sábado, 19 de maio de 2018
terça-feira, 1 de maio de 2018
NOUTROS TEMPOS, ALÉM DE JOVEM E MATUTO, EU NÃO TINHA EXPERIÊNCIA
Por José Mendes Pereira
Noutros tempos,
muitos jovens erraram, não pelo fato de quererem errar, mas por falta de
experiências. Os jovens eram verdadeiros amigos dos pais, e os obedeciam ao pé
da letra. Se o pai dissesse tem que ser assim, assim, assado, nada fazia o
filho tomar outro rumo diferente, e quando acontecia o contrário, era caso
isolado, talvez de 100, apenas um.
Aos 16 anos de
idade errei, mas não foi coisa tão grávida assim, e que não chegou aos ouvidos
dos fofoqueiros, porque somente meu irmão e eu vimos o meu erro apontado por um
sargento da polícia, e até um pouco engraçado. Não fui castigado por quem me
repreendeu, pois entendera a minha inocência, talvez, pela minha idade “16 anos”.
Mas meu grande amigo leitor, vá lendo e não imagina que eu fiz algo
decepcionante. Não.
Chegara da
Paraíba meu irmão “Chico Mendes” com uma mão na frente e a outra atrás, que
fazia alguns anos da sua saída do domínio do meu pai, e por lá, residia. Desejou
conhecer outros lugares, e assim fez. Mandou-se de Mossoró sem destino,
fixando-se no Estado da Paraíba, e por lá, casou-se. Depois, retornou, porque por onde andou, só
trabalhou para os outros, e nada fez para si.
Desempregado e com três filhos pequenos, resolveu receber novamente proteção
do meu pai, da minha mãe, finalmente, de pais e de irmãos (exceto eu, porque eu
já vivia aos cuidados da Casa de Menores Mário Negócio.
E de imediato
saiu à procura de emprego pela cidade de Mossoró. Tomou conhecimento que a
Emserv - Empresa de Serviços e Vigilância Ltda. com uma filial em Mossoró, à
Rua Bezerra Mendes, centro, necessitava de completar o seu quadro funcional com
mais um vigilante. Confiante que poderia ser um dos seus empregados, porque ele
era musculoso, abalou-se com todos os seus documentos. Ao chegar ao portão da
empresa foi informado que para ser funcionário dela, era necessário, ter pelo
menos, o diploma de conclusão do 5º ano, isto na época. Como ele não dispunha
de tal diploma perguntou-me se seria fácil adquiri-lo através de pessoas
conhecidas. Sabendo que não seria tão fácil um diploma de 5º ano com
ninguém, me dispus a fazê-lo.
Antigamente,
as livrarias vendiam estes diplomas tipograficamente, mas só quem os usavam
legalmente eram os diretores de escolas, porque tinham toda autonomia para este
fim, isto é, preenchê-los para os seus alunos quando terminavam o 5º ano
primário.
Fui até a
“Livraria e Tipografia Nordeste”, no centro da cidade, do grande empresário
Francisco Vasconcelos (Fransquim Vasconcelos como era chamado), comprei um, e
ao chegar na instituição que eu morava, preenchie corretamente com todos os
dados do meu irmão “Chico Mendes”, criando o nome da instituição “Escola
Municipal Rodolfo Fernandes”, e assinei como diretor . No dia seguinte, ele me
apareceu para levar o seu belo diploma, muito embora nada valia. Com ele em
mãos, se mandou para a empresa, que com certeza, a vaga para um futuro
vigilante ainda estava aberta. Uma hora depois, “Chico Mendes” estava diante do
diretor da Emserv, um sargento da polícia (evito citar o seu nome), entregando
a documentação acompanhada do valioso diploma de 5º ano primário. Que beleza!
Revisando
todos os documentos do futuro vigilante o sargento viu o diploma da “Escola
Municipal Rodolfo Fernandes”, e quis saber o local da mesma. “Chico Mendes” que
estudara apenas quando criança, porque nascera na “Barrinha” (nosso berço
amado, menos de oito quilômetros da cidade de Mossoró e tinha apenas uma escola
isolada), sem noção, disse ao sargento que não se lembrava onde ela ficava,
porque já fazia muitos anos que tinha partido daqui.
