de pequenos furtos. Não deixava quieto o que via em sua frente. Quando criança admirava-se dos maus costumes que têm os ladrões. E para aprender deu início a uma espécie de treino. Colocava a sua camisa em um lugar, e lá, fazia o furto, tentando esconder da mãe a sua nova invenção. O tempo foi-se passando e a prática foi aparecendo, e meses depois, "Farinha com Sal" estava prontinho para começar a sua primeira profissão. O nosso larápio residia em Mossoró, nas imediações do Bom Jardim, nos dias de hoje, a Rua em que ele morava é a Pedro II, paralela com a Pedro I.

"Farinha com Sal" não era um larápio perigoso, apenas famoso pelas suas astúcias. Paciente, tranquilo, e se o sujeito o pegasse com roubo nas mãos, descaradamente, o entregava com um sorriso meio tímido, e assim, "Farinha com Sal" tornou-se um ladrão compadecido pela população, não o entregando a polícia.

Apesar do ridículo costume que carregava consigo tinha uma amizade ao coronel Vicente Sabóia, que mesmo ele sendo ladrão, frequentava a sua casa como qualquer outro cidadão. Mas "Farinha com Sal" sabia muito bem onde pisava.

Em conversa o coronel Vicente Sabóia o desafiou, que ele fazia roubos em outras casas, mas duvidava que ele chegasse a entrar em seu lá, com ele e o Bertoldo em casa, seu cão de estimação, que era valente ao extremo.

"Farinha com Sal" querendo provar que o roubaria com facilidade, fez-lhe a seguinte proposta:

- Coronel, se eu conseguir entrar na sua casa e se o senhor acordar e me ver dentro de casa, o senhor não atirará em mim e nem me prenderá?

- Garanto-lhe que não atirarei e nem chamarei a polícia. Mas isso não vai acontecer nunca! - continuava duvidando o coronel.

- Se o senhor garantir mesmo eu vou lhe mostrar que eu entro com o senhor e o seu cão em casa.

- Concordado! - Confirmou o coronel Vicente Saboia.

Os dias se passaram, chegando a meses, mas "Farinha com Sal" não havia desistido da proposta que fizera ao coronel.

Certa noite, já passavam das duas da madrugada. "Farinha com Sal" escondeu-se bem próximo à casa do coronel, e em sua companhia, conduzia uma cadela.


Esta, dera o nome de Dardora (Das Dores) que criara desde pequena, e a batizara com este nome; dizia que era uma homenagem à sua sogra, que segundo ele, ela era mais vadia do que mesmo a sua cadela. "Farinha com Sal" foi até as laterais da casa, e por cima do muro, jogou a cadela.
Bertoldo muito lhe agradeceu e ficou entretido com a cadela. Enquanto os dois se amavam "Farinha com Sal" cuidava do arrombamento da porta do coronel. Abriu-a e ficou lá fora sentado, pastorando a casa arrombada.



Mercado Público de Mossoró, em 1920. - http://blogdetelescope.blogspot.com.br/2015/02/o-mercado-publico-municipal.html

Como do costume, o coronel se levantava antes das cinco horas da manhã. Ia até o Mercado Público, batia um papo com os amigos, e depois retornava para tomar um café reforçado.

Nessa manhã, ao se levantar, viu logo a porta da entrada aberta. Assustado, gritou para mulher que ainda cochilava.

- Mulher, roubaram a nossa casa!

Lá de fora "Farinha com Sal" disse-lhe:

- Coronel, não atire! Sou eu, "Farinha com Sal". Mas pelo amor de Deus não chame a polícia. Apenas fiz para cumprir o nosso acordo.

Assim, o coronel viu que o "Farinha com Sal" era um grande ladrão. Em seguida, mandou ir embora sem nenhum castigo. Palavra de coronel dada, vale igual à palavra de rei!.

Farinha com Sal provou que tinha jeito mesmo de um grande ladrão, abrir a casa de um coronel.


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Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar outro.

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