segunda-feira, 20 de julho de 2020

A PATENTE "CAPITÃO" DADA A LAMPIÃO NÃO FOI RESPEITADA PELOS MILITARES DE PERNAMBUCO.

Por José Mendes Pereira

Chegando Lampião e seus cabras em Juazeiro do Norte, no Estado do Ceará, no dia 04 de março de 1926, hospedaram-se no sobrado do poeta popular João Mendes Oliveira, localizado à Rua Boa Vista. Acredita-se que Lampião tenha sido um hóspede como qualquer figura importante, já que para ali, foi chamado para receber a patente de capitão do exército brasileiro. 


É certo que nem todos os cangaceiros se hospedaram nele, porque o futuro capitão precisava de ser protegido pelos seus comandados, vez que ele não iria aceitar ser vigiado por pessoas do lugar, e não tinha certeza que aquela convocação para receber a patente de capitão era de verdade. O futuro capitão tinha razão. Homem perseguido tem que ter guarda-costas, do contrário será morto.


Também não há dúvida que Virgolino Ferreira da Silva o Lampião temia que poderia ser uma espécie de covardia, e as autoridades vencê-lo juntamente com os seus homens, assim como posteriormente tentou envenená-lo o coronel de Aurora Isaías Arruda de Figueiredo, no ano de 1927, quando ele mesmo ofereceu um almoço para o bandoleiro e para toda a sua cabroeira. Mas o capitão Lampião não era nada de besta, e findou descobrindo a covardia feita pelo o coronel Isaías Arruda.

Sobrado que Lampião se hospedou no Juazeiro do Norte em março de 1926

Lampião entrou pela rua principal de Barbalha em direção a Juazeiro do Norte há 12,5 km que separavam as duas cidades; convocado para participar do “Batalhão Patriótico”, milícia criada pelo deputado federal Floro Bartolomeu para combater a Coluna Prestes, combate que nunca houve entre os cangaceiros e os revoltosos.

Floro Bartolomeu e Padre Cícero

Ao lado do Padre Cícero está o baiano Floro Bartolomeu, nascido em Salvador e formado pela Faculdade de Medicina da Bahia. Em 1908 Floro foi atraído pela mina de cobre de Coaxá, no município de Aurora, e posteriormente fez morada em Juazeiro do Norte, onde adquiriu uma farmácia e atendia a população como médico. Fez amizade com o  padre Cícero Romão Batista e passou a incentivá-lo a ingressar na política, porque o Vaticano havia suspendido  as ordens religiosas do padre. Nesse período Floro Batolomeu não conseguiu falar com Lampião no Juazeiro, porque ele estava internado no Rio de Janeiro, e veio a óbito no dia 8 de março deste mesmo ano, em consequência de uma doença chamada angina. Floro Bartolomeu faleceu solteiro, e mesmo sendo uma grande figura no meio político estava bastante paupérrimo. 

Rua principal de Barbalha, pode onde Lampião e seu bando passaram em 1926, em direção a Juazeiro do Norte, onde ele receberia a patente de capitão.

Alguns historiadores não acreditam que o Padre Cícero sabia deste engodo organizado pelo deputado Floro Bartolomeu, para que fosse entregue a Lampião e seus cabras,                          armas, projéteis e fardamentos. Lampião foi a Juazeiro levando em sua companhia aproximadamente 50 homens confiante na promessa de receber a patente e ser anistiado seus crimes, em uma condição: combater à coluna dos tenentes. Mas a sua patente era sem valor.

O convite para ser entregue a Lampião chegou em Juazeiro do Norte, vindo de Campos Sales, em mãos do José Ferreira de Menezes. Lampião era muito sagaz e se, além da assinatura de Floro Bartolomeu o bilhete não tivesse a assinatura do Padre Cícero, ele jamais atenderia ao convite.


Como foi que Lampião tomou conhecimento deste bilhete: 

Um dos empregados de João Ferreira dos Santos (irmão de Lampião) que trabalhava em seus afazeres por nome Zé Dandão que na foto aparece sendo o número 9, e que este é do conhecimento de todos que estudam o cangaço, era como se fosse da família dos Ferreiras; assim que foi recebido o convite foi até à Fazenda Piçarra do seu Antonio Teixeira Leite em Macapá, hoje Jati, onde morava Sebastião Paulo este aparece na foto sendo o número 3 que era primo legítimo de Lampião, e juntos, com o convite em mãos, seguiram viagem para o Pernambuco, ver se localizavam o futuro capitão, e no dia 2 de março de 1926, Lampião entrou no Ceará. 

