sábado, 27 de janeiro de 2018

SEU GALDINO FICOU ESTRESSADO COM O SEU JUMENTO “FARRISTA”

Por José Mendes Pereira - Crônica 11)

Assim que seu Galdino terminou de cuidar dos afazeres do curral, tomou café, em seguida, fumou um cigarro rasga pulmão, selou o seu jumento “Farrista” e saiu com ancoretas para apanhar água na cacimba do gado. Mas, parece que “Farrista” andava meio adoentado. Lento, triste, preguiçoso, e os olhos estavam descendo lágrimas, como se ele estivesse sentindo muitas dores de cabeça, ou até mesmo no seu corpo inteiro. E desse jeito, fez com que seu Galdino se irritasse com ele, chegando até violentá-lo com fortes pancadas, sem escolher o lugar de bater.

Quando seu Galdino montava na sela ele ficava sem querer andar, ali, parado, mesmo levando exageradas surras do seu dono. Ainda bem que seu Galdino nunca matou nem si quer uma formiga, se não tinha o matado de ódio. Dizia ele que a natureza precisa de todos os viventes, e para que matar, em vez de proteger aquele vivente?

Muitas vezes, seu Galdino viu enquanto trabalhava em seus afazeres, várias formiguinhas passando com as suas cargas sobre o seu minúsculo ombro, e quando as via, parava tudo e ficava esperando que elas passassem para o outro lado. Se ele tinha o prazer de construir, dizia ele, assim são as formiguinhas, que querem fazer as suas casinhas para se protegerem da chuva, do sol e de seus predadores.

E assim, o “Farrista” sem querer andar, mais irritado ficava seu dono. Em um momento, o “Farrista” deitou-se ao chão, e por mais que seu Galdino batesse mais raiva ele o fazia. Não se levantou de jeito nenhum. Vendo que ele não se levantava, seu Galdino marchou para a ignorância. Fez uma coivara debaixo do seu rabo, e quando iniciava a fogueira, apareceu seu Leodoro que andava campeando. E vendo aquela arrumação, protestou, dizendo-lhe:

- Como é que o senhor faz uma coisa desta, compadre Galdino, tocando fogo no rabo do jumento?

Seu Galdino foi curto e breve dizendo:

- Se o senhor quiser ficar no lugar dele compadre Leodoro, para levar a minha carga, venha que o solto.

- Eu não, compadre Galdino. Eu sou gente, e não sou animal para levar cangalha nas costas.

E sem mais nada dizes, seu Leodoro Gusmão saiu do lugar em que estava às pressas, mas resmungando consigo mesmo. “- Que homem imbecil, ignorante este meu compadre!”

Assim que seu Galdino tocou fogo embaixo do rabo do jumento depressa ele se levantou. E aproveitou a vontade do “Farrista”, montou-se e saiu chicoteando-o vez por outra.

Mais adiante, “Farrista” repete o que fizera antes. Seu Galdino tentou levantá-lo, mas ele não estava nem aí. Quanto mais apanhava mais se entrevava, mesmo deitado. E depois de tanto apanhar, resolveu levantar. Seu Galdino pula na cangalha e segue viagem a caminho de casa.

Ao longe, avistou um cavaleiro que se aproximava. Era o vaqueiro da viúva dona Chiquinha Duarte, que vinha vistoriando as cercas da fazenda. Querendo saber para onde seu Galdino estava indo, perguntou-lhe:

- Está indo para onde, seu Galdino, com o jumento?

- Estou indo para o inferno! Respondeu-lhe com a maior ignorância.

- Nossa! O senhor está indo pra muito longe. Acho que tão cedo não irá chegar lar. Porque é longe daqui lar.

Seu Galdino não lhe respondeu mais nada. Esporeou e chicoteou fortemente o jumento e foi-se embora.

Bem próximo ao curral apareceu um senhor e duas mocinhas, os três estavam com bíblias nas mãos. O homem era o pastor João Tomah, mas não era do conhecimento do seu Galdino, e as mocinhas eram obreiras da igreja que faziam partes. Andavam à procura de ovelhas para a sua congregação.

Já fazia um bom tempo que o “Farrista” repetira novamente aquilo que tinha feito anteriormente em outros locais. Ao ver seu Galdino maltratando o jumento o pastor João Tomah chamou a sua atenção, que ele não devia fazer aquilo com o animal indefeso.

Seu Galdino quis logo saber o porquê de querer defender o jumento, dizendo:

- Por que o senhor quer defender o jumento, se ele não lhe pertence?

- É porque não devemos judiar com os animais, senhor. Eles são as nossas companhias. E se um dia o homem exterminar todos os animais da terra, não haverá mais vida no globo, porque o homem sozinho neste planeta suicidará, isto é, será um suicídio coletivo. Veja o senhor, continuava o pastor, um homem vai morar lá dentro da mata, passando fome, magro, sem nenhuma regalia, mas ao seu redor estarão: um cão, um papagaio, galinhas, gatos, bodes, ovelhas... O homem sozinho morrerá logo.

Seu Galdino mesmo irritado, com ódio, ouvia caladamente. Em seguida, perguntou-lhe:

- E se este jumento estivesse lhe fazendo raiva, assim como desde da cacimba que ele me irrita, o que o senhor faria?

A pergunta do seu Galdino ao pastor ficou sem resposta.

- Mas o senhor já tem idade para saber que não se deve judiar com os animais, principalmente este jumento, pois era nele que Jesus andava no mundo...

- E Jesus andou neste jumento, senhor? – Perguntou seu Galdino.

- Sim senhor!

- Só o podia ter andado neste jumento. Jesus com aquele jeito piedoso, calmo, tranquilo, e de filho de Deus e da Santíssima Trindade jamais lhe deu umas bordoadas. Ainda bem, senhor, que ele só andou neste. Porque se Jesus tivesse andado nos outros jumentos, tinha desgraçado todos eles, com manhas..., com preguiças, com malandragens..., meu Deus! Que coração bondoso é o de Jesus...!!!

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