Por José Mendes Pereira
Todos que leem as minhas simples histórias já conhecem muito bem o João Malamanha aquele que era um verdadeiro animal, grosseiro, perverso. Uma vez matara
um sujeito só com um cocorote aplicado em seu crânio, pela sua maldita e
deformada mão. Outra vez, fez um sujeito beber um litro de creolina, quase de
um gole só. O homem baixou hospital, mas por sorte, não morreu, porque vomitou
o ofensivo líquido de uma só vez. E outra vez, capou um sujeito por ter cantado uma de suas sobrinhas, segundo a moça dissera a ele. Quando esse chegou à casa da moça, ao estirar a mão para cumprimentá-la, disse-lhe:
"-Pegue na minha". A moça sentindo-se desrespeitada contou para João
Malamanha, que de imediato cuidou de encontrar o miserável, levando-o até ao
matagal, e lá, fez o horroroso serviço. Mas isso foi falta de uma boa interpretação. O sujeito não dissera nada que a ofendesse. Mas cada pessoa analisa as coisas como ela pensa.
Mas o João Malamanha foi assassinado pelo seu empregado anão Leandro, porque o obrigou a colocar um motor sobre a bancada sozinho. Como o Leandro disse que não obedecia a ordem o João Malamanha quis matá-lo asfixiado. Mas quando tentava enforcá-lo Leandro retirou da sua cintura uma
amolada e pontiaguda faca, enfiando-a no pescoço do homenzarrão. O João Malamanha só deu tempo para dar um assustador grito, e o sangue jorrou
sobre peças e carros que estavam dentro da oficina, caindo sobre uns
pneus encostados a uma parede.
Apesar de ser um homem do mundo, mas sempre o João Malamanha gostava de fazer uma reserva que poderia ser até através de objetos, como carro, carroças, carro de bois etc.
O Eurides um dos seus fregueses de oficina porque o João Malamanha era o mecânico do seu velho e surrado automóvel. Mesmo sabendo o que o João Malamanha poderia mudar de comportamento a qualquer hora o Eurides não o temia, porque nunca fizera nada e nem provocara o animal humano racional. Sendo assim, por que ter medo de um homem que jamais o desafiou? E assim, continuava sendo um meio amigo do João Malamanha. Mas todos admiravam aquela amizade meio sem graça.
- Um dia ele irar se arrepender daquela amizade sem fundamento. - Assim diziam alguns do bairro.
O Eurides estava necessitando de um carro de bois para fazer as suas obrigações na sua minúscula fazenda, porque um que tinha, um fogo que houve lá no meio do capinzal seco foi destruído por completo, salvando apenas a junta de bois, sorte dos bois que deu tempo para ele retirar os animais do carro.
O João Malamanha tinha dois carros-de-bois à disposição, isto é guardados e bem guardados no quintal da sua oficina, e nem o Eurides sabia; vendo a necessidade do Eurides, ofereceu um para que trabalhasse com ele até que pudesse comprar outro.
O Eurides agradeceu e no dia seguinte apanhou o carro-de-bois levando-o para sua fazenda.
Os dias foram se passando e não havia nenhuma necessidade de devolvê-lo ao dono, porque o trato fora feito que: o Eurides só o devolveria quando comprasse outro.
Aconteceu que certo dia o Eurides deslocou-se no carro-de-bois para fazer compras em Mossoró. Quando passou pelo rio que cortava a sua propriedade as águas apenas cobriam os pneus, mas devido uma grande chuva que caiu em toda região, quando ele voltou, tinha muita água no seu leito. O Eurides confiou que dava para passar com a junta de bois e o carro. Mas se enganara. Quando ele entrou nas águas foi surpreendido pela força da correnteza que saiu levando carro e a junta-de-bois, apenas ele conseguindo escapar da violência da correnteza. Os bois morreram afogados sem ele ter condições de nadar até alcançá-los e cortar os arreios.
Agora o Eurides estava condenado a passar pelas mãos vingativas do João Malamanha, porque ele não perdoava certo descuido com o que era seu.
A vizinhança do Eurides já o chamava a atenção dizendo:
- Para que ter amizade com um homem tão perverso quanto o João Malamanha, Eurides?
- Eu sei que ele é um homem que muda de comportamento de momento a momento, mas mesmo sabendo o que ele poderá fazer contra a minha pessoa, eu vou contar a ele o que aconteceu com o seu carro-de-bois. Mas se ele não me matar ou me violentar eu vou vender alguns bichos meus e comprar um para ele.
Dias depois, o Eurides se benzeu todo e se abalou para informar ao João Malamanha que as águas do rio levaram o seu carro-de-bois.
O João Malamanha já sabia que o rio havia levado o seu carro-de-bois. Mas a ninguém dissera nada. Afinal, ninguém tinha nada a ver com aquilo. Era conversa para 2 homens debaterem, e não uma porção de gente fofoqueira.
Ao chegar, o Eurides encontrou o João Malamanha deitado ao chão sob um carro que no momento tentava encontrar o defeito de mecânica. O Eurides estava nervoso, mas não podia fugir daquele assunto. Tinha que participar ao perigoso homem o que acontecera com o seu carro-de-bois. E num gaguejo dos danados, iniciou dizendo:
- Seu Jooãão Malamaaanha, vim aquiii informaaar quee o seeeu carro-de-booois foiiii prooo, prooo brejo. E faça o que o senhooor quiseer fazeee comiiigo. Mas eeu nãão tenho mais o queee fazer.
- Mas por que está tão nervoso assim, Euclides? Eu já tomei conhecimento. E não tenho que fazer nada contra a você. Eu o emprestei de espontânea vontade.
- O que acoonteceu seu Malamaaanha, foi terrível. As águas do riiio leeevaaaram ele e a miiinha juntaaa-de-booois, e o senhor faça o que quiiser comiiigo...
- Está certo. Vou fazer o que quero fazer.
O Eurides já tinha certeza que lá dentro do quintal ele iria ser assassinado pelas mão vingativas do João Malamanha. E levando até ao quintal da sua oficina, mostrou outro carro-de-bois, dizendo-lhe:
- Pega aquele outro carro e o leve para a sua fazenda. Vá trabalhar com ele. Eu sei que não foi descuido seu, porque a natureza é quem manda e não nós. O outro carro era meu, mas este daí é seu. Não precisa me devolver. Sou justiceiro para caras safados, mas um homem batalhador como o senhor eu muito agradeço a Deus por ter a chance de te ajudar.
O Eurides o agradeceu e com o carro-de-bois continuou fazendo as suas obrigadões.
https://josemendeshistoriador.blogspot.com
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