Por José Mendes Pereira
No ano de 1961 o governo
brasileiro fundou o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), e implantou a
Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade, os atuais IPEM, e instituiu
o Sistema Internacional de Unidades (S.I.)
em todo o território nacional. Mas também era necessário acompanhar o desenvolvimento
no mundo na tecnológica, e, principalmente, no atendimento às exigências do
consumidor.
E em 1973, surgiu o Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, o Inmetro, que no
âmbito de sua ampla missão institucional, objetiva fortalecer as empresas
nacionais, aumentando a sua produtividade por meio da adoção de mecanismos
destinados à melhoria da qualidade de produtos e serviços.
Seu Galdino
andava meio sem rendas, porque a sua propriedade estava de mal a pior. A
ausência das chuvas fez com que o seu rebanho necessitasse de rações e, ou ele
procurava um quebra galho para ganhar um dinheirinho e comprar alimentos, e
tentar salvar, pelo menos uma boa parte do seu gado, ou iria vendendo um para
com o dinheiro comprar rações e dar de comer os outros. Aquela velha história de fazendeiro,
uns comendo os outros, e isso ele não iria fazer.
E sabendo que
o novo órgão criado pelo governo federal
estava chamando pessoas para trabalharem como fiscal, foi até lá, e não
foi nada difícil para ocupar uma função, agora seu Galdino fazia parte do quadro de funcionalismo da
união.
Nesse dia, seu
Galdino recebeu do novo órgão “Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM)”, aulas
preparativas para o trabalho, pastas, lápis, canetas, talões para extrair notas
de multas, farda com as quatro letras estampadas ao bolso da camisa, e tudo que um justiceiro federal (fiscal) possa levar
consigo para o seu trabalho.
Apesar de não
ter experiência no ramo de multar infratores que sonegam impostos ao governo e
alteram o bom e justo funcionamento das suas balanças, com intenções de
ludibriar os seus clientes, com muita certeza, seu Galdino jamais iria comer
bola, como diz o velho ditado, quando o funcionário de governos se vende em
troca de algo, e geralmente, é dinheiro vivo, cédula corrente no país.
Infeliz
daquele comerciante que foi o primeiro a ser visitado pelo seu Galdino, porque
ele jamais aceitaria propina para mudar o rumo das suas fiscalizações ou
investigações, e que estava ali para ser um bom cobrador de impostos e aferidor
de balanças, e não um sujeito qualquer comedor de bola. De forma alguma, aquele
seu trabalho era para ser feito com seriedade, com honestidade, e jamais
abriria o seu bolso para o fiscalizado colocar dinheiro desonesto.
Chegou a um
comércio de gente grande, e mesmo não sendo um bom bebedor de conhaque Alcatrão
de São João da Barra, pediu uma dose. A finalidade da dose era ficar ali, cubando
o movimento dos fregueses e do comerciante, quem sabe, uma reclamação de algum
cliente sobre o volume de um cereal, possivelmente com peso menores do que o
normal.
Ali, seu
Galdino ficou sentado vendo o vai e vem dos compradores, e o dono do comércio
corria para ali, para acolá, mais alegre do que pinto em beira de cerca, e
devido o seu bom humor, não lhe faltavam fregueses. E durante o tempo em que ali esteve, ninguém chamou a
atenção do dono do comércio.
Com o passar
do tempo, foi ficando restrita aquela visita de fregueses. E o comerciante
resolveu sentar-se ao lado do homem que lhe pediu uma dose de conhaque
para dar um dedinho de conversa. E para falar a verdade, ele não tinha a mínima
ideia o que significava aquelas quatro letras (INPM) impressas no bolso da camisa daquele visitante. Ele nem sonhava o que aquele homem procurava por ali. E querendo saber
da sua vida, como é costume de muitos, perguntou-lhe:
- O senhor é mossoroense?
- Sou, sim senhor!
- O que faz
por aqui?
- Eu trabalho
para o INPM.
- E o que é
INPM?
- É um órgão
que surgiu recentemente em todo o Brasil...
O comerciante mudou de assunto. Aquilo não lhe interessava nem um pouco. Quatro letras que para ele não representavam nada mais do que besteira.
Olhando para o comerciante, seu Galdino disse-lhe:
Olhando para o comerciante, seu Galdino disse-lhe:
- Parece que o
senhor vende muito bem aqui, é? – Dizia seu Galdino se fazendo de homem simples.
- Vendo sim
senhor! Mas se eu não usar as minhas artimanhas não consigo lucros bons. Tenho
que sempre estar usando a desonestidade, isto é, a cachaça eu ponho água para
aumentar o lucro, e não me importa se vai ou não dar cirrose em quem a bebe. O feijão eu cato pedrinhas miúdas lá na minha fazenda, e as
misturo para aumentar o peso por quilo. A balança, todo dia ela me deixa um bom
lucro, porque, embaixo do prato que eu ponho a carne, feijão, farinha, arroz
etc, tem um peso de 200 gramas amarrado por baixo, e ao pesar a carne, o feijão...,
só vão 800 gramas. E assim eu tenho um bom lucro.
- O senhor é
muito inteligente, muito. Mas o senhor tem ideia o que quer dizer INPM, estas
quatro letras que estão no bolso da minha camisa?
- Não senhor!
Eu não faço a mínima ideia.
- Quer dizer
Instituto Nacional de Pesos e Medidas. Eu sou fiscal de consumo, de balanças... O senhor acabou entregando-se ao fiscal
de balanças que sou. O que irá acontecer, é que vai ter que pagar uma
multa enorme pelos seus desrespeitos com os seus fregueses. Isso é roubo,
senhor comerciante!
- Mas o que é
que é isso, senhor? – Perguntou o comerciante espantado.
- Não há como
se salvar desta. – Dizia seu Galdino.
O comerciante
ficou ali, parado, imaginando como sairia desta, e olhando para seu Galdino,
disse-lhe:
- Mas o senhor
sabe quem sou eu?
- O que eu estou vendo é que o senhor é um comerciante desonesto.
- Eu sou o
homem mais mentiroso do mundo. Nada disso eu faço, é que eu converso muito, por
isso errei em lhe dizer que faço.
- Tenha
vergonha disso, seu malandro! Tomando dos outros, e talvez pensa que está certo,
fazendo uma malandragem dessa!
O seu Galdino
fez uma multa enorme e deu prazo para o comerciante pagar, do contrário seria
preso.
Já o
comerciante ficou sem saber o que fazer. E em seguida, olhando para um lado e para
o outro, abriu a boca dizendo:
- O Deus dá a
farinha e o diabo vem carrega o saco,
mas agora foi ao contrário. Deus me deu o saco para eu ensacar a farinha, e o
diabo veio e levou a farinha. Agora vou devolver o que roubei dos meus
inocentes fregueses com multas e mais multas. Louco é o homem que usa desonestidade, pensando que nunca pagará. Engana-se por completo! Um dia a casa cai. O que tomei dos outros agora tenho que devolver.
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