terça-feira, 14 de janeiro de 2020

MINHA SEPARAÇÃO ME DEIXOU TÃO TRISTE!

Por José Mendes Pereira

Meus manos e amigos dos anos vividos entre a Casa de Menores Mário Negócio e a Editora Comercial S.A. Jorge Braz, Manoel Flor, Pedro do Nascimento, Railton Melo, Antonio Galdino da Costa e Eraldo Xaxa:

Certa vez um amigo meu me segredou que a coisa pior que já passou em toda sua vida foi quando se separou do seu conjuge. Vários dias e noites ele caminhou sem rumo, na espera de aceitar o porquê daquele sofrimento tão presente e incomodador, e, não sabia se estava vivendo ou vegetando naquele momento. O seu amor tinha decidido diante de uma missa de corpos presentes que não mais faria parte daquele relacionamento tão sofrido, assim achava ela, retornaria com urgência à casa dos seus pais de malas e chapéu de palha atufado em sua cabeça.

A cada dia que se passava a dor e a saudade do cônjuge mais doía em sua mente. Quando via o seu quarto sem a presença dela era como se o mundo todo estivesse contra ele. Sentia uma solidão tão profunda que só Deus e ele sabiam. As noites eram tão longas que algumas vezes imaginou que duravam uma porção de dias para findar. Não comia e nem bebia direito, só ingerindo álcool e fumando como se os dois vícios fizessem ele esquecer aqulela mulher. Mas que na verdade, com a continuação do tempo, percebeu que um homem só esquece uma mulher quando se põe outra em sua vida.

Assim também se passou comigo no dia em que eu me separei da minha companheira de todas as horas, foi um fim de mundo. Quebrado o nosso acordo que tínhamos começado o romance quando em uma tarde nós nos encontramos na Avenida Presidente Dutra em uma loja à beira do rio, e foi amor a primeira vista. Ela estava tão elegante porque tinha tomado um banho de loja, e que não resisti de tentar um amor sincero, e ali fiquei, não demorou muito para que ela caisse em meus braços.

Não observei se ela fez pranto quando embora foi, e se fora satisfeita para ser comandada por um outro que fizesse merecer o que ela por mim fazia, e quem sabe, talvez, um outro indivíduo mais desalmado do que eu. Mas o único culpado fui eu, por não aceitar a sua presença na minha vida, na minha companhia, e a entreguei ao seu novo dono de expontânia vontade, na bandeja, de mãos para mãos, sem saber o compromisso de zelar por quem por alguns anos me fez feliz, sorrir e rir ao mesmo tempo. Entreguei também todas as suas roupas que ali eram guardadas com cuidado, e que nada fosse se destruíndo com o passar dos tempos. Seus calçados de borrachas sempre estavam em seus pés, alguns usados que não mais aproveitavam, também ficaram bem acomodados num quarto de despejo.

Ela não falava porque era surda e o surdo só não fala porque não ouve o que se ensina, mas entendia tudo o que eu dizia. Não comia, só bebia para não causar tantas despesas, e eu batia palmas quando fazia economia, porque ela sabia dos meus pensamentos e das minhas dificuldades. E quando nós saíamos à rua ela mesma me guiava. Tinha uma visão extraordinária, e tanto fazia de dia ou de noite, ao longe avistava o perigo que na frente estava. Era fogosa até demais, mas também pudera, ainda não havia feito a sua festa "debutante", e eu já com a idade um pouco avançada não tinha condições de aproveitar o seu esterismo na hora do vamos lá.

Nunca conheci seus pais e nem mais ninguém da sua família, mas me parece que eram descendentes da Itália. Desisti dela porque eu precisava tentar ir mais além, mas com muita tristeza, por não puder cuidar dela. E assim que ela foi embora o meu coração bateu forte como se quizesse parar ali mesmo. Arrependi-me, mas o que fazer? Era uma decisão minha e não dela, até que um dia, não sei, eu poderia encontrá-la novamente e negociar com o novo companheiro o seu retorno para o meu comando e para os meus braços

Quando nós nos casamos eu a batizei de "Mariola" e até os meus amigos não a chamava pelo seu verdadeiro nome, e sim, "Mariola". Já era um nome registrado no meio de todos os meus conhecidos e amigos.

Ao me verem, assim me perguntavam:

- Como está a sua querida "Marilola"?

E eu com orgulho respondia-lhes:

- Muito bem!

Um dia vi na sua Certidão de Nascimento expedida pela Itália com letras bem legíveis o seu verdadeiro nome. “LAMBRETA”.

Fiquei sem a minha companheira porque eu precisava ampliar uma oficina de esquadrias metálicas, e assim, fui obrigado vendê-la.. Nunca mais a vi. Por onde anda a minha inesquiecível lambreta? Será que foi parar no ferro velho?

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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