Com essa
informação do meu irmão que não sabia mais o local da escola, o sargento, cheio de psicologia, viu logo que o diploma
era falsificado, e sem querer espantar a mosca, perguntou quem era o assinante
do diploma. “Chico Mendes” não escondeu nada, e não tinha como esconder,
disse-lhe que era o seu irmão, no caso, eu. Ciente da falsificação do diploma
de 5º ano, o sargento disse-lhe que não só tinha um emprego para ele, mas
também, um para mim, e exigiu, que no dia seguinte ele me levasse para ocupar
uma vaga lá em outro setor.
Ao receber
esta informação, mais ou menos 4 horas da tarde, fiquei sem saber mais quem eu
era. Passei quase a noite toda em claro. Ali, deitado em uma cama de
acampamento feita com molas e lona. Tinha
momentos que eu me impulsionava sobre a cama, fazendo com que as molas
me levassem às alturas (assim como um pula pula para crianças), somente para
comemorar aquele convite de emprego. Noutros, eu imaginava já assumindo a
função de qualquer coisa, sentado ao lado de um birô, ordenando alguém, que
faça isso, espana os birôs, dê uma geral no piso..., afinal, era o meu
primeiro emprego. Talvez, um auxiliar do sargento da polícia Militar de Mossoró,
um encarregado de setor pessoal, ou extraindo notas ficais, prestando contas
aos clientes da empresa pelos seus serviços prestados, ou ainda, quem sabe lá,
um substituto de gerente na ausência do sargento. Nossa! Que felicidade!
Neste dia,
mesmo tendo passado quase a noite toda em claro, acordei cedo. Fui ao banho,
depois ao vestuário, vesti-me, calcei os pisantes meios surrados e fiquei
aguardando a chegada do “Chico Mendes”, que com ele, eu iria caminhar até ao
centro da cidade, lá na Bezerra Mendes, para o emprego que na noite anterior,
quase não me deixou dormir.
Mais ou menos
8:00 horas da manhã, “Chico Mendes” e eu estávamos diante do sargento da
polícia Militar. Encaminhado por um vigilante à sala do sargento, fomos
recebidos por ele com um riso..., aparentemente, mas ele estava apenas
demonstrando-nos falsa simpatia. Em seguida, ordenou que nós sentássemos, mas
agora no meio de um sorriso, levando todo o seu corpo em movimento e afogado
neste sorriso e com o diploma em mãos. Em seguida, perguntou-me:
- Você é o
José Mendes Pereira?
- Sou, sim
senhor! – Respondi-lhe ofegante.
- Quantos anos
tem?
- 16 anos.
E estirando a
mão direita em minha direção, aguardando a minha mão para um aperto das nossas mãos para me parabenizar, e ao
apertar a minha mão, disse:
- Parabéns! É a primeira vez que tenho conhecimento que um adolescente com 16 anos já é
diretor de uma escola..., verdade?
- Não senhor,
sargento..., eu não sou diretor de escola.
- E porque
você assinou um diploma que nele afirma que o diretor da escola citada é você?
Calei-me. Não
tinha mais como me justificar diante de meu erro e diante de uma autoridade militar.
- Olha, eu vou
empregar o seu irmão porque me parece ser um homem de responsabilidade. Mas
tanto você, como ele, merecem serem presos. Ele queria um diploma do primário, e
como você não tinha como adquiri-lo, falsificou-o. Mesmo sabendo que era
falsificado, o seu irmão aceitou o diploma.
Só sei que deu
tudo certo, menos o que eu pensava que a convocação do sargento era um emprego
para mim. Meu irmão foi empregado lá durante muitos anos, e até era amigo do
sargento. Saiu da empresa porque quis ser marceneiro, que sempre foi um dos
seus desejos.
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