Por José Mendes Pereira
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Por José Mendes Pereira
Meus amigos leitores, não posso negar ou querer esconder o que o meu amigo Balão, "falou muito", uma certa parte do que disse, enfeitou as suas respostas mais do que devia.
Como cangaceiro que era, ele é um dos que eu muito admiro a sua coragem, quando entrou para viver uma vida desumana no cangaço em 1929, porque mataram o seu pai e um irmão, e lá ficou na aba do chapéu do capitão LAMPIÃO, até 28 de julho de 1938, quando viu de perto o chefe ser morto.
Mas o meu amigo Balão falou muito, e quase sem nexo, o que afirmou a alguns repórteres e jornalistas. Mas vale lembrar que, mesmo ele tendo enfeitado as suas respostas, é um cangaceiro que eu mais admiro do cangaço.
Certifique-se clicando neste link abaixo, e veja que eu não estou inventando nada. Caso ele não funcione, leve-o ao google.
http://lampiaoaceso.blogspot.com/2009/08/cangaceiro-balao-sensacional-entrevista.html
Nada contra à Revista Realidade e nem contra aos jornalistas que entrevistaram o meu amigo ex cangaceiro Balão. A minha discórdia é sobre o seu comportamento de entrevistado, que deveria ter falado menos sobre o que viu na madrugada de 28 de julho de 1938, lá na Grota do Angico, em Porto da Folha, que atualmente é Poço Redondo. Mas eu tenho respeito ao cangaceiro.
VAMOS LÁ:
Em 1973, o cangaceiro Balão cedeu entrevista à Revista Realidade, e para mim, não sei se estou certo, Balão foi o cangaceiro que mais fantasiou as suas respostas. É claro que cada um deles queria levar a sardinha para o seu prato, mas não era necessário tanta fantasia.
DIZ O CANGACEIRO BALÃO:
“- Estávamos acampados perto do Rio São Francisco. Lampião acordou às 5 horas da manhã e mandou um dos homens reunir o grupo para fazer o ofício de Nossa Senhora. Enquanto lia a missa em voz alta, todos nós ficamos ajoelhados ao lado das barracas, respondendo amém e batendo no peito na hora do Senhor Deus".
Continua: "- Terminado o ofício, Lampião mandou Amoroso buscar água para o café. Mas quando ele se abaixou no córrego, veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas pedras, a 20 metros da barraca de Lampião. Pedro de Cândido, um dos nossos, havia nos traído, e acho que tinha dado ao sargento Zé Procópio até a posição das camas."
"- Numa rajada de metralhadora serrou a ponta da minha barraca..."
E continua o cangaceiro Balão: "- Meu companheiro Mergulhão, levantou-se de um salto, mas caiu partido ao meio por nova rajada. Eu permaneci deitado, e com jeito, coloquei o bornal de balas no ombro direito, o sobressalente no esquerdo, calcei uma alpargata. A do pé esquerdo não quis entrar, e eu a prendi também no ombro. Quando levantei, vi um soldado batendo com o fuzil na cabeça de Mergulhão. De repente ele estava com o cano de sua arma encostada na minha perna, e eu apontava meu mosquetão contra sua barriga. Atiramos. Caímos os dois e fomos formar uma cruz junto ao corpo de Mergulhão. Levantei-me devagar. O soldado estava morto e minha perna não fora quebrada.
"-Então vi Lampião caído de costas, com uma bala na testa..."
Continua Balão: "- Moeda, Tempo Duro (este não aparece na lista oficial dos abatidos, e nem tão pouco na lista de Alcino Alves Costa); Quinta-feira, todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos. Nove homens e duas mulheres. Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de algumas pedras. Mas foi encontrada e degolada viva. Não havia tempo para chorar. As balas batiam nas pedras soltando faíscas e lascas. Ouviam-se os gritos por toda parte. Um inferno. Luiz Pedro ainda gritou: - Vamos pegar o dinheiro e o ouro na barraca de Lampião. Não conseguiu. Caiu atingido por uma rajada".
As duas entrevistas destes dois cangaceiros Balão e Vila Nova, cedidas ao Jornal A Noite, e à Revista Realidade, ficam meio confusas, que cabe aqui esta pergunta?
O cangaceiro Luís Pedro carregava dois mosquetões no momento em que tentava fugir do cerco policial?
O cangaceiro Vila Nova disse que pegou o mosquetão do Luís Pedro e deu no pé. O Balão também afirma a mesma coisa.
Também as duas afirmativas deles deixam a gente novamente confuso sobre a morte de Luís Pedro. Por quê?
O volante Mané Veio disse aos pesquisadores e repórteres que foi ele quem assassinou o cangaceiro Luís Pedro, e pelo que ele diz, levou um bom tempo para matá-lo, saiu perseguindo, perseguindo entre pedras e ele tentando salvar a sua vida, mas, finalmente o assassinou.
Sobre a morte do cangaceiro Luís Pedro você poderá ler em ”Lampião Além da Versão Mentiras e Mistério de Angico”, escrito por Alcino Alves Costa.
Continua: "- Uma vez me perdi do bando e fiquei um ano nas caatingas de Bebedouro, Jeremoabo, Cipó de Leite, sem ver uma alma viva. No começo eu estava com ANJO ROQUE e sua mulher".
Continua o depoente: "- Corri até ele, peguei seu mosquetão e com Zé Sereno conseguimos furar o cerco. Tive a impressão de que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim foi Deus".
Aqui estão as minhas inquietações, assim como dizia o decano escritor e pesquisador do cangaço Alcino Alves Costa:
1 - Será mesmo que depois da missa ele voltou a se deitar?
2 - Como foi que ele viu que a bala que atingiu o rei foi mesmo no meio da testa, quando ele mesmo diz que o capitão Lampião estava de costas, isto é com a cara no chão?
3 - Como foi que no meio de um cerrado tiroteio ele teve coragem de ir pegar o mosquetão de Luiz Pedro que já estava morto?
4 - Como foi que ainda deu tempo para ele contar os mortos? Pois no meio de um tiroteio, qualquer ser humano não espera por nada, muito menos para contar quem lá morreu.
5 - Como foi que ainda deu tempo para ele calçar as alpargatas?
6 - Por que Balão caiu quando ele e o policial ambos atiraram, se ele não sofreu nenhum impacto para ser derrubado?
7 - Balão disse que após o massacre ao grupo de cangaceiros passou um ano nas caatingas sem ver um pé de pessoa, comendo carne de bode. Onde ele arranjava fósforos e vasilhas para fazer fogo e cozinhar a carne?
O amigo Balão fantasiou algumas respostas. Muitas verdades, é claro, mas outras, fantasiadas. Gostaria muito que as suas respostas fossem verdades. Mas pelo que ele disse, não há como eu acreditar em todas. Mas mesmo assim, continuo o admirando como cangaceiro.
Este artigo foi também publicado no blog Cariri Cangaço, com o título:
Um pouco mais Angico, só para não perder o ritmo.... Por: Mendes e Mendes
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