Por José Mendes Pereira - (Crônica 54)
Dona Terezinha esposa de Fransquinho Vasconcelos, Vasconcelos Neto e Sílvia --1956.
Era um homem
de admirável simplicidade. Educado, calmo, que atendia as pessoas com um
simples gesto de boas vindas. Filho de uma grande personalidade de Apodi, mas
radicado em Mossoró, o escritor, poeta e jornalista José Martins de
Vasconcelos.
Lembro-me bem
onde funcionava a sua primeira Livraria e Tipografia, ao lado do Banco do
Brasil, próxima ao antigo Cine Cid, na Rua Coronel Vicente Saboia, e
posteriormente na mesma rua, construiu um prédio, e lá se estabeleceu até os
seus últimos dias de vida.
Nunca foi
homem de luxo, apenas organizava o seu comércio: um biroôpequeninho feito de
pereiro e envernizado, onde guardava todos os seus documentos, notas fiscais,
talões...
Jornalista José Martins de Vasconcelos
Nos anos
sessenta e setenta eu era tipógrafo na Editora Comercial S/A., e através de
contatos gráficos, fiz amizade a ele. Deixando a vida gráfica, as nossas
amizades cresceram mais ainda, quando fui prestar os meus serviços públicos ao
Estado-RN, numa escola, cujo patrono é o seu pai, José Martins de Vasconcelos.
Ele querendo
que o nome do seu velho pai fosse zelado e seguisse mais adiante, fazia
panfletos para serem entregues na escola, todos levados e distribuídos aos
alunos por mim.
A história que
segue não foi ele quem me contou, mas segundo os gráficos mais antigos, já
falavam o que havia ocorrido na sua tipografia.
Fransquinho
Vasconcelos tinha um dos seus empregados que muito o paparicava. Por mais que
existissem homens honestos, para ele, não serviam para lavar os pés do seu
grande e honesto profissional.
No final de
semana, sábado à tarde, era do costume o empregado fazer bicos (horas extras),
em sua tipografia. Enquanto Fransquinho Vasconcelos organizava os seus
documentos de trabalho, o operário permanecia lá dentro da oficina, fazendo as
suas impressões tipográficas, isto no sentido de adiantar os pedidos para a
semana entrante.
Mas geralmente
aos sábados, desaparecia dinheiro da sua gaveta, e, como tendo total confiança
no seu empregado, jamais imaginou que poderia ser ele que o roubava. E os
desaparecimentos de dinheiro continuavam sem ter a certeza quem seria o
larápio.
Francisco Vasconcelos
Já cansado de
ser assaltado, idealizou uma simples e bem pensada ideia, para descobrir quem
seria o ladrão que o roubava. Comprou um chocalho, não tão grande, mas médio, e
montou-o sob a gaveta onde ele guardava os seus valores.
Nessa tarde,
depois de pronta a armadilha, foi lá dentro da oficina, e disse ao empregado
que iria dar um dedinho de conversa com os amigos, lá na praça da Catedral.
Geralmente, lá estavam: Jorge Pinto, proprietário do Cine Pax, Seu Medeiros, da
Casa Medeiros, Seu Ferreira, da Casa Ferreira, Odílio Pinto, seu contador, e
outros e outros comerciantes se divertiam por lá.
Mas
Fransquinho Vasconcelos em vez de ir à viagem escondeu-se por trás de um monte
de caixas com livros que iria ser colocado nas prateleiras, e lá ficou
observando quem iria lhe roubar.
Como o
empregado não imaginava que o velho patrão tinha preparado uma armadilha para
pegar o ladrão do seu dinheiro, parou a máquina impressora, foi até a sala, em seguida
dirigiu-se até a porta que saía para rua, para ter certeza que Fransquinho
Vasconcelos tinha ido a dita viagem, e vendo que o patrão havia ido mesmo,
voltou, abriu a gaveta, assustando-se com o trim-trim do chocalho.
Desconfiado,
em vez de retornar à oficina, e sentindo vergonha da sua própria fraqueza, e
não imaginava que o patrão se escondia por trás das caixas, foi tentar
disfarçar o seu erro entre elas. Mas se enganara! Quando tentava se ocultar por
ali, viu o patrão banhado de tristeza, por saber que quem o roubava era o seu
homem de confiança.
Ao vê-lo ali
escondido, disse-lhe:
- Que vergonha, seu Fransquinho! Que vergonha!
- Muito mais
vergonha sinto eu - dizia Fransquinho Vasconcelos trêmulo e sentindo piedade
do miserável, - pois jamais eu imaginei que você fosse capaz disso. Mas não vou
te demitir. Você vai continuar trabalhando nesta gráfica. Se eu te demitir,
aqueles teus filhos irão todos morrerem de fome, e eles não têm culpa da sua
fraqueza. Leve sempre para sua casa coisas adquiridas através do teu suor, para
ensinar a teus filhos o caminho da vida sem decepções. Se você continuar assim,
estará ensinando aos teus próprios filhos a serem desonestos, e daí a pouco
estarás comendo do roubo que teus filhos furtaram. E o fim será cadeia para
pai, filhos e mais nada.
Até onde eu
sei o homem não quis mais ficar trabalhando na empresa, abalando-se de Mossoró
com toda sua família. Nunca mais foi visto nesta cidade.
Minhas simples
histórias
Se você não
gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar outro.
http://josemendeshistoriador.blogspot.com
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