Há quem diga (não tenho a fonte para comprovar no momento, mas tenho certeza que o leitor não irá pensar que eu estou criando informação sem credibilidade); que alguém presenciou, que quando soube que Lampião estava para chegar a Juazeiro do Norte, o padre Cícero Romão Batista teria dito em tom de repúdio: 


"- Agora vem este homem novamente para cá!". 

Com estas palavras ditas pelo o padre protestando a visita do cangaceiro e seus aliados, eu entendo que ele segurava aquela amizade com o Floro Bartolomeu, mesmo o congressista querendo dar cobertura a Lampião, porque ele era deputado federal, e sem a sua pessoa, seria difícil o padre adquirir verbas para continuar trabalhando em prol da sua cidade Juazeiro do Norte e do seu povo. 

Billy Jaynes Chandler é um dos mais importantes escritores acerca do cangaço e coronelismo, fenômenos ligados entre si e característicos de uma certa época da história recente do Brasil. Suas obras Lampião, o Rei dos Cangaceiros, e Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns, são canônicas, seminais, inigualáveis.

Mas o historiador Billy Jaynes Chandler diz que o convite para Lampião ir até a Juazeiro, teria sido feito pelo próprio sacerdote. Mas outros afirmam que não. O Padre Cícero somente ficou sabendo do acordo alguns dias antes da chegada do bando a Juazeiro. 

De Barbalha a Juazeiro do Norte são 12,5 km. aproximadamente 19 minutos

Tem gente que não pensa nas consequências que poderão surgir após querer fazer os outros de bestas, malucos..., e se o perigo aparecer contra si, diz que é porque o sujeito é valente, perverso e desumano. Nada disso! Depois que o bicho está criado, é muito difícil vencê-lo ou matá-lo.

Quando o capitão Lampião chegou em Pernambuco e tomou conhecimento do que fizeram com ele sobre a patente sem nenhuma filiação com o exército brasileiro, e tivesse se revoltado, em seguida, voltado ao Ceará para cobrar daqueles que em Juazeiro do Norte (a cidade não tinha nada a ver com isso), no meio da covardia das pessoas importantes de lá, mesmo sabendo que a patente de capitão do exército dada a Lampião não tinha nenhum valor, a surra e o seu punhal teriam trabalhados bastantes, obrigando "falsos nêgos" dançarem na peia mesmo sem saberem dançar.

Quem sabe, os pensamentos do compadre Lampião talvez confiante que, ao chegar à sua terra natal Pernambuco com a patente de capitão, que nem todos têm esse privilégio, receberia uma espécie de perdão pelos seus crimes e desordens, poderia até ser homenageado diante das autoridades militares como capitão. Mas  foi o contrário. O comandante da polícia civil daquele Estado não o reconheceu como capitão, e o que fez contra Lampião que já estava patenteado, foi severamente atacá-lo sem compaixão pelas forças volantes do governo de Pernambuco.

Eu que estudo cangaço e principalmente a era "lampiônica" não acredito que Lampião seria tão fácil para se mudar os seus ideais, porque ele mesmo patenteado, jamais abriria mão da sua vida cangaceira que há alguns anos vivia dela, mas quem sabe, se tivessem tentado reformar o capitão Lampião e o tratado como um cidadão, e ainda o respeitado a partir dali como capitão,  e como um novo homem da sociedade, seria possível que nascesse um ser humano honesto e até mesmo mais compreensivo. E quantas vidas teriam sido salvas, já que a raposa do sertão tinha deixado a vida de crimes? Mas o que fizeram? Prepararam uma patente sem filiação a nada. Novamente traíram o jovem rapaz que tinha apenas 28 anos de idade na época.

Para que o leitor entenda que esta foi uma grande invenção e humilhante contra Lampião, é que para ser capitão do exército brasileiro o sujeito primeiro tem que passar por estas "11" graduações: 

1 - soldado de 2ª. classe.
2 - soldado de 1ª. classe. 
3 - Cabo.
4 - 3º. sargento,
5 -  2º. Sargento. 
6 - 1º. Sargento.
7 - Suboficial.
8 -  Cadete.
9 -  Aspirante a oficial.
10 - 2°. Tenente 
11 - 1°. Tenente. 
12 - Capitão.

Todas estas 11 primeiras graduações no exército brasileiro são para poder o militar chegar a ser Capitão do Exército. Lampião foi direto para capitão.

Eu não entendo porque Lampião não percebeu que a esmola era grande para ele. Nunca foi nem soldado, e pulou 11 patentes, passou logo para capitão do exército! Incrível!


O que escrevi não tem nenhum valor para a literatura lampiônica. 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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