domingo, 28 de janeiro de 2018

O VINGATIVO LAMPIÃO


Por José Mendes Pereira - (Crônica 15)

Em 1927, mesmo após sete anos da morte do seu pai Lampião resolveu tirar a tranquilidade do Estado de Alagoas, fazendo invasões constantes, usando o seu poder de vingança, e eliminando sertanejos, alegando que era protestando contra Zé Lucena, por ter assassinado o seu patriarca, o José Ferreira da Silva, no momento em que debulhava grãos em sua residência. 

Dizia ele que o que haviam feito com o seu generoso pai jamais ficaria impune ou no esquecimento, pois o velho não tinha nada a ver com os seus problemas de bandidagem. Se Zé Lucena o procurava para eliminá-lo do solo sertanejo, que tivesse enfrentado os cerrados, as caatingas por todos os recantos dos Estados do Nordeste, e não tivesse exterminado a vida de um homem honrado, amante da tranquilidade, da paz, amigo dos amigos, bom pai, e considerado um grande homem no meio de toda vizinhança.

O outro motivo era denegrir a imagem de Zé Saturnino que segundo ele, tinha sido o causador das declinações da família Ferreira, privando o direito deles serem felizes onde moravam, obrigando-os a fugirem do amado berço Pernambuco, e os empurrando para as desconhecidas terras alagoanas. 

Lá em Pernambuco, ele e os seus familiares deixaram para trás, tudo que haviam adquirido com muito esforço: propriedade, agricultura, criações, e principalmente, sonhos, sonhos e muitos sonhos que pretendiam realizar.   
                 
Já residindo em Alagoas, passaram por dois grandes desgostos invencíveis. O primeiro, foi quando eles viram a mãe dona Maria Sulena da Purificação cair em depressão. Ela ainda se sentindo magoada e desgostosa com os desrespeitos do Zé Saturnino, por ter afetado o caráter do esposo José Ferreira da Silva, seu coração não aguentando as maldades, faleceu no dia 30 de abril de 1921, na Fazenda Engenho Velho, de propriedade de um senhor chamado Luiz Fragoso. (Lampião a Raposa das Caatingas - José Bezerra Lima Irmão).  

O segundo e mais doloroso, foi quando eles viram o pai envolvido em um horroroso lençol de sangue, todo crivado de balas, pelas armas do tenente Zé Lucena, assassinado do dia 18 de maio de 1921. (Lampião a Raposa das Caatingas - José Bezerra Lima Irmão).    

Os desrespeitos que surgiram contra a sua família alcançaram o topo do pico, deixando ele e seus irmãos sem rumo e sem decisões próprias, para enfrentarem as maldades dos poderosos perseguidores.

Dizia o rei no silêncio do seu “EU”, que não tinha dúvida, que o principal culpado das suas desventuras era o Zé Saturnino, por não ter assumido a sua desonestidade, quando o assecla viu peles dos seus animais na casa de um dos moradores da Fazenda Pedreiras. Se o fazendeiro tivesse assumido o feito, não teria sido necessário ele e seus irmãos viverem embrenhados às matas, escondendo-se de policiais que os perseguiam.

O rei ainda se lastimava que todos os seus antes amigos viviam passeando pelas redondezas do lugar, livres de perseguições, e diariamente, aconchegados às mocinhas do povoado, frequentando festas e bailes. E enquanto os outros gozavam da liberdade, eles eram privados de participarem dos divertimentos que o povoado oferecia, devido às perseguições das volantes. Infelizmente teriam que passar a vida inteira se amparando às árvores, castigados pelas chuvas, sol, poeiras, dormindo no chão, misturados com caranguejas, lacraias, cobras e mais outros insetos venenosos, no meio de combates cerrados, tentando se livrarem dos estilhaços de balas. E na maioria das vezes, fome, fome, e muita fome, vivendo um horroroso sofrimento.

Lampião assumia o seu feito, dizendo que antes da morte do seu patriarca, já havia praticado crimes. E em um desses, findou a vida de um sujeito que lhe roubara uma das suas cabras. Mas que todos que o julgavam como um bandido cruel, entendessem o porquê da sua prática criminosa. Fizera, simplesmente para defender o que lhe pertencia, e em prol de sua própria honra. Se ele não defendesse o que era seu, com o passar dos tempos, todos iriam querer pisá-lo como se ele nada valesse na vida.

Lampião enquanto descansava sobre o chão, ainda imaginava   que, se o Zé Saturnino não tivesse manipulado o tenente Zé Lucena para assassinar o seu generoso pai, quem sabe, talvez ele não tivesse se tornado um bandoleiro, e sim, um fazendeiro, um engenheiro, um rábula qualquer, ou outra coisa parecida. Ou ainda teria se casado e construído uma linda e maravilhosa família. 

E agora, depois das grandes decepções que passaram, principalmente com a morte do pai, como os irmãos Ferreira se vingariam das maldades que fizeram contra eles?

Lampião e seus manos decepcionados e de cabisbaixa diante da vizinhança, e privados de tudo e de todos, já que não havia como assassinarem os causadores das suas declinações, decidiram que, o mais propício para amenizarem as suas dores, seria, fazerem invasões constantes no Estado de Alagoas, não importando com o tipo de atrocidade, vingando-se a seu modo. Já que tinham perdido o respeito, diante da vizinhança, uma desordem a mais não influenciava nada.
  
E a partir de 11 de janeiro de 1927, organizaram-se e partiram para bagunçarem o Estado de Alagoas, onde destruíam tudo que viam pela frente, não dando tranquilidade aos moradores sertanejos, e geralmente, rios de sangue ficavam escorrendo por onde os vingadores passavam. 

José Mendes Pereira 
Fonte de Pesquisa: Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico - Alcino Alves Costa 

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2011/03/o-vingativo-lampiao-porjose-mendes.html
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