Por José
Mendes Pereira - (Crônica 59)
Quem passeou
de trem indo para Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas e outras cidades do Rio
Grande do Norte com certeza ainda sente saudades do balanço e da
descontrolada zoada que fazia o velho transporte.
O último trem
com passageiros que ainda permanecia rodando sobre os trilhos de Mossoró foi desativado
de uma vez por toda, em um sábado, às 15:30, do dia 30 de Janeiro de 1988,
ordem federal, e que muito fez falta às cidades do médio e Alto Oeste do Rio
Grande do Norte.
A sua
desativação deixou muita saudade encravada no coração de cada mossoroense, ao
saber que aquele trem que tanto colaborou pelo desenvolvimento de Mossoró, fora
condenado a não mais pisar nas terras mossoroenses, e nunca mais colocaria
as suas rodas sobre os trilhos. Já bem próximo
da sua ida sem volta, na Rua Melo Franco, muitos mossoroenses estavam atentos
em suas casas, esperando o trem segui, e para verem-no pela última vez.
Os que
trabalhavam na linha férrea das cidades como: Mossoró, Governador Dix-sept
Rosado, Caraúbas, Jordão, Patu, Almino Afono, Mumbaça Demétrio Lemos Ulrick
Graff, Alexandria, Santa Cruz, São Pedro, Sousa, sentiam um incômodo dentro do
peito, em saberem que durante muitos anos viveram em prol daquela máquina, e por
último, só restavam saber para onde iriam, já que o trem, infelizmente, seguia
para um lugar que nunca mais sairia de lá.
https://www.youtube.com/watch?v=zF-tA1tQe9s
Faltavam
poucos minutos para que o condutor levantasse a bandeira verde, ordenando que o
maquinista partisse com o trem para o destino combinado pelos superiores da
rede ferroviária; talvez, iria gozar de sua aposentadoria em Sousa, na Paraíba;
e os corações humanos aumentavam as suas batidas. Alguns deles, nervosos,
encostados às portas das suas casas, aguardavam-no, para levantarem as mãos e
dizerem: "- Adeus, nosso trem querido! Você muito nos serviu por várias
décadas, agora chegou a vez de ir embora para nunca mais voltar!".
Pouco tempo, o
trem foi ligado a sua máquina. Os vagões encarrilhados, um a um, também estavam
proibidos de voltarem a esta terra que tanto os acolheu por anos e anos.
O maquinista
posicionado à cabine, não dava nenhuma palavra, apenas, olhava firme em direção
aos trilhos à sua frente. O seu ajudante, permanecia ao seu lado com o
olhar ao piso da máquina.
O mecânico aproximou-se da máquina com uma mala cheia de chaves,
e lá, a agasalhou em um vagão. E antes que descesse, bateu-lhe uma crise de
choro. Os companheiros de trabalho acalentavam-no, pedindo-lhe que
tentasse controlar a sua emoção. Mas o mecânico chorava descontrolado.
Finalmente, o
trem que tanto rodou, deu o primeiro deslocamento sobre os trilhos, e partiu
vagarosamente, apitando, como se estivesse chorando, porque estava indo para nunca mais voltar à esta querida terra, mas ali, recebeu o adeus de todos que ao lado dos trilhos esperavam a
sua partida.
A ponte
da estrada de ferro no Rio Mossoró-RN foi concluída no dia 7 de fevereiro de
1915, um dia de domingo, e oficialmente em 19 de março de 1915 (sexta-feira),
idealizada pelo suíço JOHAN ULRICH GRAFF, comerciante que fixou-se em
Mossoró em 1866, com seus companheiros Henrique Burly, Rodolfo Guyane e
Conrado Meyer, este, também, suíço. Em 1868, Johan Ulrich abriu, na praça
mossoroense, a Casa Graff, voltada ao comércio de importação e exportação. Na
época da inauguração o prefeito de Mossoró era FRANCISCO VICENTE CUNHA DA MOTA
(1914 - 1916).
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O trem foi
desaparecendo, e apenas se ouvia o seu apito sanfonado, como um choro de quem
está partindo para bem distante de seus familiares. E a fumaça cobria um pouco
a visão de quem o olhava.
Os que
permaneciam ao lado da linha férrea baixaram os seus olhares, como se
tivessem perdidos um dos seus entes queridos. Mas mesmo assim, não
paravam de acenar para ele.
O trem seguia
lentamente, porque era um desejo do maquinista demorar mais um pouco, já que
nunca mais iria manobrar aquela máquina tão importante na sua vida. As lágrimas
deslizavam sobre a sua face magra e quente, provocadas pelo calor da
temperatura da máquina.
Em um momento,
o ajudante percebeu que o maquinista lacrimejava, e perguntou-lhe:
- Você Está
chorando?
- Um pouco.
Sinto um forte arrocho no meu coração devido a saudade que já estou
sentindo, por quem não voltará comigo, deixou-me doente. Foram décadas que
passamos juntos. Mais momentos bons do que ruins.
Infelizmente,
o trem que tanto rodou sobre o chão de nossa cidade e que a engrandeceu,
prestando os seus serviços, desapareceu dos trilhos e dos olhares mossoroenses.
E alguns que haviam acompanhado a sua partida, no silêncio, também
lacrimejavam.
O trem se foi.
Em todos os momentos de metros rodados os olhares dos sertanejos que residiam
próximo à linha férrea, acompanhavam-no. Animais, pássaros, árvores, todos
estavam com os seus holofotes virados em sua direção, para despedirem-se do
trem que nunca mais voltará a nossa querida Mossoró.
O adeus dos
mossoroenses dirigido a você, trem, ficou registrado na mente de cada um. Você
se foi, e com certeza, está guardado sob um galpão, sujo, empoeirado e coberto
por malditas crostas ferrugentas.
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