terça-feira, 17 de setembro de 2019

SEM EMPREGO SEU GALDINO TENTA GANHAR DINHEIRO COMO PROFESSOR DE CIÊNCIAS OCULTAS

Por José Mendes Pereira

Sem dinheiro o ser humano passa fome e se for meio preguiça nem todo mundo gosta de ajudar aquele que não se esforça para fazer alguma coisa. E se não é para matar, (como pistoleiro) ou para roubar, o homem deve enfrentar todo tipo de serviço.

Quando jovem e sem emprego seu Galdino Borba(gato) de Mend(onça) Filho tentou várias atividades, e uma delas foi atravessar gente em seu próprio ombro, cortando as águas de um pequeno córrego que faz parte do rio Mossoró, porque os transeuntes evitavam ir pela ponte que ficava mais distante, e não queriam tirar os sapatos e a roupa para enfrentarem as águas do córrego.

Como estava desemprego para se manter por último seu Galdino aprendeu um pouco da arte que engana as pessoas, se fazendo de professor de ciências ocultas.

Chegara em Mossoró Tabajara um professor de ciências ocultas já consagrado no seu ramo de ludibriar as pessoas, e fora residir bem pertinho da casa do pai do seu Galdino, porque neste período ele ainda era solteiro e vivia sobre as regras do velho. E sempre que ele queria aprender algo sobre as ciências ocultas convidava o professor Tabajara para tomar uns pileques de cachaça em sua casa. O professor era viciadíssimo no gole de álcool, e muitas vezes, chegara a ultrapassar, tomando de 15 a 20 goles, e quando saía de lá, era preciso seu Galdino ir deixá-lo em sua casa, porque sozinho não acertaria a sua residência. Vivo, seu Galdino o alcoolizava em sua casa justamente para tentar arrancar dele a maneira que fazia para enganar as pessoas, como se fosse de verdade um conhecedor de ciências ocultas.

De início, e sempre que isso acontecia, no momento da bebedeira, o professor Tabajara se privava muito, tentando conversar pouco sobre a sua profissão, mas quando ele já estava quase embriagado, desembuchava tudo que sabia. E assim, seu Galdino foi aprendendo todas as safadezas que faz um malandro professor de ciências ocultas. Os dias foram se passando e meses depois, seu Galdino Borba(gato) já estava prontinho para enganar as pessoas que se alienam com facilidade.

A primeira providência foi adquirir um compassa, que no mundo da malandragem é conhecido como tapia, que é contratado para ajudar em jogos de azar, nas festas de padroeiras ou em feiras livres, e que fica simulando apostas para impressionar os que assistem o espectáculo em praça pública, e que geralmente, é o tapia que é ganhador do espetáculo.

Tudo pronto. Nesse dia, bem cedinho, de posse do material de trabalho seu Galdino e o seu compassa abalaram-se para a pedra do mercado de Mossoró, e ali, se prepararam para receberem os admiradores. Seu Galdino estava enfiado numa casaca longa, um chapéu em forma de rudia, um lenço amarrado ao pescoço para vendar os olhos no momento dos trabalhos. Uma mesa pequenina e desmontável, uma cadeira com formato de trono com um longo encosto, aparentando ser mesmo de cartomante, um microfone, mais uma caixa de som amplificada, e uma bateria de 12 voltes para alimentar o aparelho.

Para chamar a atenção dos transeuntes seu Galdino iniciou os seus trabalhos ali com um jornal nas mãos, rasgou-o e com o som ligado, dizia que iria transformar aquele jornal em uma bananeira. E com poucos minutos, os idiotas rodearam os dois malandros no ambiente de trabalho. E assim que o local encheu de curiosos seu Galdino entregou o microfone ao compassa e foi se sentar no seu trono.

O compassa era quem convocava as pessoas para fazerem consultas com o dito professor. E querendo ludibriar os que estavam presentes o compassa deu início a malandragem, dizendo que o professor de ciências ocultas tinha feito faculdade na USP de São Paulo, e era um dos melhores do Brasil. Se antes tinha uma porção de gente, mais ainda apareceram depois da revelação que seu Galdino era o melhor cartomante do Brasil e estudado na melhor faculdade do país. E a partir dali, todas as pessoas presentes estavam querendo ser consultadas para saberem sobre os seus futuros. O pagamento era na hora e sem rodeios de forma alguma. A quantia paga era colocada em uma bacia meio grande.

O que seu Galdino aprendeu com o professor de ciências ocultas Tabajara foi que as adivinhações são feitas através de código. Mas não foi só ele que aprendeu assim, todos eles mentem só através de códigos. Enquanto o professor fica de costas para os presentes e com os olhos vendados o tapia se aproxima da pessoa que interessa saber o seu futuro, e é naquele momento que iniciava a malandragem. O compassa estava sempre um pouco distante do seu Galdino, e perguntava bem baixinho no ouvido do consultado. Por exemplo:

- Quantos filhos o senhor tem?

- Tenho cinco. - Respondia o consultado.

E o tapia se voltava para seu Galdino e lhe dizia:

- Professor Galdino, concentre-se bem para me responder o que aqui lhe pergunto.

- Calma, parceiro! - Fazia seu Galdino. Tenho que não forçar muito a mente, do contrário me dá dor-de-cabeça...

- Combinado, professor. E dava um tempo enquanto seu Galdino se concentrava.

E logo mais:

- Está concentrado, professor?

- Estou.

- Então eu te pergunto. Quantos filhos tem este senhor?

Seu Galdino se fazia que estava recebendo forças sobrenaturais para responder a pergunta. E com pequeno espaço de tempo dizia:

- Ele tem cinco filhos.

Ele respondeu com segurança porque eles criaram um tipo de código, e uma palavra que o compassa dizia para seu Galdino lá já se ia a resposta que o homem tinha cinco filhos, e ele respondia com segurança. Afinal, treinaram muito para que nada desse errado. E assim sucessivamente.

Nesse dia os dois adquiriram muito dinheiro. Mas nos últimos minutos de trabalho em praça pública, os dois não foram felizes, porque, vendo a bacia cheia de dinheiro colocado pelos que desejavam saber dos seus futuros - um corajoso ladrão que estava presente, ao ver a enorme quantia de dinheiro, puxou uma arma e apoderando-se do dinheiro com bacia e tudo, fez carreira rasgando toda multidão que ali estava.

O compassa gritava para seu Galdino que eles deveriam tomar o dinheiro do ladrão, mas ele não aceitou a proposta, dizendo:

- Não devemos enfrentar ninguém que esteja com arma na mão. Deixa para lá. Sei que Deus nos deu a farinha e de imediato o diabo veio e carregou o saco.

- Então vamos juntar os troços e se mandarmos daqui...

E seu Galdino:

- Barco perdido companheiro, só vale a penas se for bem carregado. Por isso, deixa aí tudo que trouxemos. Eu não quero mais de forma alguma. Onde o diabo pôe a mão, tudo fica envenenado! O que é dos outros é dos outros. O ladrão levou o que não era nosso.

E lá se foram embora abandonando tudo que levaram para a praça do mercado. Nenhum tostão nos bolsos.

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