quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

SEU GALDINO E PEDRO DAS VASSOURAS

Por José Mendes Pereira

Foto só para ilustração - http://www.faculdadersa.com.br/vemverosemiarido/processo-de-producao-da-cera-de-carnauba-na-fabrica-salustiano-em-geminiano-pi/

Pela semelhança do nome já deu para saber a origem do seu apelido; no inverno plantava, mas a sua atividade mesmo era fabricar vassouras da palha de carnaúba, mas não era um grande fabricante, fazia este trabalho apenas para adquirir o sustento da numerosa família. O Pedro era um homem que vivia mais para ele do que para os vizinhos. 


http://gibsonmachadocm.blogspot.com/2009/10/vassoura-da-palha-de-carnauba.html

Pedro das Vassouras era um minúsculo agricultor. Recebera uma sobre de terras do seu ex-patrão que havia contratado um agrimensor para medir a sua propriedade. Como sobrou mais de 1 quilômetro de área que não estava em sua escritura, fez a doação ao Pedro da Vassouras. 

Pedro das Vassouras pouco falava e mais pouco ainda era segurar papos com as pessoas que às vezes o procuravam. Sua maneira de atendê-las não era grosseira, mas tinha que ser rápida. O Pedro das Vassouras não se sentava em lugar nenhum para ouvir besteiras de ninguém. Quando solicitado, vinha e atendia quem o procurava mas sem muita demora. Não tinha tempo para ouvir gente contando histórias vantajosas ou qualquer outro tipo de assunto que não lhe interessava ou indesejado naquele momento. Pedro das Vassouras era uma pessoa que vivia somente para ele. Às vezes, ainda dava a atenção às conversas da esposa, mas que fosse o mais breve possível. E assim vivia o Pedro feliz entre ele  e ele mesmo.

Mas o Pedro das Vassouras tinha estranha e desconsiderada mania terrível. Sempre que ele passava por uma pessoa tinha a mania de escarrar, e aquilo no meio da vizinhança sertaneja não estava sendo acatado por nenhum, todos repudiavam aquele gesto grosseiro do Pedro das Vassouras.

Devido o isolamento com a sua vizinhança Pedro das Vassouras era pouco conhecido naquela região, e seu Galdino o conhecia apenas de calça caqui, camisa volta ao mundo e chapéu Maracangalha. 

Mas assim  que seu Galdino tomou conhecimento que Pedro das Vassouras escarrara quando passava por perto de alguém não gostou nem pouco, e disse que se isso acontecesse com ele -  Pedro das Vassouras iria pagar caro. Não era homem de fazer mal a ninguém, mas se ele escarrava era humilhação contra qualquer um.


http://blogdetelescope.blogspot.com/2013/02/avenida-cunha-da-mota-mossoro-rn_14.html

Aconteceu que certo dia seu Galdino foi à cidade de Mossoró fazer a feira. Lá na rua da frente como ainda hoje é conhecida, por ser defronte ao rio, fez a feira no barracão de "Paulo Targino", em seguida foi até ao café da Raimundinha de Bertoldo que era uma banca sob a sombra de um "pé de figo", em seguida foi-se embora montado no seu jumento de nome "maçarico", e entrou na estrada em direção ao rio de Angicos, rumo à sua propriedade.

Ao longe seu Galdino avistou um senhor que vinha também montado em um jumentinho, e pelas aparências das roupas e do seu chapéu maracangalha percebeu que era Pedro das Vassouras que caminhava em direção à cidade. Possivelmente iria fazer a feira.

E como existia uma curva e assim que a alcançou, desceu do jumento e tirou um saco que acomodava uma parte da feira, colocou-o ao chão e arreou por cima dele, se fazendo de doente, porque a sua intenção era ver se ele escarrava ao vê-lo. O seu jumento era obediente, e enquanto isto acontecia ele nem saiu do lugar. 

E lá se vinha Pedro das Vassouras de estrada afora. Foi chegando e foi olhando quem ali estava caído. Apesar do pouco conhecimento que tinha viu que era seu Galdino. E às pressas desceu do jumento e foi tentar socorrê-lo dizendo:

- O que que houve seu Galdino, o senhor está doente? 

Seu Galdino quis dizer que sim, mas ficou na dele.

- Pelo amor de Deus! Vamos, suba no jumentinho que eu vou te levar até ao Hospital de Caridade de Mossoró. - Fez Pedro das Vassouras bastante preocupado com seu Galdino.

- Seu Galdino quis dizer que sim, mas foi sincero dizendo-lhe:

- Não senhor. Eu não estou doente.

- Mas o senhor caiu aí sobre este saco e ainda me diz que não está doente?

- Eu não caí. Eu me fiz de doente.

- Mas qual a razão de se fazer de doente, seu Galdino?

- A razão de eu ter me feito de doente é que me falaram que quando o senhor passa pelas pessoas sempre escarra, e eu queria saber se isso é verdade.

- Seu Galdino, - dizia Pedro das Vassouras com calma -  não é que eu quero ter esta mania, pois eu já tentei muito deixar isso, mas não consigo. Perdoe-me por favor, não faço isso por maldade...

- Eu já entendi. Muito lhe agradeço, seu Pedro. Mesmo eu não estando doente o senhor se preocupou comigo.

- É um dever de cada um de nós seu Galdino, ver os outros com bons olhos. Peço desculpas aos que um dia passaram por mim e eu escarrei, mas não foi por nojo, é uma mania minha que ainda não consegui acabar.

Depois de entendidos, seu Pedro foi para a sua fazenda e Pedro das Vassouras seguiu para fazer a feira em Mossoró. 

Não devemos julgar o outro pelo um simples escarro."

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