Sem dinheiro o
ser humano passa fome e se for meio preguiça nem todo mundo gosta de ajudar
aquele que não se esforça para fazer alguma coisa. E se não é para matar, (como
pistoleiro) ou para roubar, o homem deve enfrentar todo tipo de serviço.
Quando jovem e
sem emprego seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) Filho tentou várias
atividades, e uma delas foi atravessar gente em seu próprio ombro, cortando as
águas de um pequeno córrego que faz parte do rio Mossoró, porque os transeuntes
evitavam ir pela ponte que ficava mais distante, e não queriam tirar os sapatos
e a roupa para enfrentarem as águas do córrego.
Como estava
desemprego para se manter por último seu Galdino aprendeu um pouco da arte que
engana as pessoas, se fazendo de professor de ciências ocultas.
Chegara em
Mossoró Tabajara um professor de ciências ocultas já consagrado no seu ramo de
ludibriar as pessoas, e fora residir bem pertinho da casa do pai do seu
Galdino, porque neste período ele ainda era solteiro e vivia sobre as regras do
velho. E sempre que ele queria aprender algo sobre as ciências ocultas
convidava o professor Tabajara para tomar uns pileques de cachaça em sua casa.
O professor era viciadíssimo no gole de álcool, e muitas vezes, chegara a
ultrapassar, tomando de 15 a 20 goles, e quando saía de lá, era preciso seu
Galdino ir deixá-lo em sua casa, porque sozinho não acertaria a sua residência.
Vivo, seu Galdino o alcoolizava em sua casa justamente para tentar arrancar
dele a maneira que fazia para enganar as pessoas, como se fosse de verdade um
conhecedor de ciências ocultas.
De início, e
sempre que isso acontecia, no momento da bebedeira, o professor Tabajara se
privava muito, tentando conversar pouco sobre a sua profissão, mas quando ele
já estava quase embriagado, desembuchava tudo que sabia. E assim, seu Galdino
foi aprendendo todas as safadezas que faz um malandro professor de ciências
ocultas. Os dias foram se passando e meses depois, seu Galdino Borba(gato) já
estava prontinho para enganar as pessoas que se alienam com facilidade.
A primeira
providência foi adquirir um compassa, que no mundo da malandragem é conhecido
como tapia, que é contratado para ajudar em jogos de azar, nas festas de
padroeiras ou em feiras livres, e que fica simulando apostas para impressionar
os que assistem o espectáculo em praça pública, e que geralmente, é o tapia que
é ganhador do espetáculo.
Tudo pronto.
Nesse dia, bem cedinho, de posse do material de trabalho seu Galdino e o seu
compassa abalaram-se para a pedra do mercado de Mossoró, e ali, se prepararam
para receberem os admiradores. Seu Galdino estava enfiado numa casaca longa, um
chapéu em forma de rudia, um lenço amarrado ao pescoço para vendar os olhos no
momento dos trabalhos. Uma mesa pequenina e desmontável, uma cadeira com formato
de trono com um longo encosto, aparentando ser mesmo de cartomante, um
microfone, mais uma caixa de som amplificada, e uma bateria de 12 voltes para
alimentar o aparelho.
Para chamar a
atenção dos transeuntes seu Galdino iniciou os seus trabalhos ali com um jornal
nas mãos, rasgou-o e com o som ligado, dizia que iria transformar aquele jornal
em uma bananeira. E com poucos minutos, os idiotas rodearam os dois malandros
no ambiente de trabalho. E assim que o local encheu de curiosos seu Galdino
entregou o microfone ao compassa e foi se sentar no seu trono.
O compassa era
quem convocava as pessoas para fazerem consultas com o dito professor. E
querendo ludibriar os que estavam presentes o compassa deu início a
malandragem, dizendo que o professor de ciências ocultas tinha feito faculdade
na USP de São Paulo, e era um dos melhores do Brasil. Se antes tinha uma porção
de gente, mais ainda apareceram depois da revelação que seu Galdino era o
melhor cartomante do Brasil e estudado na melhor faculdade do país. E a partir
dali, todas as pessoas presentes estavam querendo ser consultadas para saberem
sobre os seus futuros. O pagamento era na hora e sem rodeios de forma alguma. A
quantia paga era colocada em uma bacia meio grande.
O que seu
Galdino aprendeu com o professor de ciências ocultas Tabajara foi que as
adivinhações são feitas através de código. Mas não foi só ele que aprendeu
assim, todos eles mentem só através de códigos. Enquanto o professor fica de
costas para os presentes e com os olhos vendados o tapia se aproxima da pessoa
que interessa saber o seu futuro, e é naquele momento que iniciava a
malandragem. O compassa estava sempre um pouco distante do seu Galdino, e
perguntava bem baixinho no ouvido do consultado. Por exemplo:
- Quantos
filhos o senhor tem?
- Tenho cinco.
- Respondia o consultado.
E o tapia se
voltava para seu Galdino e lhe dizia:
- Professor
Galdino, concentre-se bem para me responder o que aqui lhe pergunto.
- Calma,
parceiro! - Fazia seu Galdino. Tenho que não forçar muito a mente, do contrário
me dá dor-de-cabeça...
- Combinado,
professor. E dava um tempo enquanto seu Galdino se concentrava.
E logo mais:
- Está
concentrado, professor?
- Estou.
- Então eu te
pergunto. Quantos filhos tem este senhor?
Seu Galdino se
fazia que estava recebendo forças sobrenaturais para responder a pergunta. E
com pequeno espaço de tempo dizia:
- Ele tem
cinco filhos.
Ele respondeu
com segurança porque eles criaram um tipo de código, e uma palavra que o
compassa dizia para seu Galdino lá já se ia a resposta que o homem tinha cinco
filhos, e ele respondia com segurança. Afinal, treinaram muito para que nada
desse errado. E assim sucessivamente.
Nesse dia os
dois adquiriram muito dinheiro. Mas nos últimos minutos de trabalho em praça
pública, os dois não foram felizes, porque, vendo a bacia cheia de dinheiro
colocado pelos que desejavam saber dos seus futuros - um corajoso ladrão que
estava presente, ao ver a enorme quantia de dinheiro, puxou uma arma e
apoderando-se do dinheiro com bacia e tudo, fez carreira rasgando toda multidão
que ali estava.
O compassa
gritava para seu Galdino que eles deveriam tomar o dinheiro do ladrão, mas ele
não aceitou a proposta, dizendo:
- Não devemos
enfrentar ninguém que esteja com arma na mão. Deixa para lá. Sei que Deus nos
deu a farinha e de imediato o diabo veio e carregou o saco.
- Então vamos
juntar os troços e se mandarmos daqui...
E seu Galdino:
- Barco
perdido companheiro, só vale a penas se for bem carregado. Por isso, deixa aí
tudo que trouxemos. Eu não quero mais de forma alguma. Onde o diabo pôe a mão,
tudo fica envenenado! O que é dos outros é dos outros. O ladrão levou o que não
era nosso.
E lá se foram
embora abandonando tudo que levaram para a praça do mercado. Nenhum tostão nos
bolsos.
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